Copom: BTG Pactual traz os principais destaques do comunicado (Marcelo Casal/Agência Brasil)
Repórter de finanças
Publicado em 20 de junho de 2024 às 11h02.
Última atualização em 20 de junho de 2024 às 14h17.
Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 10,50% ao ano na reunião desta última quarta-feira, 19. A decisão interrompe o ciclo de corte de juros no Brasil, iniciado em setembro do ano passado. O movimento já era aguardado pelo mercado, com as expectativas voltadas para a logística da votação e o comunicado.
Em relatório publicado pelo BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME), os analistas Claudio Ferraz, Bruno Balassiano e Bruno Martins destacam seis pontos do comunicado para entender o que guiou a decisão do Banco Central (BC).
Como esperado, a decisão se alinhou às expectativas da maioria dos analistas de mercado. Uma pesquisa da Bloomberg mostrou que dos 36 analistas consultados, 34 (incluindo os do BTG Pactual) anteciparam a manutenção da taxa, frente a outros dois que esperavam um corte adicional.
Entretanto, um ponto que chamou a atenção do BTG Pactual foi o comunicado em tom mais dovish do que o antecipado. Apesar do início da política contracionista, os especialistas chamam a atenção para a referência do Copom a uma “interrupção do ciclo”, e não ao seu encerramento. “[Também não houve] alteração no balanço de riscos para a inflação e as projeções ficaram ligeiramente abaixo das nossas expectativas.”
Na visão do banco, o movimento parece mostrar que o comitê quis evitar adicionar mais instabilidade ao mercado em meio às últimas semanas turbulentas. No entanto, o BC enfatizou que a necessidade de manter essa política monetária contracionista até que o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas de inflação estejam consolidados.
O cenário externo também foi um dos pontos destacados pelo Copom, com ênfase para os Estados Unidos, em que há incertezas quanto à flexibilização da política monetária por lá. Somado a isso, de acordo com o BTG Pactual, o Copom também enfatizou que há dúvidas sobre a velocidade da queda sustentada da inflação em diversos países.
“Os bancos centrais das principais economias permanecem focados em alcançar as metas de inflação em meio a pressões nos mercados de trabalho. Este cenário exige cautela dos países emergentes, conforme destacou novamente o Copom.”
Nesta quinta-feira, 20, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), por exemplo, manteve novamente a taxa básica de juros do país em 5,25%. O comitê de política monetária britânico reconheceu o retorno da inflação para a meta de 2%, mas enfatizou que a inflação de serviços ainda persiste. Também nesta quinta, o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve suas taxas inalteradas em 3,45% (taxa de empréstimo de um ano) e 3,95% (taxa de cinco anos).
No âmbito doméstico, o Copom observou que a atividade econômica e os indicadores do mercado de trabalho continuam a mostrar maior dinamismo do que o esperado. “A inflação ao consumidor seguiu uma trajetória desinflacionária, mas as medidas de núcleo da inflação permanecem acima da meta nas divulgações recentes”, diz o relatório do BTG Pactual.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 subiram para 4% e 3,8%, respectivamente, enquanto as projeções de inflação do Copom estão em 4% para 2024 e 3,4% para 2025 (contra 3,8% e 3,3% anteriormente).
O quarto ponto do comunicado citado no relatório do BTG Pactual é o monitoramento rigoroso do Copom em relação à política fiscal. Segundo os analistas, o comitê reafirmou a importância de uma gestão financeira crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida para ancorar as expectativas de inflação e reduzir os prêmios de risco sobre os ativos financeiros. “O comitê continuará a monitorar atentamente os desenvolvimentos fiscais e seus impactos sobre a política monetária.”
O relatório do BTG Pactual também destaca que o Copom removeu a passagem que se referia à decisão para a próxima reunião, conhecido como forward guidance. Entretanto, o comitê enfatizou que a política monetária deve permanecer contracionista até que o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas em torno das metas estejam consolidados.
“A decisão unânime refletiu uma postura mais cautelosa, à luz da resiliência da atividade econômica, das projeções de inflação em alta e das expectativas desancoradas. O comitê também ressaltou que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão guiados pelo firme compromisso de alcançar a meta de inflação.”
Em resumo, o comunicado do Copom não trouxe grandes mudanças na visão dos analistas do BTG Pactual, mas o ponto-chave foi a ênfase do comitê quanto à continuidade da cautela na condução da política monetária, refletindo a resiliência da atividade econômica e as expectativas de inflação desancoradas.
Já sobre a decisão unânime, os analistas avaliam que o comitê está preparado para manter a taxa atual até que haja sinais mais claros do processo de desinflação e da ancoragem das expectativas.
“Com o cenário alternativo indicando que uma taxa Selic constante ao longo do horizonte relevante poderia entregar inflação próxima da meta em 2025, por ora, o comitê reforça a impressão de manutenção das taxas por um período mais longo. Aguardaremos a ata para mais detalhes sobre a avaliação do comitê.”
O BTG Pactual também decide manter a previsão da Selic terminal em 10,50% para 2024, enquanto monitora a evolução dos cenários doméstico e externo.