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Santander inicia temporada de balanços dos 'bancões' - que promete Itaú no topo e BB na lanterna

Bradesco, que estava entre os menos favoritos do mercado, promete mais um trimestre de recuperação

Sede do Santander Brasil (Santander/Divulgação)

Sede do Santander Brasil (Santander/Divulgação)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Repórter de negócios e finanças

Publicado em 29 de julho de 2025 às 09h09.

Última atualização em 29 de julho de 2025 às 10h22.

Com as normas de contabilidade que entraram em vigor este ano, ficou mais fácil comparar o resultado de instituições financeiras brasileiras com os balanços das listadas no exterior. Por outro lado, a adesão a regras internacionais penalizaram algumas das ações de maior peso do Ibovespa ao provocar mudanças profundas na forma como os grandes bancos são vistos pelos investidores. O Banco do Brasil (BBAS3), que disputou o pódio de maior rentabilidade com Itaú em anos recentes, agora está ficando na lanterna por efeito dessa nova resolução.

É que os bancos passaram ao ter limitações em reconhecer juros vindos de operações de crédito em estágio 3, o maior grau de risco de inadimplência. Não se pode mais contabilizar essa receita pelo regime de competência, apenas pelo regime de caixa, ou seja, quando ela for efetivamente paga ao banco. Além disso, a norma amplia a necessidade de provisionamento em momentos de inadimplência elevada, o que também joga contra o BB, que tem alta exposição ao crédito do agronegócio, setor abalado por uma série de recuperações judiciais.

Isso tende a deixar o Itaú na posição de liderança isolada entre os "bancões" na atual temporada de balanços, tanto em termos de margem financeira quanto de rentabilidade. Mas tem um player que andava em baixa e volta brilhar aos poucos, com apostas de continuidade de recuperação no segundo trimestre: o Bradesco. Veja, a seguir, o que os analistas de BofA, Itaú BBA, Santander, XP e Genial esperam para a nova leva de resultados das maiores instituições financeiras da bolsa.

Santander: correndo por fora com resultados moderados

Como de costume, o Santander Brasil (SANB11) dará o start na temporada dos "bancões". Vai apresentar os resultados na manhã desta quarta-feira, 30, antes da abertura da Bolsa. O consenso do mercado aponta para um lucro líquido de R$ 3,819 bilhões, o que representa um crescimento de dois dígitos em relação ao mesmo período do ano passado.

O BofA prevê um aumento moderado nos empréstimos do banco e calcula uma margem com clientes de R$ 14,493 bilhões. Os analistas acreditam que o Santander Brasil deve seguir com uma abordagem conservadora em empréstimos e registrar uma leve alta na concessão de crédito corporativo.

"O crescimento da carteira de crédito deve ser impulsionado por clientes de alta renda e pequenas e médias empresas", diz o relatório do BofA. A receita líquida com juros, porém, tende a ser impactada pela margem com o mercado negativa, já que o resultado das operações de tesouraria do banco tendem a sofrer com as taxas de juros mais altas. Os analistas também esperam a prática de spreads maiores (diferença entre taxas de captação e de empréstimos feitos pelo banco), o que, por sua vez, beneficia a margem com clientes.

Ainda assim, pelos cálculos da XP, a receita líquida com juros deve ficar negativa em mais de 1% na comparação com o primeiro trimestre, apesar da apresentar uma elevação de quase 7% ano a ano. Em relação à qualidade dos ativos, a casa estima um aumento na inadimplência da carteira para empréstimos acima de 90 dias, para 3,4%, e um crescimento trimestral de 3% nas provisões para possíveis perdas, de R$ 6,6 bilhões.

O ROE, marcador de rentabilidade do banco deve ser de 16,4%, nos cálculos dos analistas do Itaú BBA, que também preveem que a carteira de crédito do Santander Brasil termine o trimestre em R$ 692,18 bilhões.

O ritmo de crescimento da base de empréstimos deve ficar abaixo da média do sistema, aponta a Genial. "A desaceleração reflete, sobretudo, a postura mais cautelosa do banco na originação, combinada com o impacto da valorização do real sobre a carteira em moeda estrangeira e com a tributação adicional sobre operações de risco sacado (IOF)", escreveram os analistas da casa.

Bradesco: não tão bom quanto o 1º tri - mas ainda 'bem na fita'

O segundo trimestre promete firmar o nome do Bradesco como um dos preferidos do sell side entre os "bancões". Os analistas esperam uma expansão da margem financeira no terceiro trimestre e revisão nas estimativas para este o próximo ano. O balanço será divulgado nesta quarta-feira, 30, após o fechamento da bolsa.

Para os analistas da XP, os números devem vir sólidos, mas alguns indicadores não serão tão bons quanto os do primeiro trimestre. O crescimento da carteira de empréstimos, por exemplo, que avançou 12,9% nos três primeiros meses do ano, deve ser de 12% no intervalo entre abril e junho. A margem das operações de tesouraria em nada devem contribuir com essa leva de resultados, dada à pressão dos juros mais altos. Por outro lado, com custos de financiamento mais baixos, a margem com clientes deve ter um crescimento forte de dois dígitos.

A receita líquida de juros, por sua vez, deve crescer 14,5% na comparação anual, para R$ 17,233 bilhões, de acordo com cálculos dos analistas da casa. "E ainda que esperamos uma desaceleração em seguros, comissões e taxas, esses segmentos devem continuar apresentado crescimento sólido", diz o relatório. Ponto negativo para as despesas operacionais, que devem se manter elevadas acima da faixa superior do guidance para 2025.

