A Boa Safra é líder na produção de sementes de soja no Brasil, e o país é o maior produtor e exportador mundial da commodity (Pixabay/Reprodução)
Beatriz Quesada
Publicado em 26 de abril de 2021 às 06h00.
A Boa Safra, uma das principais beneficiadoras de sementes do Brasil, pretende trazer o agronegócio de volta à bolsa com uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) de 455 milhões de reais.
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Se tudo correr como o planejado, este será o segundo IPO do agro a deslanchar este ano – o primeiro foi o da Jalles Machado (JALL3), do segmento sucroalcooleiro. No setor de sementes, a concorrente Agrogalaxy poderia ter largado na frente, mas acabou desistindo de sua oferta alegando condições de mercado desfavoráveis.
O IPO da Boa Safra pretende captar cerca de um terço do que ambicionava a Agrogalaxy. A estimativa de captação é de 454,5 milhões de reais, considerando o valor de 11,25 reais por ação, ponto médio da faixa de preço fixada pelos coordenadores da oferta, que vai de 9,90 a 12,60 reais.
O cálculo corresponde à oferta-base, que desconsidera a venda de ações adicionais e suplementares. Com os lotes extras, a oferta pode chegar a 613,6 milhões de reais.
O preço da ação será fixado nesta terça-feira, 27. Isso quer dizer que o investidor de varejo que estiver interessado em entrar no IPO tem até hoje para fazer a reserva de ações, indicando à sua corretora que deseja participar da operação. Após a precificação, é possível adquirir as ações da empresa apenas a partir do dia 29 de abril, data da estreia da Boa Safra na B3.
A oferta é 100% primária, ou seja, todos os recursos captados vão para o caixa da companhia. Com o capital levantado na oferta, a empresa pretende financiar possíveis aquisições no setor e investir em estratégias de expansão orgânica, aumentando a participação de mercado sem englobar outros negócios já existentes.
Entenda o que os analistas pensam da oferta:
Um dos maiores benefícios do modelo de negócios da Boa Safra, segundo analistas, é o chamado modelo asset-light.
“A Boa Safra não tem lojas, não tem fazendas. A empresa conseguiu se inserir no meio da cadeia de produção de sementes de soja e gerar valor sem precisar dos ativos, ou seja, não precisa fazer grandes investimentos em ativos para gerar lucro”, explica em relatório a analista Danielle Lopes, da Nord Research.
O modelo de atuação da Boa Safra consiste em comprar a tecnologia de produção de sementes geneticamente aprimoradas, e então produzir mais sementes em fazendas terceirizadas. Em seguida, o produto passa por um processo de beneficiamento e então é vendido.
“O menor capital investido permite que a Boa Safra obtenha ROICs [retornos sobre capital investido, na sigla em inglês] mais elevados que as empresas de agro tradicionais”, acrescenta a analista Diana Stuhlberger, da Eleven Financial.
Em comparação elaborada pela casa de análise, a Boa Safra apresentou ROIC de 35,5% em 2020 contra um retorno de 14% da SLC Agrícola (SLCE3) e de 7% da Brasil Agro (AGRO3).
A Boa Safra é líder na produção de sementes de soja no Brasil, e o país é o maior produtor e exportador mundial da commodity, que tem se beneficiado do crescimento da demanda mundial, principalmente da China.
No entanto, o mercado brasileiro de sementes é muito pulverizado: os dez maiores produtores de sementes de soja possuem apenas 23% do market share. Na análise da Eleven, a condição abre espaço para consolidação da Boa Safra no mercado.
A Nord, por outro lado, destaca que a pulverização é interessante para as detentoras de tecnologia dos grãos, o que pode dificultar o crescimento da Boa Safra. A casa de análise aponta ainda que a empresa não possui contrato de exclusividade com produtores e fornecedores, o que pode ser uma barreira para a expansão.
A recomendação da Nord é para que o investidor não participe do IPO, considerando o risco de dependência que a Boa Safra tem do preço de três fatores: soja, dólar e tecnologia de produção de sementes.
“O timing do IPO para Boa Safra é perfeito, o prospecto contemplou o melhor histórico de resultados da companhia. Gostamos do crescimento que depende da empresa, mas não gostamos de depender dos preços da soja e do dólar”, conclui o relatório.
Já a Eleven recomenda a entrada no IPO com um preço-alvo de 18 reais, o que representa um potencial de valorização (upside) de 58% em relação ao ponto médio da faixa indicativa da oferta, que é de 11,25 reais.
Como razões para recomendar a compra, a casa de análise menciona bom posicionamento no mercado de sementes, localização estratégica e bom relacionamento com produtores integrados, além do modelo de negócios.
“O modelo asset light da companhia, que não detém terras, permite que ela obtenha retornos mais elevados sobre capital investido que o das empresas de agronegócio tradicionais”, afirma o relatório.
Os investidores que quiserem participar do IPO precisam avisar sua corretora sobre quantos papéis gostaria de comprar no IPO e por qual preço. O valor mínimo para participar é de 3 mil reais, e o máximo, de 1 milhão de reais. O período de reserva para participar da oferta termina hoje.
No mínimo 8% do total das ações serão destinados à oferta de varejo, sendo parte sem lock-up (restrição que impede a venda durante o prazo estabelecido) e parte com lock-up de 40 dias.
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