Redatora
Publicado em 10 de julho de 2025 às 06h53.
Os ativos brasileiros negociados em Nova York iniciaram o dia em queda após a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa geral de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto. A medida, que ainda precisa ser formalizada por ordem executiva, foi anunciada na quarta-feira, 9.
O EWZ, ETF que replica o Ibovespa na Bolsa de Nova York, fechou o pregão da véspera em queda de 1,92%, cotado a US$ 28,16, e recuava mais 1,81% no pré-mercado, às 6h02 (horário de Brasília), cotado a US$ 27,65. A pressão reflete a maior aversão ao risco envolvendo o Brasil, com investidores precificando possíveis efeitos econômicos e comerciais da nova rodada de tarifas.
Entre as ADRs mais negociadas, os recibos da Embraer lideram as perdas. A ação da fabricante brasileira de aeronaves caiu 4,08% na quarta-feira e ampliava a baixa para 3,85% no pré-mercado desta quinta, sendo negociada a US$ 55,00 às 6h21.
A Petrobras também é afetada pela medida. As ADRs da petroleira recuaram 1,90% na quarta-feira e apresentavam queda de 1,32% na pré-abertura, cotadas a US$ 12,71.
Já as ADRs da Vale, que fecharam em baixa de 1,30% na véspera, operavam em alta de 2,33% no pré-mercado, negociadas a US$ 10,09, em movimento que pode refletir a valorização do cobre no mercado internacional.
A resposta do governo brasileiro veio poucas horas após o anúncio de Trump. Em publicação nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica", aprovada em abril.
Lula classificou como falsa a alegação de Trump de que os Estados Unidos enfrentam um déficit comercial com o Brasil. Segundo dados oficiais americanos, o país teve superávit de US$ 7,4 bilhões na balança com o Brasil em 2024.
Na carta endereçada a Lula e publicada na rede Truth Social, Trump afirmou que a tarifa é uma reação às "barreiras comerciais não-recíprocas" e também aos "ataques às plataformas digitais americanas", em referência à atuação do Supremo Tribunal Federal brasileiro. O republicano disse ainda que a investigação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro representa "uma vergonha internacional" e chamou o processo de "caça às bruxas".
Além da tarifa geral, Trump também anunciou que irá abrir uma investigação comercial contra o Brasil com base na Seção 301, mecanismo usado para apurar práticas comerciais consideradas injustas pelos EUA.
A retórica de Trump e a sinalização de que outros países também podem ser alvo de tarifas acentuam a percepção de risco político e comercial para empresas brasileiras com presença internacional. Investidores monitoram possíveis impactos nas exportações e na atratividade dos ativos nacionais.
O mercado avalia, ainda, se a medida terá caráter temporário ou se será usada como peça de barganha nas negociações comerciais em curso. Em abril, o Brasil havia sido incluído na menor faixa de tarifas extras, de 10%. Agora, figura no topo da lista anunciada por Trump, com uma alíquota de 50%, a mais alta entre os mais de 20 países que já receberam cartas semelhantes nesta semana.