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Títulos da Lupatech despencam com aumento de apostas em calote

Queda ocorre com apostas de investidores de que a empresa está perto de um calote

Funcionários da Lupatech, produtora de equipamentos industriais para o setor de óleo e gás (Germano Lüders/EXAME)

Funcionários da Lupatech, produtora de equipamentos industriais para o setor de óleo e gás (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2011 às 08h31.

Rio de Janeiro - Os títulos da Lupatech SA estão caindo em meio às apostas de investidores de que a empresa está perto de um calote, dados os receios de que um empréstimo de seu segundo maior acionista não será suficiente para cobrir os custos da dívida.

O rendimento dos títulos perpétuos da maior fornecedora de equipamentos e serviços para o setor de petróleo do país subiu 18 pontos-base, ou 0,18 pontos percentuais, para o recorde de 19,19 por cento ontem. O preço caiu para uma baixa intradiária de 50 centavos por dólar de valor de face.

O presidente da Lupatech, Alexandre Monteiro, disse em 11 de novembro que a Fundação Petrobras de Seguridade Social - Petros, fundo de pensão dos funcionários do maior cliente da empresa, a Petróleo Brasileiro SA, vai emprestar R$ 60 milhões para ajudar no pagamento da dívida. A companhia, cujo fluxo de caixa é suficiente para cobrir cerca de um terço das despesas com juros, também está vendendo ativos para levantar recursos depois que a Petrobras atrasou pedidos nos últimos três anos.

“Basicamente, eles estão insolventes”, disse Juan Cruz, analista de dívida corporativa de mercados emergentes no Barclays Plc em Nova York, em entrevista por telefone. “A história deveria fazer sentido porque a Petrobras continua gastando muito dinheiro, mas isso não está acontecendo.”

Moody’s cortou nota

O rendimento dos títulos perpétuos subiu 642 pontos-base desde 19 de outubro, quando a Moody’s Investors Service cortou a nota de crédito da Lupatech em um nível, para Caa2. O custo médio de captação para empresas da América Latina com nota de crédito similar caiu 24 pontos-base, para 12,28 por cento, no mesmo período, segundo dados do Credit Suisse Group AG. Em 10 de janeiro, a Lupatech, sediada em Caxias do Sul, terá que pagar US$ 6,8 milhões de cupom de seus títulos perpétuos.

A nota Caa2 da Lupatech, que indica 29 por cento de probabilidade de calote em um ano, é nove níveis inferior à da dívida do governo brasileiro.

A dívida de longo prazo era equivalente a 54 por cento do capital da empresa no terceiro trimestre, comparado a uma taxa de 89 por cento para empresas globais no mesmo setor, segundo dados da Bloomberg. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, medida de fluxo de caixa conhecida pela sigla Ebitda, representou 36 por cento das despesas com juros da Lupatech no terceiro trimestre.

“Posso garantir a vocês que estamos trabalhando muito duro para não deixar a empresa declarar concordata”, disse Monteiro em teleconferência com analistas em 11 de novembro. “Estamos muito, muito à vontade com a viabilidade do negócio.”

Apoio do BNDES

A companhia tem o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, segundo Monteiro. O BNDES é dono de 11 por cento da Lupatech e a Petros detém 15 por cento.


“O BNDES tem uma fatia grande e será difícil para o banco permitir que a Lupatech caia em concordata ou deixe de pagar suas dívidas”, disse Artur Delorme, analista da Ativa SA no Rio de Janeiro, em entrevista por telefone.

O rendimento dos bônus perpétuos da Lupatech subiu 18 pontos-base, para 19,19 por cento ontem, segundo o Trace, sistema de preços de títulos da Autoridade Reguladora da Indústria Financeira dos Estados Unidos.

A companhia realizou aquisições nos últimos quatro anos, antecipando o crescimento da produção de petróleo após a Petrobras descobrir o maior campo das Américas desde Cantarell, no México, em 1976. As vendas da Lupatech caíram após a Petrobras alterar sua estratégia, focando-se em projetos de exploração que não utilizam os produtos e serviços da companhia, disse Filippe Goossens, analista da Moody’s.

Petrobras adiou projetos

A Petrobras adiou alguns projetos de produção para os quais a Lupatech pretendia fornecer cordas de ancoragem e válvulas para exploração de campos na região do pré-sal antes do vencimento de algumas licenças, disse o analista.

A Petrobras disse em comunicado em 11 de novembro que adiou em dois anos o plano de declarar comercialmente viável o campo de Carioca, descoberto em 2007. Carioca fica na mesma área de Lula e Libra, os dois maiores depósitos de petróleo das Américas em mais de três décadas. Adiamentos na votação da nova lei para os royalties no Congresso também paralisaram novos leilões para exploração de petróleo, o que pode piorar ainda mais a perspectiva para a Lupatech.

“Quanto ao pré-sal, a Petrobras vai poder usar os produtos e serviços que a Lupatech fornece, mas isso só daqui a dois, três ou quatro anos”, disse Goossens em entrevista por telefone de Nova York. “Enquanto isso, eles precisam fazer uma ponte entre hoje e esse momento futuro.”

O rendimento dos títulos soberanos em dólar do Brasil com vencimento em 2021 aumentou 6 pontos-base, para 3,57 por cento ontem, segundo dados compilados pela Bloomberg. Os papéis da Petrobras de mesmo prazo pagam 4,8 por cento.

A Petros não respondeu e-mails e telefonemas solicitando comentário para esta reportagem. As assessorias de imprensa do BNDES e da Petrobras, ambas no Rio de Janeiro, se recusaram a fazer comentários. Lupatech, quando contatada pela Bloomberg para comentários, referiu todas as questões à teleconferência de 11 de novembro.

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