Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander: protecionismo dos EUA “terá que ser mais sofisticado (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 8 de novembro de 2024 às 15h35.
Última atualização em 8 de novembro de 2024 às 16h46.
Donald Trump colocou a China como um dos principais alvos de sua campanha, prometendo impor tarifas de 60% sobre produtos importados do país. No entanto, Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, acredita que as medidas dos Estados Unidos não terão impactos significativos no crescimento chinês.
“Donald Trump quer dobrar a aposta de aumento de tarifas, o que tende a valorizar o dólar e impactar países emergentes. Mas a guerra comercial com a China está muito centrada na questão da autonomia tecnológica, e a China tem áreas nas quais está se destacando, como eletrificação veicular e transição energética”, disse Vescovi em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da Exame.
Vescovi observa que a China ainda tem espaço para reduzir as exportações para os Estados Unidos, mas esse espaço é consideravelmente menor em relação ao primeiro mandato de Trump. “As exportações de produtos industrializados mais comoditizados para os Estados Unidos agora vêm de outros países do Leste Asiático e do México”, explica.
Para a economista, que já foi secretária executiva do Ministério da Fazenda e secretária do Tesouro, esse protecionismo dos EUA “terá que ser mais sofisticado”.
Por outro lado, Vescovi aponta que a China enfrenta um esgotamento do seu modelo anterior de crescimento e precisará cada vez mais se voltar ao consumo interno. “A China está mudando sua orientação econômica e tende a crescer menos, até porque a população está envelhecendo rapidamente.”
Nesse novo cenário, segundo a economista, o crescimento da China deve ficar próximo de 4%, abaixo da meta atual de 5%. “Não será de uma hora para outra. A China está implementando estímulos para resolver os problemas fiscais das províncias, que socorreram agentes do setor imobiliário. Portanto, há uma digestão de problemas sendo tratada pelo governo, que tenta postergar a desaceleração de longo prazo. Mas é apenas um adiamento”, afirma.
Vescovi vê essa desaceleração como um sinal de maturidade da economia chinesa e acredita que a diferença em relação ao PIB americano continuará diminuindo. Contudo, ela descarta a possibilidade de a China ultrapassar economicamente os Estados Unidos.
“Os Estados Unidos e a China são duas economias maduras que, neste momento, estão rediscutindo seus modelos de crescimento. Porém, ainda há polos de dinamismo econômico onde há capacidade ociosa e ganhos de produtividade a serem explorados”, destaca.
Segundo a economista, o maior potencial está na Índia. “Eu diria que é um país que ainda pode se aproximar dessas duas economias [China e Estados Unidos]. Com um bilhão e meio de habitantes e um crescimento próximo a 7%, a Índia tende a ganhar destaque. Muitos investidores já estão olhando para a Índia de uma maneira diferente.”