Ainda ontem, o peso já registrava ganhos no mercado de criptomoedas, à medida que os resultados eram anunciados (Bloomberg/Bloomberg)
Redação Exame
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 11h00.
Os títulos da dívida da Argentina dispararam nesta segunda-feira, 27, impulsionados pelo desempenho eleitoral melhor do que o previsto do presidente Javier Milei e de seu partido, La Libertad Avanza (LLA), nas eleições legislativas.
O papel com vencimento em 2035 subiu mais de 13 centavos, para 70,34 centavos de dólar, o maior valor já registrado, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Os títulos argentinos lideraram os ganhos entre os mercados emergentes, refletindo o alívio dos investidores quanto à possibilidade de estagnação da agenda de reformas econômicas liberais do governo.
Com 40,7% dos votos nacionais, a LLA superou a coligação peronista Fuerza Patria, que obteve 31,7%, e também os governistas dissidentes da coalizão Provincias Unidas, que teve 7%. O resultado fortalece o mandato de Milei e reduz o risco de paralisia legislativa, um dos principais temores do mercado nos últimos meses.
Segundo analistas do UBS, o desempenho favorável abre espaço para uma recuperação dos ativos argentinos aos níveis anteriores à derrota do partido na Província de Buenos Aires, em setembro.
Analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) endossam a tese, avaliando que a situação, após resultados favoráveis a Milei, será mais fácil de administrar.
"Os preços dos ativos devem refletir esse cenário muito melhor do que o esperado, mas, após a euforia inicial, esperamos que o mercado passe a monitorar de perto a agenda de Milei no que diz respeito à construção de consensos e ao fortalecimento da posição externa, com aumento das reservas", opina o banco.
Ainda ontem, o peso já registrava ganhos no mercado de criptomoedas, à medida que os resultados eram anunciados. A maioria dos ADRs (american depositary recpeipts) das empresas argentinas também operavam em alta expressiva.
Os analistas do UBS observam, no entanto, que mesmo com o resultado favorável e a promessa de assistência dos EUA — US$ 20 bilhões em linha de swap e outros US$ 20 bilhões em potencial linha de recompra com instituições privadas —, a sustentabilidade externa da Argentina continua sob prova.
"Olhando adiante, a bola estará completamente com Milei. A vitória dará ao governo um espaço de respiro. Mas ainda será preciso fazer o dever de casa. Acreditamos que a tarefa pela frente pode ser resumida em duas áreas-chave: acumular reservas e construir consensos para implementar reformas que aumentem a produtividade e o crescimento", endossam os analistas do BTG Pactual.
Segundo dados da Elos Ayta, a desvalorização do peso argentino diante do dólar já era de 30,46%, até o dia 21 de outubro, o pior desempenho entre 27 economias acompanhadas pela consultoria.
O avanço da moeda nos próximos dias dependerá da reversão de posições defensivas no mercado. A expectativa é que o novo cenário político contribua para atrair fluxo de capital estrangeiro, essencial para evitar nova desvalorização e retomar o acesso ao mercado internacional de dívida.
"A vitória dará ao governo um espaço de respiro. Mas ainda será preciso fazer o dever de casa: acumular reservas e construir consensos para implementar reformas que aumentem a produtividade e o crescimento", afirmam analistas do BTG.