Casa de câmbio: moedas dos países em desenvolvimento caíram em média 24% frente ao dólar em 2011 (Vanderlei Almeida/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2015 às 20h51.
Parece que agora não vale a pena travar guerras cambiais.
Embora ao longo da história a redução de taxas de câmbio tenha ajudado algumas vezes a alimentar o crescimento econômico por abaratar as exportações dos países, está sendo difícil encontrar os benefícios.
Em nenhum outro lugar isso fica mais evidente do que nos países em desenvolvimento, onde as moedas caíram em média 24 por cento frente ao dólar em 2011.
Apesar disso, a taxa anual de crescimento das exportações desacelerou para 4 por cento nos últimos quatro anos, frente a 8 por cento durante os dez anos anteriores, segundo a CPB Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis.
No Brasil, o desmoronamento de 48 por cento do real desde 2011 não ajudou muito a revigorar a economia que está prestes a registrar o pior desempenho em 25 anos.
“A relação entre o crescimento mundial e o comércio está se desfazendo de tal modo que não podemos aplicar a relação anterior para prever o futuro”, disse Stephen Jen, ex-economista do FMI e um dos fundadores da SLJ Macro Partners LLP em Londres, em entrevista por telefone. “Agora é necessário que haja uma desvalorização maior para obter o mesmo benefício”.
Os analistas apontam para dois motivos fundamentais para a mudança: o efeito decrescente de alguns antigos fatores exclusivos que encorajavam o comércio anos atrás, como as campanhas dos países para reduzir taxas; e as mudanças na estratégia de crescimento da China.
À media que o governo se concentra mais na economia doméstica e em promover o crescimento no setor de serviços, a demanda da China por importações, embora continue crescendo, está desacelerando.
Esforços
No entanto, está aumentando a especulação de que os países do mundo estejam redobrando esforços para desvalorizar suas taxas de câmbio, tendência apelidada “guerra cambial” pelo então ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, em 2010. Mais de 20 países reduziram as taxas de juros ou tomaram outras medidas para relaxar a política monetária – medidas que podem diminuir a demanda por suas moedas – desde o começo do ano.
As 31 principais moedas do mundo se desvalorizaram frente ao dólar desde o começo de 2014, e dez delas caíram mais de 20 por cento, entre elas o rublo, a coroa norueguesa e o euro. É claro que nem todos os países estão tentando enfraquecer suas moedas. Aliás, o rublo, a coroa e até mesmo o real despencaram em parte devido à queda dos preços de suas exportações de commodities.
Estudo do FMI
Recentemente, o FMI fez um estudo que ilustra por que a desvalorização das moedas está ajudando menos os países. Entre 2008 e 2013, a cada aumento de 1 por cento na produção econômica mundial, o comércio subiu 0,7 por cento. A taxa se compara com 1,5 por cento nos sete anos até 2007 e com 2,2 por cento entre 1986 e 2000, segundo o FMI.
Embora seja mais difícil identificar os benefícios da desvalorização de uma moeda, isso não significa que eles tenham desaparecido completamente.
Uma forma rápida de comprová-los é analisar o modo em que os investidores aumentaram o preço das ações europeias com a demanda depois que o euro despencou para o menor valor em 12 anos frente ao dólar, um sinal de que eles preveem que alguns ganhos econômicos acontecerão. O índice Stoxx Europe 600 cresceu 16 por cento neste ano, frente a um aumento de 0,1 por cento na referência do Standard Poor’ 500.
Contudo, o enfraquecimento de uma moeda não é uma panaceia. A taxa de câmbio do Brasil, por exemplo, está afundando, mas não ajudou a maior economia da América Latina. Em uma pesquisa feita pelo Banco Central na semana passada, os analistas projetaram que o PIB do país se contrairá 0,8 por cento neste ano, a pior recessão desde 1990. Em vez de ajudar, a desvalorização da moeda impulsionou a inflação anual para 7,7 por cento, a maior taxa em uma década, em fevereiro, o que levou o Banco Central a aumentar as taxas apesar de a economia estar cambaleando.
“A depreciação cambial é a saída mais fácil, pelo menos no curto prazo, mas causará consequências graves se não for acompanhada de reformas estruturais”, disse Shweta Singh, economista da Lombard Street Research em Londres, em entrevista por telefone.