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Shein produzindo no Brasil: qual é o impacto para o varejo de moda do país?

Nesta segunda-feira, as ações da Coteminas, que fez acordo para ser parceira da Shein na produção local, saltaram quase 200%

A Shein abriu algumas lojas físicas no Brasil, um de seus três maiores mercados no mundo (Shein/Divulgação)

A Shein abriu algumas lojas físicas no Brasil, um de seus três maiores mercados no mundo (Shein/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 24 de abril de 2023 às 18h48.

Última atualização em 24 de abril de 2023 às 19h20.

Na última semana a plataforma de varejo de moda Shein, com sede em Singapura, informou que, após acordo com o governo, vai investir R$ 750 milhões no Brasil e passar a produzir 85% de seu portfólio com fabricantes locais e gerar até 100 mil empregos no país em três anos. Mas qual é o impacto disso para a indústria têxtil e o varejo nacional?

Um dos principais parceiros da Shein nessa frente de investimentos vai ser a Coteminas, do grupo Springs Global, que pertence ao empresário e presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva. O memorando entre as duas companhias prevê que 2 mil dos clientes confeccionistas da Coteminas passem a ser fornecedores da Shein para atender os mercados doméstico e da América Latina. A parceria também abrange o financiamento para capital de trabalho e contratos de exportação de produtos para o lar. Com a notícia, anunciada na sexta-feira, 21, a as ações da Coteminas fecharam com alta de 196%, para R$ 3,58.

De acordo com o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, a indústria têxtil e de vestuário brasileira já é a quinta maior do mundo em produção e tem 15% de capacidade ociosa. "Notícias de investimento e criação de emprego são sempre bem-vindas. Se a demanda vier, tem uma ociosidade que pode ser ocupada. O importante é haver isonomia", observa Pimentel, citando o aumento de encomendas isentas de tributação em sites estrangeiros. 

A projeção de contratação de fábricas no país pela Shein, representa cerca de 10% da indústria local. Como referência, em 2022, a Renner contou com cerca de 1.402 fornecedores (463 diretos, 939 indiretos) para adquirir seus produtos, enquanto a C&A contou com 794 fornecedores locais (221 diretos, 573 indiretos). De acordo com entrevistas do CEO da Shein para América Latina, Marcelo Claure, análises foram feitas para reduzir os impactos de custos e conseguir manter preços baixos mesmo produzindo no Brasil.

Em relatório distribuído hoje, analistas do Santander afirmam que impacto potencial dos investimentos da Shein nos varejistas de moda de vestuário do Brasil é misto. "O aumento da supervisão regulatória sobre as importações pode limitar a competitividade de curto prazo da Shein, no entanto, seu compromisso com a produção local pode sinalizar que a empresa reconhece que seu estado atual é insustentável, potencialmente transformando a indústria a longo prazo."

Varejistas locais de vestuário podem enfrentar desafios em equilibrar os benefícios e riscos das mudanças na indústria têxtil, segundo a equipe do Santander. Entre essas mudanças podem estar a necessidade de maior investimento em parcerias com fornecedores, adoção acelerada de e-commerce e gerenciamento de riscos de lucratividade devido ao aumento da concorrência e pressão de preços.

"Caso a Shein importe com sucesso seu modelo de produção de pequenos lotes ultrarrápido para fornecedores brasileiros nos próximos anos, os principais players da moda, como os players listados que cobrimos, podem precisar reavaliar suas estratégias de cadeia de suprimentos."

Gargalos na produção

Para os analistas do Santander, o anúncio da Shein já aponta que a empresa tem preocupação com a maior fiscalização do governo. "Por um lado, acreditamos que o aumento da supervisão sobre as importações pode impactar significativamente os negócios da Shein (e outros grandes internacionais) no Brasil", observa a equipe. Pelos dados, do Banco Central, as importações de encomendas até US$ 51 somaram US$ 3 milhões por ano entre 2019 e 2022.

"Em nossa opinião, o aumento da supervisão do governo sobre o processo de importação deve levar a uma mudança nesses valores, mas isso provavelmente prejudicaria a quantidade de importações de pequeno valor que acreditamos abranger a maior parte das vendas da Shein no Brasil."

Para o chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, Pedro Serra, o anúncio de produzir no Brasil coloca a Shein de igual para igual. "Montar uma operação aqui, invariavelmente vai ter de seguir as regras daqui." Ainda assim, ele destaca que a marca americana Forever 21 fez mesmo movimento e "não aguentou".

A equipe do Santander avalia que a incursão da Shein em produzir localmente no Brasil pode levá-la a encontrar vários gargalos de produção, potencialmente limitando a medida em que a eficiência internacional pode ser replicada no Brasil. "No entanto, acreditamos que os investimentos da Shein têm um significado inegável para a indústria, que tem muito a aprender com a alta cadeia de suprimentos chinesa eficiente."

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