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Stuhlberger aposta na alta do dólar, perigo real e imediato

Luís Stuhlberger diz que o ativo com o preço “mais profundamente errado” é o dólar, que deveria, portanto, subir


	Stuhlberger: com um mês de vida, a Verde Asset já conta com R$ 30 bilhões em recursos
 (Germano Lüders/EXAME.com)

Stuhlberger: com um mês de vida, a Verde Asset já conta com R$ 30 bilhões em recursos (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de fevereiro de 2015 às 14h48.

São Paulo - Em seu primeiro relatório na recém-criada Verde Asset Management, Luís Stuhlberger diz que espera uma piora geral dos ativos brasileiros, que não refletiriam hoje o “contínuo processo de deterioração da economia doméstica”.

Stuhlberger diz que o ativo com o preço “mais profundamente errado” é o dólar, que deveria, portanto, subir.

O gestor é responsável pelo Fundo Verde, um dos maiores fundos hedge do mundo, com mais de R$ 10 bilhões de patrimônio.

Ele deixou o Credit Suisse no ano passado para criar sua segunda gestora independente – a primeira, a Hedging-Griffo, foi comprada pelos suíços.

Com um mês de vida, a Verde Asset já conta com R$ 30 bilhões em recursos.

Perigo real e imediato

O gestor diz que é essa justamente sua aposta, na desvalorização do real.

A oportunidade de ganho é grande, afirma, uma vez que estão todos aproveitando a arbitragem entre os juros altos locais e os internacionais baixíssimos, e em algum momento essa situação, que atrai investimentos em renda fixa local e mantém o dólar baixo no Brasil, deverá mudar.

“Poucas vezes em minha carreira profissional me lembro de ter visto um alinhamento de circunstâncias negativas tão forte que levaria a uma depreciação cambial”, diz.

“É o que chamamos de uma situação de ‘perigo real e imediato’ não precificada”.

Acima do CDI de novo

O Verde fechou janeiro com ganho de 2,26%, a maior parte puxado pela parcela em câmbio, com alta de 1,46%.

Em 12 meses, o fundo voltou a ficar acima do CDI, com 11,33%, ante 10,91% do referencial da renda fixa.

O ano passado, o fundo ficou abaixo do CDI, com 8,80% de retorno, ante 10,81% do indicador.

Déficit externo crescente

A justificativa para a alta do dólar no Brasil é que mesmo com a moeda americana entre R$ 2,70 e R$ 2,80 – hoje o dólar atingiu R$ 2,83 –, o país ainda terá um déficit externo de conta corrente (que inclui balança comercial e de serviços) de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), ou aproximadamente US$ 90 bilhões.

O número considera a queda nos preços de minério de ferro e soja, que reduzirão o valor das exportações de commodities do país.

Stuhlberger avalia que o déficit do país deveria ficar entre 2% e 2,5% do PIB e o investimento direto estrangeiro, aquele voltado para atividade produtiva, em US$ 50 bilhões, abaixo dos US$ 62,5 bilhões de 2014, por conta da má performance da economia brasileira.

Isso exigiria um dólar ainda mais alto que o atual.

Captações devem diminuir com Petrobras

Segundo o gestor, a economia brasileira precisa de um volume muito grande de dólares para financiar o déficit em conta corrente, as amortizações da dívida e o investimento brasileiro no exterior, num contexto de captações menores.

Ele cita o caso da Petrobras, que terá dificuldades em acessar o mercado internacional por conta da crise provocada pelos escândalos da Operação Lava Jato e o adiamento dos balanços.

Apenas a Petrobras, estima o gestor, capta US$ 15 bilhões por ano no exterior para o país.

Buraco de US$ 30 bi

Com essas premissas, Stuhlberger estima que haverá “um buraco de mais de US$ 30 bilhões no balanço de pagamentos” e o dólar “é o mecanismo que fará com que ao longo do tempo esse buraco se ajuste”.

Nos cálculos do gestor, os empréstimos intercompanhias, feitos entre empresas locais e suas matrizes no exterior, cairiam de US$ 23,1 bilhões para zero e os desembolsos de médio e longo prazos, de US$ 62,9 bilhões para US$ 49,7 bilhões.

Sobra dinheiro lá fora

O motivo para o dólar não subir tanto, segundo Stuhlberger, é a situação internacional, onde os bancos centrais da Europa e do Japão inundam as economias com recursos para tentar reativar os negócios e sair da estagnação.

Assim, o juro brasileiro atrai recursos do mundo inteiro e segura o real, impedindo uma desvalorização maior.

Além do juro externo baixo, o dólar não estaria subindo no Brasil também por conta do voto de confiança no novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirma Stuhlberger.

Bolsa, ainda ruim

Ele reforça a visão negativa sobre o mercado acionário brasileiro, ao lembrar que ações de empresas menores, as sem liquidez ou crescimento, as ligadas a commodities e as estatais “foram dizimadas”.

Nesse caso, o Índice Bovespa estaria bem, pois “resiste aos 49 mil pontos”.

Mas diz que não se arrisca a apostar na baixa do indicador porque uma parcela significativa dele, 42%, é composta por empresas que devem resistir ao cenário mais negativo, como empresas financeiras e Ambev, por sua capacidade de resistir e suas posições oligopolistas, e pelos bancos, que se beneficiam dos juros altos e dos serviços.

Stuhlberger diz que o Verde tem uma posição vendida em Ibovespa, mas com proteção para o caso de uma recuperação, pois acredita que, mesmo que algumas ações estejam muito baratas em relação a seus resultados, como Itaú e Bradesco, elas também sofrerão se a situação se deteriorar.

Petrobras sob pressão, mas pode subir

Já com relação à Petrobras, o gestor diz que a ação deverá ficar pressionada para baixo pela discussão sobre a perda de grau de investimento e pela necessidade de a empresa de fazer uma nova capitalização.

Mas ele diz que a empresa poderá se beneficiar de um ajuste do mercado de petróleo, que depois das fortes quedas pode subir e voltar para um barril entre US$ 60 e US$ 70, “o que num primeiro momento beneficiará a Petrobras”.

Ele também trabalha com uma expectativa de inflação maior para o país neste ano e no período de 2016 a 2023 em relação ao que trabalha o mercado.

Stuhlberger continua com 20% dos recursos do Verde em fundos de ações no exterior, sendo metade nos EUA.

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