Telefônica (VIVT3) lidera queda (Leonardo Benassatto/Reuters)
Graziella Valenti
Publicado em 28 de julho de 2022 às 03h56.
Última atualização em 29 de julho de 2022 às 09h57.
O lucro líquido da Telefônica (VIVT3) no segundo trimestre desapontou o mercado. A frustração foi generelizada, entre analistas e investidores. A última linha da companhia teve queda de 45%, para R$ 746 milhões. Essa redução é a principal explicação para a queda de 3,2% das ações na bolsa ontem, dia 27. O grupo espanhol é um dos maiores pagadores de dividendos da bolsa, depois das recordistas Petrobras e Vale. Por essa razão, qualquer movimentação no lucro gera mau-humor. A companhia gera gordos proventos desde os tempos em que era Telesp.
A culpa? Das despesas financeiras que ficaram mais salgadas com o aumento da taxa de juros: passaram de R$ 157 milhões para R$ 601 milhões, na comparação anual. A companhia que tinha posição líquida de caixa de R$ 6,9 bilhões em junho de 2021 — ou seja, mais dinheiro aplicado do que dívida — passou a ter dívida líquida de R$ 723 milhões ao fim do segundo trimestre deste ano. A dona da Vivo ostentou por anos uma situção em que tinha sempre mais recursos no banco do que o volume de seus vencimentos financeiros.
A dívida líquida é reflexo, especialmente, da queda no caixa, que encerrou março em R$ 3,2 bilhões, metade dos R$ 6,5 bilhões do apresentado ao fim de março e 62% menor do que o verificado um ano antes.
No dia (27), as ações caíaram 3,21%, como reaçãoa ao balanço divulgado na noite de terça-feira, e encerraram o pregão em R$ 44,90, com a empresa avaliada em R$ 75,2 bilhões. O recuo chamou atenção porque ocorreu em um dia em que o Índice Bovespa teve alta de quase 1,5%.
No caso as estimativas do Goldman Sachs, por exemplo, apesar de a receita ter ficado 6% das estimativas, o lucro líquido registrado veio 53% dos cálculos dos analistas.
No segundo trimestre de 2022 a Telefônica registrou uma receita líquida de R$ 11.8 bilhões, um crescimento de 11% maior do que no ano passado. De acordo com a companhia o crescimento foi impulsionado pela receita de serviço móvel, que cresceu em 15,1% na comparação com o mesmo período de 2021. A expansão reflete a consolidação da aquisição de parte da Oi Móvel. A operação foi adquirida, quase na forma de um consórcio, junto com TIM e Claro.
A participação na receita pela venda de aparelhos se manteve crescente, 26,4% a mais do que em 2021 (em ritmo bem superior à receita total). Esse esforço de venda ajuda a explicar a queda na rentabilidade, uma vez que essa atividade gera mais custo do que receita à empresa. O Ebitda somou R$ 4,6. Apesar de 4,7% superior à comparação anual, a margem caiu de 40,4% para 38,7%.
De acordo com o relatório divulgado pela Telefônica, o fluxo de caixa livre foi de ao todo R$ 2,2 bilhões, o que permitiu com que a empresa aumentasse os investimentos na empresa, assim como o programa de recompra de ações. No total, foram R$ 198 milhões comprados em ações da Telefônica no segundo trimestre.
Os bancos BTG Pactual e Credit Suisse analisaram os demonstrativos da Telefônica do segundo trimestre. Os analistas do BTG comentaram que parte dos resultados era esperado por eles, mas que o mercado se surpreendeu com alguns dos dados apresentados.
O Ebitda trimestral foi de R$ 4,6 bilhões, com redução de 1 ponto percentual na comparação anual.
Na contramão, o EBITDA ficou foi abaixo da margem esperada pelo Credit Suisse, que afirmou não ser algo preocupante.
"EBITDA de 38,7% contraiu 1pp a/a e ficou 0,5pp abaixo da nossa estimativa. Apesar disso, não vemos nenhuma preocupação significativa, pois a maior parte da perda de margem pode ser explicada por menores “outras receitas e custos”, que é uma linha muito volátil", afirmaram os analistas do banco de investimentos.
O lucro líquido da Telefônica neste segundo trimestre foi decepcionante para a maioria do mercado, que esperava um número bem maior.
"As despesas com juros mais altas explicam o lucro de R$ 746 milhões (-45% a/a, acima de nossas estimativas e bem abaixo do que o consenso esperava).", disseram os analistas do BTG.
Por fim, tanto o BTG quanto o Credit Suisse destacaram o crescimento da receita de serviço móvel, que foi impulsionada pela aquisição da Oi em dezembro de 2021.
"As receitas de pós-pago (80% das receitas de serviço móvel - MSR) e as receitas de pré-pago cresceram 14% e 18% a/a, auxiliadas pela aquisição de clientes da Oi. O MSR orgânico cresceu 9,4% a/a, o maior em 10 anos. A Vivo começou a ajustar seus preços em março, pouco impactando o crescimento do MSR no 1T22, mas impulsionando o do 2T. O ARPU (Receita Média por Usuário) pós-pago e pré-pago diminuiu 4,0% e 5,7% a/a. Por outro lado, o churn do pós-pago da Vivo foi o menor já registrado, de 1,1% ao mês, ou seja, a operadora está conseguindo fidelizar seus clientes – fundamental para uma empresa em plena migração de clientes advindos da Oi.", completam os analistas do BTG.