"O Bradesco se mantém no caminho, mas a melhora vai ocorrer em fases, não em linha reta", concluem os analistas. O custo de risco em patamares saudáveis, diz o relatório, deve contribuir com um aumento bem pouco expressivo das provisões para perdas do banco. Esse é também um ponto destacado pelo BofA que vê o portfólio do banco mais seguro, com o suporte de empréstimos com garantia em segmentos de maior renda. Investimentos em infraestrutura, diz o banco, devem continuar elevados.

O Itaú BBA prevê ROE de 14,7%, com expansão de margem financeiras e em seguros compensando maiores custos de risco e despesas gerais e administrativas. Para os analistas, os resultados do segundo trimestre poderão levar a revisões sobre o lucro do Bradesco mais adiante. Nos cálculos da casa, a carteira de crédito do banco deve avançar para R$ 1,02 bilhão e essa também é a estimativa da Genial, com crescimento de menos de 2% em relação ao primeiro trimestre.

"O banco segue avançando em seu plano de reestruturação, com fechamento de agências, digitalização do segmento massificado, foco no público de alta renda e busca por eficiência. A prioridade tem sido melhorar a qualidade dos ativos e recuperar a rentabilidade, mesmo que isso implique em um crescimento de crédito mais contido em 2025", escreveram os analistas.

O research do Santander, por sua vez, recomenda cautela moderada com o banco e prevê que a reação do mercado não deve repetir a do primeiro trimestre, quando as ações subiram forte após a divulgação do balanço.

Itaú: a maior rentabilidade do grupo

O maior banco da América Latina vai divulgar seus resultados no próximo dia 5 de agosto, após o fechamento da bolsa. O consenso do mercado aponta para um lucro líquido de R$ 11,38 bilhões no segundo trimestre de 2025, um novo recorde.

Outro top pick das áreas de research das corretoras, o Itaú deve entregar a maior rentabilidade entre os "bancões". O BofA aposta em ROE de 22,6%, refletindo sólido crescimento de receita com juros, com controle de qualidade de ativos, ainda que um avanço moderado em volume de empréstimos. Assim com as demais instituições financeiras, é esperado que o Itaú tenha boas margens com clientes ofuscadas por resultados fracos em margens com o mercado, devido a Selic alta. A receita líquida com juros deve ficar próxima de R$ 31 bilhões.

"A qualidade de ativos deve se manter sob controle, dada a visão conservadora do banco em relação a empréstimos, levando a uma estabilidade no custo de risco", diz o relatório do BofA. O banco prevê bons resultados em seguros e desaceleração em taxas.

Os agentes do mercado preveem um avanço moderado na carteira de crédito do banco, se aproximando da casa de R$ 1,4 trilhão. A valorização do real impacta a carteira em moeda estrangeira. "O crescimento anual segue suportado por um mix saudável de originações", dizem os analistas da Genial. A inadimplência, já em patamares historicamente baixos, também não deve mudar muito. "Novas melhoras na qualidade do indicador exigiriam sacrifício de receita e rentabilidade, algo improvável em um ambiente com Selic elevada e inflação persistente", completa o relatório.

A XP projeta inadimplência acima de 90 dias em 2,4%, com um impulso, ainda que moderado, de pequenas e médias empresas. "De maneira geral, não prevemos que os resultados do trimestre sejam gatilho para qualquer reação mais forte do mercado", escrevem os analistas da casa. Recentemente, as ações do Itaú sofreram um downgrade pelo UBS e alguns analistas dizem que o banco se tornou "vítima do próprio sucesso", por ficar cada vez mais difícil surpreender em cima de resultados fortes.

Banco do Brasil: de favorito à lanterna

Para os analistas, o Banco do Brasil deve apresentar os resultados mais fracos da temporada entre os "bancões". Os números serão apresentados no dia 14 de agosto, após o fechamento da bolsa. O consenso do mercado prevê lucro líquido de R$ 5,92 bilhões.

O BB tende ser impactado por maiores provisões, em decorrência da piora na qualidade de crédito, principalmente ligado ao agronegócio. A instituição financeira tem um terço de sua carteira exposta ao crédito rural. Para o Itaú BBA, o efeito de provisões deve se estender por vários trimestres. "Uma recuperação é mais provável no segundo semestre de 2026, em nossa visão", apontam os analistas, que calculam que a carteira de crédito do banco tenha terminado o período em R$ 1,3 trilhão. O BBA estima lucro líquido de R$ 5,27 bilhões para o BB.

Santander e BofA estão menos otimistas. O primeiro prevê lucro R$ 4,8 bilhões, bem abaixo do consenso, por conta da deterioração dos empréstimos agrícolas que devem impactar na inadimplência e em provisões. Mas além disso, a previsão é de menores receitas com juros, dado ao reconhecimento limitado de margens com empréstimos de alto grau de inadimplência. O BofA calcula que a receita líquida de juros deve sofrer uma queda anual de 2% e uma alta de somente 5% na comparação com o primeiro trimestre, para R$ 25,012 bilhões.

A Genial aposta em provisões da ordem de R$ 13,2 bilhões, o que representaria um aumento de quase 70% ano a ano e de 30%, na comparação com o primeiro trimestre. Também espera por uma "nova piora relevante" de rentabilidade para o BB. O ROE, que deve vir em menos de 11%, pelos cálculos dos analistas, ficaria abaixo do custo de capital do banco. E não é só a carteira de crédito rural que deve enfrentar deterioração: a expectativa é de piora na inadimplência das carteiras de pessoa física e pequenas e médias empresas, sobretudo em operações renegociadas.

Também é esperado que o banco anuncie uma redução no payout, o percentual do lucro distribuído em dividendos. "Existe a possibilidade de o banco reduzir o payout para abaixo dos 40% a 45% observados nos últimos anos — movimento que refletiria uma postura mais conservadora, com foco na preservação de capital", diz o relatório da Genial.

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