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Títulos da Lupatech perdem com demora em concluir venda de ações

Os bônus perpétuos da Lupatech caíram US$ 0,18 ontem, para US$ 0,53, menor nível desde 7 de dezembro

Investidores estão perdendo a confiança na capacidade da Lupatech de sobreviver após registrar prejuízos (ENEIDA SERRANO)

Investidores estão perdendo a confiança na capacidade da Lupatech de sobreviver após registrar prejuízos (ENEIDA SERRANO)

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Da Redação

Publicado em 5 de abril de 2012 às 09h14.

São Paulo - Os títulos em dólar da Lupatech estão no menor valor em quase quatro meses depois que a maior fornecedora de serviços para o setor de petróleo do País não conseguiu cumprir o prazo de vender até março parte de suas ações a investidores estatais para evitar um calote.

Os bônus perpétuos da Lupatech caíram US$ 0,18 ontem, para US$ 0,53, menor nível desde 7 de dezembro, levando a taxa dos papéis a terem uma alta de 485 pontos-base, para 18,78 por cento, segundo o Trace, sistema de divulgação de preços de títulos da Autoridade Reguladora da Indústria Financeira dos Estados Unidos. As taxas de títulos corporativos similares da América Latina tiveram queda de seis pontos-base ontem, para 9,45 por cento, de acordo com índices do Credit Suisse Group AG.

Investidores estão perdendo a confiança na capacidade da Lupatech de sobreviver após a companhia, sediada em Caxias do Sul, não conseguiu registrou prejuízos e teve dois contratos com a Petróleo Brasileiro SA cancelados. A Lupatech disse em 17 de fevereiro que iria vender em três semanas R$ 300 milhões de ações ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e para o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, Petros, respectivamente segundo e terceiro maiores acionistas da empresa.

“Se você olha para os resultados, a empresa está quebrada”, disse Jansen Moura, analista de dívida corporativa da BCP Securities, em entrevista por telefone do Rio de Janeiro. “Sem o apoio do BNDES, esta empresa já é passado.” A Lupatech não quis fazer comentários.


Os títulos da Lupatech pagam 1.413 pontos-base, ou 14,13 pontos percentuais, a mais do que a dívida do governo brasileiro com vencimento em 2041, segundo dados compilados pela Bloomberg. A nota de crédito Caa2 da empresa na escala da Moody’s Investors Service fica oito níveis abaixo do grau de investimento e nove níveis abaixo da nota soberana.

Contratos cancelados

A empresa disse em comunicado ao mercado em 2 de abril que teve prejuízo de R$ 241 milhões em 2011, o triplo da perda do ano anterior, e também que cancelou contratos de serviços em alto-mar com a Petrobras, seu principal cliente, no valor de US$ 779 milhões. A teleconferência sobre o balanço foi reagendada de 3 para 9 de abril.
Em 29 de dezembro, a companhia informou ter assinado um memorando de entendimento com a BNDESPar, o braço de investimentos do BNDES, a Petros e a GP Investimentos para aumentar seu capital em até R$ 700 milhões por meio de uma venda de ações.
Como parte da operação, a Lupatech receberia R$ 50 milhões em troca da compra da perfuradora de petróleo San Antonio Brasil, sediada em São Paulo e pertencente à GP Investimentos. Os outros R$ 350 milhões dependeriam da participação de acionistas minoritários.

Pagamento de juros

Em e-mail enviado ontem em resposta a perguntas da reportagem, o BNDES disse que ainda planeja participar da operação com ações da Lupatech sob os termos anunciados em dezembro. A Petros não respondeu a e-mails e telefonemas solicitando comentário. Em nota enviada por e-mail, a GP Investimentos, não quis fazer comentários.

A Petrobras disse em comunicado por e-mail que não vai cobrar multa da Lupatech pelo cancelamento dos contratos.

A Lupatech, que tinha em caixa R$ 24 milhões no fim de 2011 e R$ 1,3 bilhão em dívidas, precisa fazer um pagamento de juros de R$ 26,9 milhões em 15 de abril referente a debêntures, disse Filippe Goossens, analista da Moody’s.

A Lupatech “provavelmente está tentando finalizar a recapitalização com BNDES e Petros para ter o dinheiro na conta até a semana que vem” para executar o pagamento, disse Goossens em entrevista por telefone de São Paulo. “Se não for o caso, haverá um calote.”


O caso mais recente de calote no Brasil foi o da Centrais Elétricas do Pará SA, que entrou com pedido de recuperação judicial em 28 de fevereiro.

Para Erick Hood, analista da SLW Corretora, o governo vai dar apoio financeiro à Lupatech.

‘Intervenção’

“Vai haver uma intervenção”, disse Hood em entrevista por telefone de São Paulo. “O governo precisa de produção nacional na cadeia de fornecedores do petróleo.”

A Lupatech fez 17 aquisições entre 2007 e 2010, em antecipação a novos negócios que surgiriam com o desenvolvimento dos campos do pré-sal, que incluem a maior descoberta de petróleo no Ocidente em cerca de três décadas.

O Royal Lankhorst Euronete Group, sediado em Sneek, na Holanda, conseguiu um contrato da Petrobras no valor de US$ 80 milhões no ano passado para fornecer cordas de ancoragem e iniciou a produção em uma fábrica no Brasil este ano, de acordo com o presidente José Luis Gramaxo.

“É claro que isso vai criar alguns problemas para nossos concorrentes, a Lupatech”, disse Gramaxo em entrevista por telefone do Rio de Janeiro. “É este o nosso objetivo, tirar fatia de mercado da Lupatech.”

Os títulos da empresa brasileira chegaram a disparar em 9 de março, após terem atingido uma minima em novembro, depois do anúncio da recapitalização.

A falta da venda de ações “só acrescenta volatilidade e leva alguns detentores de títulos a desmontar suas posições e a realizar o lucro que tiveram no fim do ano passado”, disse Moura, da BCP.

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