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Super Quarta: Fed deve manter juros nos EUA, enquanto Copom deve elevar Selic

Com mercados atentos às decisões monetárias nos EUA e Brasil e Europa, incertezas fiscais e políticas podem redefinir o cenário econômico global nos próximos meses

Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 07h23.

Última atualização em 29 de janeiro de 2025 às 09h37.

A chamada Super Quarta, dia em que os bancos centrais dos Estados Unidos (Federal Reserve) e do Brasil (Banco Central) anunciam suas decisões sobre política monetária, ganha ainda mais relevância desta vez.

O Federal Reserve (Fed) deve manter as taxas de juros inalteradas em sua primeira reunião após a posse do presidente Donald Trump, enquanto o Comitê de Política Monetária (Copom) deve seguir com sua política de aperto monetário diante da persistente desancoragem das expectativas de inflação na primeira decisão sob comando de Gabriel Galípolo. Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) também entrará em cena com cortes esperados, pressionado por riscos políticos e comerciais, na quinta-feira (30).

Saiba o que esperar dos bancos centrais em relação aos juros:

Fed deve manter juros e avaliar impactos das políticas de Trump

De acordo com a Bloomberg, o Fed deve manter a taxa de juros entre 4,25% e 4,5% nesta quarta-feira, encerrando um ciclo de três cortes consecutivos que reduziram os juros em um ponto percentual desde setembro. Autoridades do banco central dos EUA sinalizam que a inflação segue mais resistente do que o esperado, o que reduz a necessidade de cortes adicionais no curto prazo.

A decisão será divulgada às 16h, no horário de Brasília, seguida por uma coletiva de imprensa com Jerome Powell, presidente do Fed, 30 minutos depois.

A política econômica do presidente Donald Trump também entra na equação. O Fed não apresentará novas projeções econômicas até a reunião de março, mas as atas do último encontro já indicavam que membros do Comitê de Política Monetária estavam levando em consideração possíveis impactos das propostas de Trump sobre comércio, impostos, imigração e regulamentação.

“Eles estão pulando um corte agora, mas querem manter o máximo de flexibilidade para ajustar a taxa ao longo do ano”, afirmou Gregory Daco, economista-chefe da EY, à Bloomberg.

As atenções do mercado estarão voltadas para os comentários de Powell sobre o “nível neutro” dos juros, ou seja, a taxa que não impulsiona nem desacelera a economia. Se os membros do Fed acreditarem que os juros já estão próximos desse patamar, o cenário aponta para menos cortes de juros ao longo de 2024.

Outro ponto que pode influenciar os rumos do Fed são as críticas públicas de Trump. Na última semana, o presidente americano voltou a atacar Powell, afirmando que entende de juros “muito melhor” do que o próprio presidente do Fed.

Embora Powell tenha evitado responder diretamente às provocações, há expectativas de que ele seja questionado sobre a influência da Casa Branca na política monetária.

Brasil: Selic pode chegar a 14,25% diante do agravamento das expectativas de inflação

Enquanto o Fed mantém uma postura mais cautelosa, o Banco Central do Brasil (BC) segue em uma direção oposta. Na reunião desta quarta, o Copom deve elevar a taxa Selic para 13,25% ao ano, com mais um aumento já precificado para março, quando os juros podem chegar a 14,25%.

O principal fator para essa decisão é o avanço contínuo das expectativas de inflação. O Boletim Focus, divulgado na segunda-feira, revelou que o mercado já espera um IPCA de 5,50% em 2025, muito acima do teto da meta de 4,50% perseguida pelo BC. Trata-se da 15ª revisão consecutiva para cima, refletindo a deterioração do cenário fiscal e da confiança dos agentes econômicos.

Segundo José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, a piora nas projeções é resultado da perda de credibilidade da política fiscal do governo, especialmente após a divulgação de um pacote de ajuste considerado ineficiente pelo mercado.

“A dívida pública cresce quatro pontos percentuais em relação ao PIB todo ano. Apesar do déficit primário menor, o governo gasta dinheiro fora do orçamento. Existe um problema fundamental de credibilidade”, avalia Camargo.

A crise no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a recente instabilidade no sistema Pix também aumentam as incertezas, colocando em xeque a confiabilidade das estatísticas econômicas e ampliando o pessimismo do mercado.

Essa incerteza fiscal afeta o preço do dólar, pressiona a inflação e levanta dúvidas sobre a eficiência da política monetária no controle dos preços.

Nem mesmo a perspectiva de que os juros ultrapassem 15% ao ano parece suficiente para conter a desancoragem das expectativas inflacionárias. Drausio Giacomelli, economista sênior do Deutsche Bank, aponta que o problema central é fiscal e estrutural, tornando a política monetária menos eficaz.

“A alta dos juros no Brasil já está em território restritivo há meses, mas as expectativas de inflação continuam subindo. Isso mostra que o problema está no descontrole fiscal e na falta de confiança dos investidores.”

Entre os principais fatores que pressionam a inflação, analistas destacam:

  • Alta do dólar, que impacta os preços de importados e pode ultrapassar R$ 6,00 em 2024.
  • Pressão sobre os alimentos, com exportadores ajustando preços ao mercado internacional.
  • Inflação de serviços, que segue acima de 8% e é impulsionada por reajustes salariais e aumento do salário mínimo.

Europa: Banco Central pode cortar juros diante do risco de tarifas dos EUA

Além do Fed e do Copom, o Banco Central Europeu (BCE) também enfrenta um cenário desafiador. O mercado já precifica um corte de 0,25 ponto percentual nos juros da zona do euro na reunião de quinta-feira, com expectativa de novos cortes ao longo do ano.

No entanto, uma possível escalada na guerra comercial com os EUA pode forçar o BCE a cortes mais agressivos para tentar mitigar os impactos econômicos. A recente ameaça de Trump de impor tarifas sobre importações europeias coloca pressão sobre o bloco, enfraquecendo o euro e aumentando a necessidade de estímulos.

Segundo Tim Brooks, diretor da Optiver, um anúncio de tarifas contra a Europa pode levar o euro a paridade com o dólar, gerando novos desafios para a política monetária do BCE.

“Basta um anúncio de tarifas para que o euro volte ao nível de 1 dólar ou até menos”, afirmou Brooks.

O ambiente político na Europa também adiciona incertezas. O governo da França enfrenta dificuldades para aprovar o orçamento, enquanto a Alemanha se prepara para novas eleições após o colapso da coalizão de Olaf Scholz.

Diante desse cenário, economistas já projetam que o BCE poderá reduzir sua taxa de depósitos para 1,5% ainda este ano, tornando sua política monetária mais expansionista do que a dos EUA.

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