Credit Suisse esticou até agosto o horizonte para elevações dos juros, diante da inflação ainda persistente (Adriano Machado/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 4 de abril de 2022 às 16h04.
A inflação de curto prazo deve surpreender o Banco Central e tornar difícil o fim do ciclo de aperto monetário na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), diz Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse no Brasil.
O BC deverá, nesse caso, mudar sua sinalização de que mais uma alta de 1 ponto percentual (p.p.) da Selic em maio, para 12,75%, é suficiente para levar a inflação à meta, segundo ela.
O Credit Suisse esticou até agosto o horizonte para elevações dos juros, diante da inflação ainda persistente. A previsão do banco é de Selic a 14% no final do ciclo, com altas de 1 p.p. em maio, 0,75 p.p. em junho e 0,5 p.p. em agosto.
“Acreditamos que a inflação no curto prazo vai ficar muito alta e bastante disseminada. Existe uma diferença muito grande entre as nossas projeções e as do BC”, diz em entrevista.
O Credit Suisse projeta IPCA em 7,8% para este ano. Já o BC estima 6,3% no seu cenário alternativo – que vê como o mais provável – com petróleo a US$ 100. No cenário de referência, a projeção oficial é de 7,1%.
Para ela, o apetite ao risco que tem feito o dólar desabar deve seguir no curto prazo. O câmbio tem se beneficiado do elevado diferencial de juros, com a Selic de volta a dois dígitos no país, e da melhora dos termos de troca em razão da alta das commodities. O dólar chegou a cair abaixo de R$ 4,61 nesta segunda-feira, no menor nível intradiário desde março de 2020.
A sustentabilidade do movimento da queda do dólar dependerá, além da manutenção dos fatores atuais, da expectativa de que o Brasil vá, em 2023, adotar alguma âncora fiscal, avalia a economista. O risco maior está nos EUA: uma prolongação do aperto monetário já iniciado pelo Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, ou uma aceleração do ritmo no meio do percurso.
Qualquer que seja o candidato eleito à presidência do Brasil, ele “não deve rasgar” a regra fiscal, nem se dar ao luxo de deixar de lado a agenda econômica pré-pandemia, que tinha já aprovado a reforma da Previdência, diz Solange Srour. Segundo ela, a reforma mais importante e que deveria ser discutida no início da próxima gestão é a administrativa, que ajuda no fiscal pelo lado da despesa.