Títulos da Gol dispararam 9,7 por cento desde a emissão em julho (Divulgação/EXAME)
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2011 às 06h05.
Nova York - Os títulos corporativos brasileiros mais arriscados estão com desempenho superior ao de papéis com melhor classificação de risco. A inadimplência no menor nível em dois anos e os juros próximos de zero nos Estados Unidos impulsionam uma busca global por rendimento.
Os bônus em dólar vendidos por empresas com classificação pelo menos quatro níveis inferior a grau de investimento avançaram 4,2 por cento desde janeiro de 2010. É quase o triplo do ganho de 1,5 por cento registrado em instrumentos mais seguros, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Títulos com nota de risco B vendidos desde o começo do ano passado rendem 2,8 pontos percentuais a mais do que a dívida corporativa brasileira em geral e 1,34 ponto percentual a mais do que títulos dos Estados Unidos com classificação semelhante.
Especulações de que países desenvolvidos, incluindo EUA e Japão, manterão seus custos de empréstimo próximos de zero para impulsionar a recuperação de suas economias darão impulso à dívida de menor classificação de empresas de mercados emergentes este ano, de acordo com Aziz Sunderji, estrategista de crédito para América Latina do Barclays Plc. A taxa de inadimplência ao longo de 12 meses calculada pela Moody’s Investors Service para os chamados junk bonds, ou seja, dívida com nota inferior a Baa3 pela agência de classificação e inferior a BBB- pela Standard & Poor’s, vai cair para 1,9 por cento este ano, o menor patamar desde abril de 2008.
“A liquidez abundante devido aos juros baixos em países desenvolvidos e a demanda por rendimento, assim como investidores de varejo se tornando receptivos à dívida de mercados emergentes, são fatores que continuarão a impulsionar a dívida corporativa de alto rendimento este ano”, disse Sunderji numa entrevista por telefone de Nova York.
Prêmio de risco
Títulos vendidos pela Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA, segunda maior companhia aérea brasileira em participação de mercado, dispararam 9,7 por cento desde a emissão em julho. Notas da Marfrig Alimentos SA subiram 6,3 por cento desde que o segundo maior frigorífico da América Latina emitiu os papéis em abril.
O estreitamento do prêmio de risco nos títulos do governo brasileiro em relação aos papéis do Tesouro americano está levando investidores a comprar dívida corporativa do País de pior classificação para elevar seus ganhos, de acordo com Luz Padilla, que ajuda a administrar cerca de US$ 7,5 bilhões na Doubleline Capital LP em Los Angeles. Segundo a gestora, os títulos corporativos brasileiros representam aproximadamente 13 por cento do total que ela administra.
O rendimento extra que investidores exigem para deter notas do governo brasileiro em vez de papéis dos EUA encolheu de 251 pontos-base em junho para 166 pontos-base, ou 1,66 ponto percentual, ontem, de acordo com o JPMorgan Chase & Co. A dívida vendida pelas empresas brasileiras rende 262 pontos-base a mais do que os papéis do Tesouro americano
“O setor corporativo oferece potencial de retorno muito atraente em 2011, mais do que a dívida externa soberana”, disse Padilla numa entrevista por telefone. “Há uma necessidade de produto no momento, e essa necessidade de produto leva gente a assumir riscos maiores”