Mercado financeiro: da China à Vale, somatório de desafios puxou para baixo o Ibovespa nos últimos dias / (REUTERS/ Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de fevereiro de 2019 às 06h36.
Última atualização em 8 de fevereiro de 2019 às 06h51.
Havia certa expectativa entre investidores e operadores de que finalmente o principal índice acionário brasileiro iria ultrapassar a barreira histórica de 100 mil pontos esta semana. Chegou bem perto: na segunda-feira, 4, o Ibovespa ficou a 1,4% da marca. Mas, então, vieram uma piora do cenário externo, informações desencontradas sobre o desastre de Brumadinho (MG) e incertezas sobre o tempo que deve levar para a reforma da Previdência sair do papel. O resultado dessa combinação foi uma queda acentuada do indicador, que retraiu 4,24% de segunda até ontem, 7. Para analistas ouvidos por EXAME, ainda há espaço para novos recuos.
Segundo o analista gráfico da Clear André Moraes, o movimento de queda era esperado e é até bem-vindo, pois permite que os investidores façam novas compras. “A surpresa foi a intensidade do recuo. De agosto até o fim do segundo turno presidencial, tivemos uma queda acumulada de 7%, mas foi algo mais espaçado e suave, diferente do que aconteceu agora”, diz.
De qualquer forma, o especialista explica que não houve mudança de tendência, ou seja, o viés do Ibovespa ainda é de alta. “É possível que o índice caia para algo entre 90 mil e 92 mil pontos, mesmo que a tendência continue de alta. No entanto, se cair para baixo de 89 mil pontos acende-se um alerta. Menos do que 85 mil pontos representa claramente uma reversão de tendência para um viés de baixa”, afirma.
No sentido contrário, se chegar aso 100 mil pontos, é sinal de que o otimismo voltou aos mercados, o que pode fazer o índice ir logo para os 115 mil. “A bolsa está barata quando se analisa o indicador dolarizado. Está 40% abaixo da máxima história em dólar”, afirma. Isso significa que ainda há muitas oportunidades de compra no mercado acionário.
Mas nem só de gráficos vivem os investidores. A corrente fundamentalista vê correlação entre o mau humor externo – provocado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China – e a queda na semana. “O encontro entre Donald Trump e Xi Jinping só deve acontecer depois do prazo estabelecido para solução dos embates comerciais entre os dois países, marcado para 1º de março. Essa notícia trouxe pessimismo para o mercado que respondeu com uma queda imediata dos principais índices nos Estados Unidos”, explica Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset.
Além disso, a situação da Vale se torna cada vez mais crítica com novas informações de que a mineradora havia sido avisada sobre os riscos de rompimento da barragem em Brumadinho, que já matou mais de 150 pessoas. É bom lembrar que o peso da Vale no Ibovespa é de quase 10%, o que acaba ajudando a determinar o rumo do indicador.
Por fim, há dúvidas de quando a proposta sobre a reforma da Previdência deve ser apreciada pelo Congresso. Arthur Lira, líder do PP, disse na quarta-feira, 6, que não há clima para avaliar a proposta sem alinhamento do governo na Casa. Isso azedou o humor. Mas bastou Rodrigo Maia, presidente da Câmara, falar, na quinta 8, que a PEC vai ser votada até maio que o Ibovespa ganhou 500 pontos imediatamente. A única certeza, nos próximos dias, é que vem mais volatilidade pela frente.