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Tsunamis e terremotos são enigmas para o mercado financeiro

Tragédia não é um caso “Cisne Negro” e efeitos devem ser avaliados com cautela

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 15 de março de 2011 às 18h28.

São Paulo – Não é fácil cravar os efeitos que o terremoto seguido de um tsunami devastador poderão ter sobre a economia japonesa, global e para os mercados financeiros. E tentar fazê-lo, como alguns economistas têm sugerido por aí, pode ser uma tremenda bobagem.

Isso acontece porque desastres naturais de grande extensão são difíceis de abalisar e as informações sobre vítimas, danos e conseqüências sobre a infraestrutura da região afetada são desencontradas e mudam muito nos dias que seguem à tragédia. No caso do Japão a história não é diferente. Até hoje, cinco dias após o terremoto ainda é incerto o número de vítimas. E há ainda a ameaça de um desastre nuclear.

Andrew B. Busch, estrategista da BMO Capital Markets, avalia em seu livro “World Event Trading” que os terremotos e tsunamis são “um enigma no universo dos desastres financeiros”. “Eles ocorrem sem avisos e surpreendem até os modelos de projeções mais sofisticados. Para o investidor, esses são eventos que forçam a análise e entendimento do ocorrido em apenas poucos minutos”, mostra um trecho do livro.

Henry Hazlitt, economista americano, lembra que os esforços de reconstrução não criam riqueza, apenas refazem a perdida com a tragédia (Mises Institute/ Wikimedia Commons)

Muitos citaram o terremoto de Kobe em 1995, também no Japão, como um exemplo do que poderia acontecer com o iene depois da tragédia. “Enquanto o iene se fortaleceu durantes os quatro meses após o ocorrido, as razões não estavam essencialmente relacionadas à repatriação e mais influenciadas pela sinalização de que o BC americano iria parar de subir os juros e também um corte surpresa no juro”, diz.

Ou seja, não se sabe exatamente o que pode acontecer. Alguns economistas sugeriram que os esforços de reconstrução das áreas atingidas poderiam reativar a já combalida economia japonesa que sofre há anos com a deflação e a recessão. É o que Brian S.Wesbury e Robert Stein, da First Trust Advisors, chamam de “falácia da janela quebrada”, em referência ao livro “Economics in one Lesson” do economista americano Henry Hazlitt.

O exemplo de Hazlitt descreve uma situação na qual um vândalo joga um tijolo sobre uma janela de vidro de uma padaria. O padeiro, em vão, tenta capturar o garoto. Mas ele corre e não é preso. Enquanto isso, as pessoas se aproximam e observam o cenário dos cacos de vidros em meio aos pães feitos naquele dia.

Depois de um tempo, a multidão sente a necessidade de uma reflexão filosófica. E muitos dos presentes estão certos de lembrar aos outros e ao padeiro que, apesar de tudo, há sempre o lado bom do azar. "Irá incentivar os negócios de algum vidraceiro”, escreve Hazlitt. Afinal, se nenhum vidro fosse quebrado, do que viveriam os vidraceiros? O padeiro gastará, por exemplo, 50 dólares para consertar o estrago. O vidraceiro, então, usará os 50 dólares em outro lugar. Assim a economia gira e sustenta outros empresários.

“Agora vamos olhar pelo outro lado. As pessoas estão certas na primeira conclusão. O pequeno ato de vandalismo irá, em primeira instância, significar mais negócios para algum vidraceiro. O vidraceiro não será mais infeliz ao saber do incidente do que um agente funerário saber sobre uma morte”. Hazlitt, contudo, lembra que o padeiro não poderá mais comprar o novo paletó que planejara. Desta forma, ao contrário do novo terno, o padeiro tem agora apenas um vidro novo.


A analogia pode ser feita com os esforços de reconstrução de um país. “Em outras palavras, apesar de a reconstrução parecer criar uma nova atividade econômica, consertar as coisas que foram destruídas na verdade rouba ao longo do tempo os benefícios do crescimento. Reparar não cria riqueza, apenas repõe a riqueza antiga”, lembram Wesbury e Stein.

Ambos ressaltam que muitos investidores irão se afastar do risco, mas que o real risco é assumir que o mundo está fora de controle e os “cisnes negros” estão se proliferando. “Esses temores tornarão os mercados baratos para os que conseguem ver as coisas em perspectiva”, afirmam. Para eles, terremotos e tsunamis não podem ser considerados “cisnes negros”. “Todos sabemos que eles irão acontecer e sabemos que acumular conhecimento e planejamento minimiza os estragos”, pontuam.

O índice Nikkei 225, o principal da bolsa de Tóquio, recuou 10,55% nesta terça-feira. Foi a maior queda diária desde a falência do banco americano Lehman Brothers que deflagrou o pânico financeiro nas bolsas ao redor do mundo em outubro de 2008. As ações da Tokyio Eletric Power, maior geradora de energia da Ásia, despencaram 24,68% após a empresa confirmar a terceira explosão na usina nuclear em Fukushima.

Mohamed El-Erian, CEO da Pimco, maior gestora de recursos em títulos corporativos e públicos do mundo, ainda vê grandes incertezas sobre o efeito econômico principalmente com os riscos ligados a um possível desastre nuclear. Apesar disso, El-Erian avalia que as perspectivas econômicas serão dominadas por cinco fatores:

1 - A taxa de crescimento econômico do Japão irá cair logo após a tragédia antes de acelerar rapidamente devido aos esforços de reconstrução.

2 - Problemas na cadeia de fornecimento e a perda de estoques causarão escassez e a inflação poderá aumentar temporariamente a partir de níveis muito baixos.

3 - O déficit fiscal e a dívida pública irão crescer significativamente devido às perdas das receitas e com os gastos de emergência.

4 - O Banco Central irá flexibilizar a política monetária que, devido ao juro perto do zero, irá envolver a disponibilidade extraordinária de crédito e de canais de liquidez.

5 - O país irá receber recursos do exterior, incluindo a repatriação de fundos da população japonesa que estavam em ativos no exterior.

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