Intel: ações sobem mais de 6% no pré-mercado após aporte da SoftBank (David Becker / Colaborador/Getty Images)
Redatora
Publicado em 19 de agosto de 2025 às 07h26.
O conglomerado japonês SoftBank anunciou um aporte de US$ 2 bilhões na Intel, em um movimento que reforça sua aposta no mercado de semicondutores e inteligência artificial.
O grupo liderado por Masayoshi Son vai adquirir cerca de 87 milhões de ações ao preço de US$ 23 por papel, montante equivalente a aproximadamente 2% da companhia. A fatia torna o SoftBank um dos principais acionistas da fabricante americana de chips, que atravessa um processo de reestruturação sob o comando do novo CEO, Lip-Bu Tan.
A notícia mexeu imediatamente com os mercados. As ações da Intel, que haviam recuado 3,66% no pregão regular de segunda-feira, registraram alta de 6,55% no pré-mercado desta terça, por volta das 6h40. Já os papéis do SoftBank fecharam em queda de 4,01% em Tóquio, interrompendo uma sequência de nove altas seguidas.
Para analistas, o aporte é um voto de confiança relevante, mas insuficiente por si só para estabilizar a empresa. A Intel registrou prejuízo líquido de US$ 2,9 bilhões no segundo trimestre e ainda não conseguiu garantir grandes clientes para a sua divisão de fundição, considerada estratégica para voltar a disputar espaço com a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) e a Nvidia.
A companhia já perdeu mais de 50% de valor desde o início de 2024 e amarga atrasos na megafábrica de Ohio, projeto que deveria ser o maior do mundo e que se transformou em foco de críticas no Congresso americano.
O cenário é acompanhado de perto em Washington. A imprensa internacional aponta que o governo do presidente Donald Trump discute assumir cerca de 10% de participação na Intel, o que faria dos EUA um dos maiores acionistas da companhia.
O plano em discussão prevê converter parte dos recursos do programa de subsídios Chips and Science Act em participação acionária do governo. De acordo com informações da Bloomberg, a Intel foi contemplada com até US$ 10,9 bilhões em subsídios e US$ 11 bilhões em empréstimos para ampliar sua capacidade produtiva. Considerando o valor de mercado atual, uma fatia de 10% da empresa seria avaliada em cerca de US$ 10,5 bilhões.
As conversas entre a Casa Branca e a empresa se intensificaram depois que Trump pediu a renúncia do CEO Lip-Bu Tan por suas ligações comerciais com a China. O executivo esteve na Casa Branca na semana passada e discutiu a possibilidade de participação acionária do governo.
A iniciativa pode ainda abrir precedente para outros casos. Fontes citadas pela Bloomberg afirmam que o governo estuda converter aportes do Chips Act em participação em outras companhias estratégicas.
A postura reflete uma guinada mais intervencionista de Trump, que já garantiu ao governo participação em setores-chave: um “golden share” na U.S. Steel, o direito de receber 15% das vendas de chips para a China de empresas como Nvidia e AMD, e agora pode repetir a estratégia com a Intel.
O SoftBank tem ampliado sua presença no ecossistema de chips e IA. Em 2016, o grupo comprou a Arm por US$ 32 bilhões, hoje avaliada em quase US$ 150 bilhões.
Em março deste ano, anunciou a aquisição da Ampere Computing por US$ 6,5 bilhões e liderou um aporte recorde de US$ 40 bilhões na OpenAI.
O conglomerado também integra o projeto Stargate, ao lado da Oracle e da OpenAI, que prevê até US$ 500 bilhões em infraestrutura de inteligência artificial nos EUA nos próximos anos.
Em comunicado, Masayoshi Son destacou a importância estratégica da Intel para os EUA. “Este investimento reflete nossa crença de que a manufatura e o fornecimento de semicondutores avançados vão se expandir nos Estados Unidos, com a Intel desempenhando um papel fundamental”, afirmou.