A JBS, maior frigorífico do mundo, disse que a descoberta do foco de encefalopatia bovina espongiforme não afetará seu negócio (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 27 de abril de 2012 às 09h53.
Nova York e São Paulo - A JBS SA, que obtém cerca de 45 por cento da receita em suas unidades nos Estados Unidos, acumula as maiores perdas no mercado de renda fixa desde novembro. A queda veio após a descoberta do primeiro caso da chamada doença da vaca louca nos EUA em seis anos.
O rendimento os títulos em dólares da JBS com vencimento em 2018 deu um salto de 42 pontos-base nos últimos sete dias, a maior alta desde a semana encerrada em 10 de novembro, para 8,8 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. Os custos de captação para empresas com nota de crédito BB pela Standard & Poor’s, a mesma da JBS, caíram em média 10 pontos-base, ou 0,1 ponto percentual, no mesmo período, para 5,84 por cento, de acordo com dados do Bank of America Corp.
Investidores receiam que o anúncio feito em 24 de abril, de que a doença contaminou um animal na região central do estado americano da Califórnia, possa levar outros países a proibirem as importações de carne bovina americana, o que derrubaria as vendas da JBS. Centenas de países suspenderam as compras de carne dos EUA em 2003 após a descoberta do primeiro caso de vaca louca no país, de acordo com a agência do governo responsável pelo comércio exterior. As exportações de carne bovina americana tiveram uma queda de 79 por cento no ano seguinte.
“Há claramente fatores negativos que me fazem crer que poderia haver algum tipo de interrupção no comércio exterior”, disse Eric Ollom, estrategista de dívida do Citigroup Inc., em entrevista por telefone de Nova York. “Assim como a JBS tem uma base de investidores no mercado de high yields, muitos investidores têm boa memória do que aconteceu há dez anos, que foi bem negativo.”
Cadeia alimentar
Os bônus da JBS pagam 628 pontos-base a mais do que a dívida pública brasileira de prazo similar, comparado a uma diferença de 514 pontos há um mês, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Os títulos da companhia estão entre os ativos latino-americanos mais negociados pelos fundos de alto rendimento dos EUA que operam papéis de empresas de capital aberto e fechado, segundo dados da Bloomberg e do Barclays Plc.
A JBS, maior frigorífico do mundo, disse que a descoberta do foco de encefalopatia bovina espongiforme (BSE, na sigla em inglês) não afetará seu negócio, de acordo com fato relevante de 25 de abril. A empresa se recusou a fazer comentários adicionais quando contatada pela Bloomberg News.
O Departamento de Agricultura dos EUA disse em 24 de abril que a carcaça contaminada não entrou na cadeia alimentar. A BSE é uma doença neurológica progressiva fatal para animais. Humanos que consomem carne de animais infectados podem contrair uma variante da BSE chamada de Creutzfeldt-Jakob, que também é fatal.
Importações proibidas
A Indonésia suspendeu algumas importações de carne dos EUA embarcadas após a descoberta de 24 de abril. A proibição envolve farinha de carne e osso, vísceras, carne desossada e gelatina derivada de ossos, segundo o Ministério de Agricultura do país.
A Coreia do Sul deve suspender imediatamente a importação de carne bovina americana, disse a Associação Hanwoo, que representa pecuaristas locais, em comunicado em seu website em 25 de abril. O governo não barrou a liberação dos embarques americanos de carne bovina na alfândega, de acordo com a agência responsável pela quarentena e inspeção de animais, plantas e frutos do mar.
A Coreia do Sul pediu aos EUA mais informações sobre o caso, disse seu Ministério da Agricultura em 25 de abril. O Ministério disse que pode tomar as “medidas necessárias” após analisar mais o caso, sem dar detalhes adicionais. Canadá, México e Japão, que foram os três maiores compradores de carne bovina americana no ano passado, afirmaram que não vão interromper as compras.
‘Isolado’
“O risco é que o caso de vaca louca não seja isolado, e nessa situação o consumo doméstico americano, assim como as exportações, diminuiriam significativamente, empurrando os preços da carne bovina e do gado para baixo e prejudicando o negócio de carne bovina da JBS nos EUA”, escreveram os analistas do Barclays Ivan Fernandes e Juan Cruz em relatório a clientes em 25 de abril. “Nosso cenário básico é que este seja um caso isolado e, portanto, não deve afetar a JBS.”
A JBS, que tem oito abatedouros de bovinos e 12 unidades de confinamento nos EUA, afirmou ter capacidade de abate no país de aproximadamente 28.600 animais por dia, segundo relatório apresentado em junho de 2010. O negócio nos EUA representa cerca de 45 por cento da receita consolidada, de acordo com o Barclays.
A Marfrig Alimentos SA, segundo maior frigorífico brasileiro, não tem abatedouros nos EUA. O rendimento dos títulos da empresa com vencimento em 2018 caíram 52 pontos-base na última passada para 11,57 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A JBS é a única produtora brasileira de carne bovina com abatedouros nos EUA.
‘Medo generalizado’
Para Viktoria Krane, analista da Fitch Ratings, o efeito final do animal contaminado será limitado porque o caso foi descoberto antes de entrar na cadeia alimentar e porque os EUA alertaram a população.
“Vimos no passado o medo generalizado que essa doença pode causar”, disse Viktoria em entrevista por telefone de Nova York. “Desta vez foi diferente porque estamos falando de uma vaca leiteira que não entrou na cadeia alimentar e também porque o Departamento de Agricultura dos EUA fez um trabalho melhor ao tornar os controles de saúde mais rígidos e divulgar informações ao público.”