Redatora na Exame
Publicado em 7 de fevereiro de 2025 às 09h35.
Os 0,01% mais ricos do mundo têm demitido gestores ativos e apostado em estratégias mais passivas, como a de investir no índice americano S&P 500. A informação é da gestora Neuberger Berman, que administra cerca de US$ 500 bilhões em ativos.
Em entrevista ao site americano Business Insider, Ahmed Husain, diretor global de family offices na gestora, disse que esse movimento de migração para investimentos passivos não é novo, mas não era tão esperado entre os family offices, que tradicionalmente adotam estratégias personalizadas.
No entanto, os investidores super-ricos perceberam que tem sido difícil encontrar estratégias de investimento que superem o desempenho do S&P 500.
De acordo com Husain, o desempenho médio de um family office tem oscilado em torno do S&P 500. Em 2022, eles tiveram perdas entre 10% e 15%, mas em 2023 registraram ganhos entre 8% e 12%. Já em 2024, eles tiveram um desempenho mais forte, com os family offices europeus subindo cerca de 13% a 15% e os americanos, de 15% a 17%.
Isso se deve, em parte, ao fato de que esse perfil de investidor está muito exposto ao mercado americano. Segundo Husain, independentemente da localização, entre 80% e 90% da riqueza dessas famílias está investida em ações americanas ou em mercados privados dos EUA.
“Fico surpreso”, disse Husain ao Business Insider, ao notar que alguns de seus clientes, com patrimônios entre US$ 30 bilhões e US$ 50 bilhões, têm US$ 12 bilhões apenas no S&P 500.
O gestor explicou que, além dos ganhos de mais de 20% do índice nos últimos anos, os family offices gostam dos mercados americanos por três motivos principais: a transparência; a moeda forte e estável; e as lideranças empresariais que buscam maximizar as margens de lucro.
No começo deste ano, os family offices concentraram seus investimentos em dólares e ativos americanos. Segundo Husain, eles sabem que precisam diversificar a carteira para minimizar os riscos. Contudo, em 2022 e 2023, essa mesma preocupação os levou a investir em mercados como China, Japão e Europa, que não deram o retorno esperado.
Segundo Husain, o apetite por risco varia conforme o perfil dos bilionários. Os que construíram seus próprios negócios, ou os que herdaram uma empresa em operação, tendem a ser mais tolerantes ao risco. Já aqueles de terceira ou quarta geração, que não acumularam riqueza por conta própria e precisam dividi-la entre vários herdeiros, priorizam a preservação do patrimônio.
Há family offices que optam por gestores ativos. Nesses casos, eles costumam ser altamente seletivos e buscam por especialistas em mercados como o europeu ou o japonês. Diante do cenário atual de guerra comercial, Husain acredita que os family offices buscarão gestores nos mercados estrangeiros mais fortes para identificar oportunidades estratégicas.
Na Europa, mesmo com o crescimento estagnado, algumas empresas são promissoras. A alemã Rheinmetall, fabricante de armas, munições e veículos blindados, teve alta de cerca de 124% no último ano, enquanto a italiana Leonardo, do setor de radares e defesa aeroespacial, teve uma valorização de 78% no mesmo período.
Outros investidores, segundo Husain, procuram gestores menores que possam gerar retornos acima do mercado em ações de pequenas empresas americanas. O diretor da Neuberger Berman diz que esse tipo de investimento é mais volátil, mas alguns family offices acreditam que as pequenas empresas americanas podem se beneficiar do crescimento econômico esperado sob a presidência de Donald Trump.