Telefônica: desde a privatização, em 1998, a empresa é a campeã no pagamento de dividendos (Telefônica/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 22 de março de 2020 às 09h10.
Última atualização em 21 de abril de 2020 às 12h07.
Em meio ao maior caos de mercado já registrado no Brasil, com sucessivos pregões em que o circuit breaker foi acionado, havia uma sobrevivente na semana passada entre as companhias do Índice Bovespa. Até o fechamento de quinta-feira, 19, a Telefônica era a única que mantinha alta em relação aos bons tempos de janeiro – aquele com parâmetros de preços que ninguém mais sabe quando e se serão retomados. De 31 de janeiro até 19 de março, a companhia acumulava alta de 0,9% em seu valor de mercado, avaliada em R$ 97,3 bilhões.
Não bastasse ainda acumular ligeira valorização, a avaliação se mantinha próxima da máxima histórica da empresa, quando valia em torno de R$ 103 bilhões, pelas cotações na bolsa.
Na sexta-feira, as ações tiveram queda e essa fotografia deve se modificar. As ordinárias recuaram 10,9%, para R$ 50,52 e as preferenciais tiveram queda de 7,68%, para R$ 54,38. Mas, ainda assim, a empresa ficará na lista das mais resilientes a essa crise, neste momento.
A B3 ainda não atualizou o relatório com o fechamento de sexta-feira, 20, o que deve ocorrer ao longo desta segunda-feira.
Por enquanto, não está claro qual será o saldo da reclusão – como esforço de contenção contra o novo coronavírus – para as companhias de telecomunicações. De um lado, as demandas pessoal e residencial explodiram. Porém, o uso em diversos setores da economia, como turismo e comércio, pode despencar e nenhum especialista ainda sabe dizer como será a retomada.
Dentre as teles brasileira, a Telefônica é, desde a privatização, em 1998, a campeã no pagamento de dividendos, o que torna a empresa uma espécie de porto seguro em tempos de estresse e alta volatilidade. De acordo com dados do site da própria empresa, sobre o ano de 2019, a Telefônica Brasil já declarou o pagamento de um valor bruto de R$ 3,6 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio, a serem depositados até agosto desde ano. Sobre esse total, devem se somar mais R$ 2,2 bilhões que serão aprovados na assembleia de acionistas prevista para 8 de abril, levando o total do ano passado para R$ 5,8 bilhões.
O montante a ser pago é superior ao próprio lucro líquido da empresa, que foi de R$ 5 bilhões em 2019, após queda de 44%, e representa 64% do fluxo de caixa operacional (Ebitda menos investimentos), que aumentou 23,5% no ano passado, para R$ 9,1 bilhões. As distribuições colocam o retorno da empresa apenas com o dividendo, mesmo com as ações próximas de sua máxima histórica na bolsa, acima da taxa básica de juros do Brasil, que na semana passada foi reduzida a 3,75% ao ano.
Para completar o quadro, a companhia anunciou, em 9 de março, um processo de modificação de seu capital social. Todas as ações preferenciais (sem direito a voto) serão convertidas em ordinárias (com direito a voto), mas sem que a empresa migre para o Novo Mercado da B3. A medida é bastante confortável para a controladora Telefónica de Espanha, que possui quase 75% do capital total do negócio no Brasil. Com essa iniciativa, a companhia brasileira transformará sua ação em uma moeda mais forte para trocas em aquisições. Logo no dia seguinte ao anúncio dessa medida, a tele admitiu que estuda, em conjunto com a TIM Brasil, a compra da operação de telefonia celular da Oi.
A TIM Brasil também se segurou bem diante dos solavancos dos mercados e na mesma base de comparação da Telefônica, tinha queda de 11%, com valor de mercado em R$ 36 bilhões.
Mas, dentre as 70 empresas que compõem o Índice Bovespa, o Carrefour Brasil tinha o segundo melhor desempenho, com perda acumulada de 3,7% até quinta-feira, avaliado em R$ 43,17 bilhões. A crise de contaminação da covid-19 levou a uma onda de compras e formação de estoques de produtos de consumo pela população que tem impulsionado as vendas dos supermercados nos últimos dias. A mesma lógica, contudo, não segurou o Pão de Açúcar, que teve queda de 27,2%, para R$ 17,3 bilhões.
A soma do valor de mercado das companhias do Índice Bovespa mostra que a capitalização do indicador recuou 38%, para R$ 2,4 trilhões, entre 31 de janeiro e quinta-feira – último dado atualizado pela B3. Nesse período, R$ 1,5 trilhão derreteu no mercado.
Entre as 70 companhias do indicador, apenas sete acumulavam perda inferior a 20% nesse período. Além de Telefônica, Carrefour e TIM Brasil, conseguiram um desempenho menos catastrófico as companhias que os investidores esperam resistir melhor – ou até se beneficiarem, de alguma forma – da crise global com o novo coronavírus: as empresas do setor de energia Taesa (-16,8%) e Engie (-19,9%), a fabricante de medicamentos Hypera (-12,12% e a rede de farmácias Drogasil (-13,7%).