Banco Central da Inglaterra (George Rex/Flickr)
Os juros sobre os títulos da dívida pública do Reino Unido, os "Gilt", dispararam nesta segunda-feira, 26, com as turbulências macroeconômicas que estão afetando a economia britânica.
O rendimento de títulos do "Tesouro Direto" do Reino Unido com vencimento em dez anos aumentou 1,45 ponto percentual, chegando em 4,2%, marcando o maior salto mensal desde 1979.
Os rendimentos dos títulos com vencimento em dois anos também aumentaram, passando de 3% no final de agosto para 4,5%, a maior alta em mais de 14 anos.
A rentabilidade dos títulos da dívida pública aumenta quando os preços caem. E é isso que está ocorrendo, em um momento de desconfiança dos mercados na sustentabilidade da dívida britânica.
Essa grande venda de títulos do Tesouro britânico ocorre depois da apresentação por parte do governo, na última sexta-feira, 23, do maior pacote de cortes de impostos desde a década de 1970, junto com subsídios de energia amplamente antecipados para proteger as famílias da disparada dos preços do gás provocados pela guerra na Ucrânia.
O custo desse pacote será de mais de £ 161 bilhões nos próximos cinco anos, o que está deixando os investidores nervosos, pois desse total, cerca de £ 70 bilhões serão obtidas através de novas emissões de títulos do Tesouro.
Os analistas consideram que o espaço de manobra fiscal do Reino Unido após o Brexit se reduziu drasticamente, e por isso uma expansão do déficit público nesta proporção deixa os mercados preocupados.
Os investidores estão aguardando uma alta emergencial das taxas de juro de Londres, apenas dois dias após o anúncio de um aumento de 0,50 ponto percentual dos juros no Reino Unido.
O anúncio desse megapacote fiscal por parte do ministro da Economia britânico, Kwasi Kwarteng, chegou um dia depois que o Banco da Inglaterra confirmou que começará a vender os títulos da dívida que detém em seu portfólio. Esses papéis tinham sido adquiridos durante programas anteriores de estímulo fiscal, conhecidos como "afrouxamento quantitativo".
Agora, o Banco da Inglaterra informou que vai iniciar o processo oposto, de "aperto quantitativo", reduzindo o tamanho de sua carteira de cerca de £ 80 bilhões nos próximos 12 meses, chegando em £ 758 bilhões no total.
O mercado está considerando esses movimentos como extraordinários, e está provocando um efeito cascata na economia real.
Os principais fornecedores de crédito imobiliário do Reino Unido, Virgin Money e Halifax estão interrompendo novos empréstimos à habitação por causa desse aumento das taxas dos títulos do tesouro.
O câmbio da libra também despencou nesta segunda-feira, chegando em sua mínima em relação ao dólar. Com isso, muitos observadores estão prevendo uma intervenção do Banco da Inglaterra para sustentar o valor da moeda, com o governador
O forte aumento nas vendas de títulos do tesouro do Reino Unido ocorre em meio a uma alta global das rentabilidades das dívidas públicas, com aumento das vendas de quase todos os papéis. No entanto, as perdas para os papéis britânicos superaram as de rivais como Bunds alemães e títulos do Tesouro dos EUA, os Treasuries.