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Supernova, a bolha de crédito que está prestes a explodir

Diretor geral da PIMCO apresenta os sinais e as possíveis consequências da bolha de crédito que é inerente ao nosso sistema financeiro


	 A bolha de crédito criada pelo nosso sistema bancário funciona como o bing bang do universo
 (Handout/Getty Images)

 A bolha de crédito criada pelo nosso sistema bancário funciona como o bing bang do universo (Handout/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2013 às 09h56.

São Paulo - “Parece que nosso sistema monetário atual exige uma expansão perpétua para continuar existindo, mais ou menos como o nosso universo que começou com uma grande explosão e se expande tão rapidamente que os cientistas preveem que acabará em cerca de trilhões de anos, em um grande congelamento. Um declínio similar de energia e calor parece estar acontecendo dentro dos mercados de crédito”.

É o que afirma William H. Gross, diretor geral da gestora de investimentos PIMCO – a maior do mundo em títulos públicos -, em seu texto chamado “A Supernova do Crédito - Credit Supernova!”.

“A resposta legítima de credores, devedores e investidores que estão envolvidos e interligados no sistema deve, logicamente, ser de perguntar sobre as implicações econômicas e de investimento dessa transição em curso”, afirma Bill Gross, como é conhecido.

Para explicar como chegamos a essa situação, o diretor da PIMCO explica como chegamos a essa bolha. Ele diz que a criação de crédito no nosso sistema bancário de reservas fracionárias começou com um depósito e a expansão rentável deste depósito via alavancagem. Bancos e outros credores não guardam no cofre 100% de seus depósitos, e é daí que vem o nome reservas fracionárias.

A paritr daí, a bolha de crédito começou a funcionar como o big bang do universo. No início, esses empréstimos eram feitos com rendimentos próximos à taxa de crescimento e de criação de riqueza real da economia.


A lógica era simples: os credores pediam esse juro por conta do risco que corriam, enquanto quem tomava o empréstimo especulava que o lucro em seus novos empreendimentos fosse exceder a despesa de juros sobre esses empréstimos.

Mas a economia como um todo não poderia, logicamente, crescer mais rápido do que as taxas de juros reais necessárias para pagar os credores. Isso, em combinação com os retornos de dois dígitos que os detentores de capital exigiam para apoiar a alavancagem inicial foi compensado com crédito adicional.

Mais dinheiro para o mesmo efeito

O economista Hyman Minsk foi quem primeiro entendeu as implicações deste sistema e formulou uma teoria no início dos anos 1970 – a qual ele chamou de finanças Ponzi. Naquela época, o crédito em circulação era de cerca de 3 trilhões de dólares. Hoje, a quantia já chega a 6 trilhões e não para de crescer.

“É um monstro que requer quantidades crescentes de combustível, uma estrela supernova que se expande e expande e, ainda neste processo de crescimento, começa a se consumir”, explica Gross.

É o que está acontecendo agora, cada dólar de dívida parece criar cada vez menos calor. Na década de 1980, era preciso 4 dólares de crédito novo para gerar um dólar de PIB. Na última década, foram necessários 10 dólares e, desde 2006, 20 dólares de crédito novo são necessários para gerar o mesmo resultado. Cada vez mais o dinheiro vai para os credores e especuladores do mercado e cada vez menos para a economia real.


O que se seguiu foi uma erosão gradual do crescimento real, já que demissões, fechamento de agências bancárias e consolidações de negócios criam menos necessidade de trabalho e de expansão da planta física.

“A magia inicial de criação de crédito se tornou menos mágica, em alguns casos, até mesmo destrutiva e começa a consumir os mercados de crédito, bem como partes da economia real que ela criou”, continua.

O economista afirma que é preciso começar a se preocupar quando os ativos investidos representam um risco muito grande para um retorno muito baixo, quando os credores abandonam os mercados de crédito para migrar para outras alternativas, tais como moeda ou ativos reais.

Ele destaca os sinais a que se deve prestar atenção: rendimento de títulos de longo prazo muito baixos em relação ao risco, spreads de crédito muito apertados em relação ao risco de inadimplência, relação preço/lucro muito alta na comparação aos riscos de crescimento.

Para evitar as consequências da repressão financeira e das taxas de juros negativas reais se aproximando de -2%, Gross apresenta alguns caminhos possíveis. “As escolhas são variadas: investir em moeda para ajudar a proteger contra uma expansão inflacionária ou exatamente o oposto – títulos do tesouro para tirar proveito da deflação; ativos reais; ações de mercados emergentes, etc”, aponta.

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