Commodities: são sensíveis ao nível de demanda e, portanto, podem subir se a recessão acabar sendo menos profunda do que se temia (JC Patricio/GETTY IMAGES //Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 8 de julho de 2022 às 10h00.
A recente queda nos preços das commodities não deveria dar muito consolo ao Fed. As crises desencadeadas por matérias-primas são frequentemente seguidas por preços mais altos após uma liquidação inicial.
Até março deste ano, os preços das commodities estavam em disparada, depois se estabilizaram, e em um mês caíram mais de 20% antes de ensaiarem uma recuperação na quinta-feira. A liquidação foi ampla, com praticamente todas as commodities em baixa, exceto suínos e gado.
Os preços das commodities dispararam durante a pandemia, em meio à escassez de mão de obra, gastos governamentais para evitar o colapso econômico e anos de política monetária frouxa. Isso foi um fator-chave para a inflação estruturalmente elevada que assola os EUA e boa parte do mundo.
A desaceleração que estamos vendo atualmente nos EUA é sobretudo o resultado dessa inflação alta e generalizada, que causa destruição da demanda e exige juros muito mais elevados. As expectativas de preços mais altos das pequenas empresas (que empregam quase metade da força de trabalho dos EUA) indicam que a inflação vem espremendo o crescimento, com mais risco de piora pela frente.
Pode-se, portanto, esperar que os formuladores de política monetária do Fed vejam o tombo recente das commodities como bem-vindo. Mas eles devem ter cuidado com o que desejam. Em crises anteriores, quando o aumento dos preços das commodities levou a uma recessão, elas na verdade subiram mais ainda após uma liquidação inicial.
Olhando para a média das recessões desencadeadas por commodities em 1973, 1980 e 1990, elas sofreram uma liquidação antes do início da recessão. Mas, ironicamente, isso por si só aliviou o choque e permitiu que as commodities se recuperassem durante a recessão, muitas vezes a níveis ainda mais altos do que antes.
As commodities são sensíveis ao nível de demanda e, portanto, podem subir se a recessão acabar sendo menos profunda do que se temia (e também para compensar a liquidação anterior).
Se, além disso, você considerar a escassez de oferta de commodities e a atual inelasticidade do investimento em nova oferta em relação aos preços, então a perspectiva de um declínio sustentado das commodities se torna ainda menos provável, com ou sem recessão.
A resposta de oferta das empresas de energia dos EUA continua praticamente inexistente, pois a volatilidade dos preços e as condições de crédito mais apertadas desencorajam o investimento na produção, e há uma preferência persistente por devolver dinheiro aos acionistas através de recompras e dividendos.
O risco principal é que o Fed use um declínio nos preços das commodities como gatilho para aliviar o aperto. Como mostrou a recessão de 1973, isso seria um grande erro: o Fed afrouxou prematuramente, lançando as sementes para a inflação ainda pior da segunda metade da década. E todos nós sabemos como isso terminou.