Mercados

“Super Mario” entra pelo cano e decepciona mercados

Bolsas em todo o mundo operam em queda após a ausência de novas medidas

Draghi pediu para não apostar contra o euro, mas quem fez isso até agora se saiu bem (Beatriz Blanco/EXAME.com)

Draghi pediu para não apostar contra o euro, mas quem fez isso até agora se saiu bem (Beatriz Blanco/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2012 às 17h17.

São Paulo – Esta quinta-feira era vista por muitos como o “dia D” para os mercados financeiros. Não era por menos. Na semana passada, os comentários do presidente do Banco Central Europeu , Mario Draghi, tinham criado uma enorme expectativa para a reunião da autoridade monetária nesta manhã. Porém, ao contrário do esperado, nada foi anunciado.

As bolsas passaram ao campo negativo em todo o mundo após a decisão do BCE. No Brasil, o Ibovespa abriu em queda e, na mínima do dia, registrou uma baixa de 1,7%. O pior cenário ficou para os mercados europeus. Na Espanha, o IBEX 35 marcou uma queda de 5,22% e, na Itália, o MIB recuou 4,2%. Em Wall Street, as bolsas também recuam.

“Acredito que a resposta cética dos mercados é compreensível, mas eu alertaria que é provável que Draghi prossiga com medidas de fato. Mas, é condicional que os governos também o sigam”, ressalta Charles Diebel, chefe de estratégia de mercado do Lloyds, em uma nota enviada para EXAME.com. Para ele, o discurso do presidente deixou a porta aberta para um “grande plano” nas próximas semanas.

O italiano “Super Mario”, que tem o apelido em alusão ao personagem do videogame e por ter salvado o seu país da bancarrota na década de 1990, entrou pelo cano. Ao contrário de medidas concretas, os investidores tiveram que se contentar apenas com promessas. Draghi disse que para atuar com firmeza precisa do comprometimento dos países.

“Hoje ele anunciou que o BCE não aprovou nada de concreto e que precisará de mais algumas semanas para conseguir realizar essa tarefa urgente. Foi um sinal ruim, que demonstra a forte oposição que essa política encontra junto ao Bundesbank e ao governo alemão. Como resultado, os mercados caíram em toda Europa, nos EUA e no Brasil”, diz Pedro Paulo Silveira, economista da TOV Corretora.

O que pode ser feito?

Draghi disse que possui ferramentas disponíveis para salvar a moeda única e que o “euro é irreversível”. Ele explicou que os países têm enfrenado problemas por conta das taxas de juros “excepcionalmente altas” nos mercados de títulos públicos, mas que o prêmio cobrado pelo mercado por conta de uma eventual ruptura do euro “são inaceitáveis e devem ser enfrentadas”. Para isso, contudo, o presidente-super-herói passou a bola para os governos.


“A fim de criar as condições fundamentais para que tais prêmios de riscos desapareçam, os formadores de políticas monetária precisam avançar com a consolidação fiscal, reforma estrutural e a construção institucional europeia com grande determinação”, disse em seu discurso após a decisão que manteve o juro da região em 0,75% ao ano. A taxa tinha sido cortada em 25 pontos-base no último encontro em julho.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgou uma nota de apoio à Draghi, mas salientou que uma atuação nos mercados poderia ajudar. “Assim como também enfatizamos, a política monetária sozinha não pode resolver os problemas enfrentados pela zona do euro. Apesar disso, um relaxamento monetário e um suporte não convencional poderia aliviar as tensões enquanto as políticas são implantadas e surtem efeito”, mostra a nota.

Condições

O BCE reforçou que poderia retomar a sua atuação nos mercados de dívida caso os países em apuros solicitassem a intervenção do fundo europeu de resgate (FEEF). "O Conselho de Governo, dentro de seu mandato de manter a estabilidade de preços a médio prazo e no respeito de sua independência para determinar a política monetária, poderia realizar operações no mercado secundário de um tamanho adequado para alcançar seu objetivo".

“Parece que não há chance de o BCE intervir nos mercados primários [ou seja, comprar títulos diretamente dos governos], e qualquer intervenção nos mercados secundários só virão após a Espanha e a Itália pedirem ajuda”, explica Azad Zangana, economista do banco Schroders, em uma nota. Para ele, é muito frustrante a falta de detalhes sobre como a ajuda do BCE será feita.

“Draghi alertou aos investidores para que não apostassem contra o euro. O problema, Sr. Draghi, é que aqueles que fazem isso têm se saído muito melhor neste ano até agora”, provoca Zangana.

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