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Se o PIB decepcionar, a bolsa poderá ficar cara, diz gestor da BlackRock

Para Ed Kuczma, responsável pelo portfólio de renda variável da América Latina, ações de construtoras e varejistas com operação na internet devem subir

Ed Kuczma, da BlackRock: papéis de frigorífico e de bancos podem decepcionar investidores brasileiros (BlackRock/Divulgação)

Ed Kuczma, da BlackRock: papéis de frigorífico e de bancos podem decepcionar investidores brasileiros (BlackRock/Divulgação)

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Natália Flach

Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 06h05.

Última atualização em 17 de janeiro de 2020 às 07h05.

São Paulo - Há exatamente um ano, quando Ed Kuczma assumiu a gestão do portfólio de ações da América Latina da gestora BlackRock, havia um enorme otimismo com o crescimento do Brasil. Bastava que o país aprovasse a reforma da Previdência para que a economia fosse destravada. A pauta foi aprovada, mas o avanço do produto interno bruto (PIB) ficou para 2020. "Estimamos um crescimento da ordem de 2% a 2,5%, número abaixo do potencial do Brasil", afirma o executivo. "Acho que as melhorias estruturais vão dar base para um crescimento sustentável de 3%, a partir do ano que vem, o que deve atrair investidores para o país."

Mesmo com o PIB abaixo do projetado inicialmente para 2019 — de pouco mais de 1% —, Kuczma conseguiu encontrar ativos que superaram a rentabilidade de indicadores usados como referência. É o caso do principal fundo da carteira de 1,9 bilhão de dólares em ações, do qual o Brasil responde por 72%. O retorno do BGF Latin American foi de 18,96% ante a alta de 17,46% do índice MSCI Latin America.

"Vimos uma migração relevante de ativos de renda fixa para renda variável, e isso puxou para cima o valor das ações. Então, se o PIB voltar a decepcionar neste ano, acho que a bolsa poderá ficar muito cara. Já vemos o múltiplo preço sobre lucro das boas empresas ser negociado acima da média histórica."

 

Veja abaixo os principais trechos da conversa.

EXAME: Quais setores devem se destacar na bolsa em 2020?

Acho que as construtoras vão se beneficiar das taxas de juros mais baixas. A expectativa é que elas lancem mais projetos e vendam mais. Também estou muito otimista com as companhias aéreas: se a recuperação econômica vier, os aviões ficarão mais cheios. Além disso, gosto de empresas do comércio eletrônico, como Mercado Livre, B2W e Magazine Luiza, já que existe a tendência de que as pessoas usem mais os canais online para consumo.

EXAME: Essas empresas estão caras na bolsa?

Os papéis estão negociando acima da média histórica, mas há espaço para crescimento. A participação de mercado do comércio eletrônico é pequena no Brasil, de cerca de 5%, quando em mercados mais desenvolvidos chega a 20%.

EXAME: E quais setores podem decepcionar?

Em 2019, as ações de frigoríficos subiram muito impulsionadas pelo problema do rebanho na China. Acredito que os investidores que tentarem projetar margens crescentes para os próximos três anos podem se decepcionar. Ao mesmo tempo, há muita pressão sobre as tarifas no setor bancário, com a redução das taxas de juros e muita pressão nas taxas da nova concorrência, pois há muitas empresas de tecnologia de ponta entrando no mercado e levantando capital. Portanto, acredito que o retorno sobre as ações dos bancos cairá nos próximos dois anos.

EXAME: Na sua opinião, quais podem ser os impactos da guerra comercial entre Estados Unidos e China para o Brasil? E as eleições americanas?

O Brasil deve se beneficiar, não importa o resultado. A explicação é simples: a China terá de diversificar seus parceiros comerciais e isso pode abrir portas para o Brasil. Mas é claro que a guerra comercial pode se acentuar e consequentemente desacelerar o crescimento global, o que teria efeitos drásticos para o país. Já as eleições americanas terão mais impacto para o México do que para o Brasil, porque, no passado, os candidatos usaram as relações entre os países — tanto no que se refere a negociações do bloco Nafta quanto de imigração — durante e após o pleito. Acho que o motor do mercado acionário brasileiro vai ser o cenário doméstico.

EXAME: Como filtrar quais informações são importantes na hora de analisar os mercados e as ações?

Às vezes, acho que o número de informações pode ser excessivo e que os mercados se movem muito rapidamente — na velocidade de uma mensagem no Twitter. Para não ficar exasperado, o importante é procurar boas empresas que têm possibilidade de crescer, apesar de tanto barulho. É importante focar nos fundamentos, apesar de ser desafiador. No nosso caso, temos 35 profissionais dedicados a analisar papéis de mercados emergentes e gerenciar 20 bilhões de dólares em ativos.

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