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Sem muitos ventos a favor, Grendene mostra resiliência e lucro líquido fica estável no 1º tri

Mercado interno sustentou vendas da dona da Ipanema e da Melissa e reajuste de preços ajudou a melhor receita por par

Unidade da Grendene em Farroupilha, Rio Grande do Sul (Divulgação/Site Exame)

Unidade da Grendene em Farroupilha, Rio Grande do Sul (Divulgação/Site Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 11 de maio de 2023 às 21h33.

Última atualização em 11 de maio de 2023 às 21h34.

No primeiro trimestre de 2023, os números da Grendene (GRND3), fabricante das sandálias Ipanema, Azaleia e Melissa, o mote foi resiliência. Não teve muito vento a favor (ao menos não tão diretos). A dinâmica econômica continuou a mesma do quarto trimestre: inadimplência alta, desemprego elevado, juros em dois dígitos. Ainda assim, houve avanços. Mas a previsão é de que o Dia das Mães seja insuficiente para trazer fôlego ao consumo.

"O segundo trimestre não mudou muita coisa. Exportação, por exemplo, deve permanecer fraca. Já para o mercado interno, a gente está esperando um desmpenho muito semelhante ao Dia das Mães do ano passado, não deve ter melhora significativa", diz o diretor de relações com investidores, Alceu Albuquerque, em entrevista à EXAME Invest.

O lucro líquido contábil caiu 1,9%, para R$ 123,1 milhões. Já o lucro recorrente, que excluiu a equivalência patrimonial da GGB e provisionamentos com perdas de três varejistas em apuros financeiros, foi de R$ 156 milhões, 18,1% maior do que um ano antes.

Entre janeiro e março de 2023, a Grendene registrou receita bruta de R$ 657,6 milhões, crescimento de 4,2% ante o primeiro trimestre do ano anterior, e uma receita líquida estável, a R$ 520,1 milhões. Já a receita bruta por par ficou em R$ 22,52, avanço de 2,1% em comparação com o mesmo período, puxada por reajustes feitos no começo do ano.

"O setor de varejo sofreu bastante e isso deteriorou ainda mais esse cenário para o consumo", explica o diretor. "Mas conseguimos um bom desempenho: crescemos em volme, receita e margem bruta. Todos indicadores que refletem operação tiveram desempenho positivo e tudo isso pelo avanço do mercado interno".

Veja também: Melissa elétrica: Grendene (GRND3) compra fatia de geradora de energia

Menos exportações e Argentina pesando

De fato, o mercado interno foi o que sustentou o negócio. As vendas no Brasil cresceram 15,2%, para R$ 495,1 milhões, com avanço de 10,7% em volumes, para 21 milhões de pares. No mercado externo, os volumes caíram 15%, para 8,2 milhões de pares, e a receita caiu 18,5% em dólares e 19% em reais, para R$ 162,5 milhões.

Setor de calçados como um todo recuou, explica Albuquerque sobre as exportações. Segundo ele, a desaceleração da economia mundial, fruto de elevada inflação global, e a China voltando a ser protagonista industrial reduziram a exportação brasileira. "Os preços dos fretes da Ásia estão recuando e deixando o produto chinês mais competitivo. Enquanto isso, os Estados Unidos estão em ritmo mais lento e a América Latina com pressão. Na Argentina sofremos bastante. Hoje ninguém quer emitir carta de crédito para os importadores argentinos. O negócio da Argentina está longe de conseguir equacionar", diz.

Boas notícias: ganho de mercado e custo de produção menor

Embora a conjuntura seja ruim, alguns fatores foram positivos para a Grendene. Sem dívida, a empresa é uma das poucas que tem se beneficiado dos juros altos: a receita financeira somou R$ 101,9 milhões, quase 15% mais que um ano antes por causa de rendimento em aplicações financeiras.

No operacional também houve ganhos. Um deles foi o começo do efeito de redução dos preços de matéria-prima, que começaram a cair há alguns meses e agora começam a se refletir no custo de produção da Grendene. "Mesmo com a redução de 6,1% do CPV que permitiu o incremento da margem bruta em 4 pontos percentuais, ainda vemos oportunidades para melhorias, principalmente no componente matéria-prima, dado que o custo médio de estoque da resina da PVC, que é o principal insumo da companhia, se mantém acima do seu custo médio de reposição", explica. Conforme vai consumindo seus estoques antigos e mais caros, a Grendene reduz seu CPV. Ao fim do primeiro trimestre a margem bruta da companhia era de 41,9%.

A empresa também viu sua participação de mercado ficar maior, segundo Albuquerque, especialmente no canal de autosserviço (supermercados), que não é o principal em vendas para a Grendene. "No canal de autosserviço crescemos 0,8 pontos percentuais. É o terceiro ou quarto trimestre seguido que temos ganhado share nesse canal", diz ele, explicando que esse não é o mais representativo para a Grendene e, sim, as sapatarias. "Nossa estratégia é de conceder os menores reajustes possíveis para impactar menos a demanda. Estamos colhendo frutos da nossa estratégia." No primeiro trimestre, a Alpargatas, dona da Havaianas e concorrente direta da Grendene e sua marca Ipanema, reportou queda de 2,7% na receita líquida e redução de 8% no volume vendido. 

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