“Se o Banco Central não embarcar em uma alta de juros mais intensa até o final de 2021, haverá um grande risco inflacionário para o próximo ano”, diz Leal (Rio Bravo/Divulgação)
Beatriz Quesada
Publicado em 12 de março de 2021 às 06h30.
Os temores com a inflação aumentaram no Brasil nesta quinta-feira, 11, após o IPCA de fevereiro voltar a superar as estimativas de mercado, ficando em 5,20% no acumulado de 12 meses – muito próximo do topo da meta de inflação, de 5,25% para este ano.
No mês, a alta do IPCA foi de 0,86%, bem acima das estimativas de mercado que apontavam uma alta de 0,72%. A inflação acumulada é a maior desde janeiro de 2017.
Os números surpreenderam o mercado e aumentaram a pressão para que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a taxa de juros Selic na reunião da semana que vem, programada para os dias 16 e 17 de março.
Para João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos, o comunicado após a reunião será ainda mais importante que a elevação da taxa. “O mercado já espera que o Banco Central inicie e mantenha um ciclo de elevação da Selic até o final do ano. Então, se a comunicação for nesse sentido, haverá um impacto positivo, com diminuição de risco e apreciação do câmbio”, diz.
Leal projeta um cenário de elevação de 50 pontos base em sequência para as próximas cinco reuniões do Copom – nas duas últimas reuniões do ano, a expectativa é de estabilização da taxa de juros. Sendo assim, a Selic aumentaria 0,5 ponto percentual (p.p.), para 2,5% ao ano já em março, e chegaria ao final de 2021 em 4,5% ao ano.
“Se o Banco Central não embarcar em uma alta de juros mais intensa até o final de 2021, haverá um grande risco inflacionário para o próximo ano”, completa o economista.
Confira a entrevista de Leal à EXAME Invest:
Com a alta do IPCA, como ficam as perspectivas para a reunião do Copom na próxima semana? Até onde vai a Selic?
O resultado de hoje veio muito acima das nossas expectativas e reforça o que já vinha sendo projetado. A maior pressão no índice cheio (IPCA nos últimos 12 meses) reforça nossa expectativa de uma alta de 50 pontos-base para a reunião do Copom da semana que vem. Vale lembrar que um reforço, mas não é impulso adicional para que o BC suba ainda mais os juros ainda em março.
A expectativa da Rio Bravo para a Selic mudou muito desde o início do ano?
Com certeza nossas expectativas mudaram bastante. Em janeiro esperávamos uma Selic em torno de 3,5% e 3,75% ao ano, projetando uma alta que começaria somente em maio, com 25 pontos base. Porém, vimos uma piora muito grande das condições financeiras, principalmente com a pressão causada pela alta no preço das commodities – em especial do petróleo – somadas a uma depreciação do câmbio, que traz parte do risco fiscal embutido na moeda. Tudo isso acabou reverberando sobre a inclinação na curva de juros e deve levar o Banco Central a subir a taxa de forma mais rápida e intensa, para 4,5% ao ano no final de 2021.
Também mudaram as perspectivas para a inflação?
No início do ano, projetávamos um IPCA de 3,3% – e na época já era acima do que parte do mercado esperava. Mudamos para 4,8% ao final deste ano, com viés de alta. É um resultado ainda dentro da meta de inflação, mas bem acima do centro da meta para este ano, que é de 3,75%.
O que explica a alta do IPCA?
A pressão vem de dois fatores: câmbio e preço internacional de commodities – especialmente o petróleo, que vai continuar pressionando o combustível. Apesar de haver uma tentativa do presidente [Jair Bolsonaro] para que não ocorram reajustes nos preços dos combustíveis, acreditamos que eles vão continuar a acontecer de forma intensa até o final do ano.
Outro ponto é que essas duas pressões não vão se encerrar 2021. No ano que vem, as economias devem estar majoritariamente reabertas e a demanda por petróleo deve aumentar bastante, impulsionando o preço do combustível. Sem contar que 2022 é ano de eleição e já estamos vendo alguns movimentos de antecipação de campanha, o que causa um estresse cambial.
A alta da Selic vai aliviar o câmbio ou veremos o dólar acima de 6 reais?
Para o final do ano, ainda acreditamos no dólar negociado entre 5,2 reais e 5,25 reais. Por outro lado, acreditamos que a alta da semana que vem não deve gerar um impulso tão grande sobre o câmbio com a apreciação do real porque deve ser uma confirmação do que já está sendo esperado pelo mercado.
O que vai ser mais importante é a comunicação do Banco Central pós-Copom. Se eles deixarem a porta aberta para novas altas intensas, haverá um impacto positivo na apreciação do câmbio. Já se o comunicado for mais comedido e neutro, o câmbio pode voltar a estressar.