Roberto Campos Neto: ex-presidente do BC se posicionou sobre independência da autarquia "é muito importante" (Lula Marques/Agência Brasil)
Repórter de finanças
Publicado em 4 de setembro de 2025 às 16h35.
“O que acontece é que gerou uma incerteza e toda a incerteza é ruim”, comentou Roberto Campos Neto, vice-chairman do Nubank e ex-presidente do Banco Central (BC), sobre os 50% de tarifas impostos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil.
A autoridade participou do evento Fronteiras do Investimento, da Nu Asset, gestora do Nubank nesta quinta-feira, 4, e falou, para além das tarifas, sobre dívida pública, independência do BC e corte de juros pelo Fed.
Campos Neto explicou que têm três razões históricas das tarifas existirem, sendo uma delas a reciprocidade. “A reciprocidade significa que quando cai, o benefício é igual para os dois lados e quando sobe [as tarifas], o malefício é igual também”, pontuou.
Entretanto, para ele, ao observar os EUA, não é “possível associar as tarifas que foram divulgadas ao tema da reciprocidade”.
Outro ponto de destaque em suas falas foi sobre a autonomia do BC do Brasil.
Nessa semana, líderes de partidos do Centrão na Câmara assinaram um requerimento de urgência para agilizar a análise de um projeto de lei que dá ao Congresso o poder de destituir presidentes e diretores do Banco Central.
Sobre o assunto, Campos Neto se posicionou: “A independência do BC foi uma conquista muito importante para os brasileiros. É fundamental que as pessoas entendam que, quando tem um ataque, nós enfraquecemos o canal de política monetária, o que faz com que tenhamos, às vezes, que fazer um movimento maior nos juros para atingir o mesmo objetivo.”
Já em relação à dívida pública brasileira, para ele, há duas formas de se equilibrar as contas de um país: aumentando impostos ou cortando gastos – quase todos foram aumentando impostos, destaca.
“A questão é, qual é a melhor forma de resolver isso? É cortando gastos. Se o governo não conseguir entender que precisa cortar gastos, vai acabar tendo que fazer um corte em uma situação muito pior do que hoje. E não estou nem falando só do Brasil, vários outros países vão enfrentar o mesmo tipo de problema, incluindo os Estados Unidos que hoje, pela primeira vez em muitas décadas, a gente passa a ter um debate sobre o fiscal”, concluiu.
Campos Neto acompanha o consenso do mercado: os Estados Unidos devem começar a cortar juros em setembro.
O que indica isso, em sua análise, são dados que mostram a economia americana um pouco menos forte, além de um discurso mais 'dovish' de Jerome Powell. “Acredito que vá abrir espaço para começar em setembro”, disse no evento.
Faltam 12 dias para a próxima reunião do Federal Reserve (Fed, banco central americano) e todas as apostas apontam para um primeiro corte por lá, o que acontecerá em meio às pressões do presidente dos EUA, Donald Trump, para reduzir juros.
Trump, inclusive, já atacou diretamente Jerome Powell, presidente do Fed, o chamando de “idiota teimoso” e “atrasado” por não reduzir os fed funds. O republicano já deixou bem claro sua insatisfação com Powell e seu desejo de troca de comando – circulando notícias de até uma possível demissão.
Entretanto, segundo ele, ainda há dúvidas sobre o tamanho do corte. “Existe uma incerteza se é de 50 pontos-base… Pode ser um pouquinho mais, um pouquinho menos", afirmou. Ele faz uma ressalva: apesar da curva de curto prazo começar a cair, a curva longa segue pressionada.