Alexandre de Moraes esteve em Lisboa e participou de evento sobre mudanças climáticas (Carlos Moura/SCO/STF/Flickr)
Guilherme Guilherme
Publicado em 23 de novembro de 2022 às 07h52.
Última atualização em 23 de novembro de 2022 às 08h02.
O mercado brasileiro, que já vinha tenso com as negociações sobre a PEC da Transição, foi surpreendido por um novo risco no horizonte, após o Partido Liberal (PL), do presidente Jair Bolsonaro, ter oficializado ao TSE seu questionamento sobre o resultado das eleições. O risco, que ainda antes do primeiro turno Luís Stuhlberger classificou como "República das Bananas", derrubou a bolsa e fez subir o preço do dólar no último pregão.
Tentativas de provocar um tumulto sobre o processo eleitoral já eram esperadas por parte do investidores. Há dois anos, afinal, o mercado teve esperiência semelhante com Donald Trump nos Estados Unidos. Na dúvida, investidores precificam o risco de maior instabilidade. Mas uma reviravolta sobre o resultado das eleições está longe de ser o cenário base no mercado.
O PL tenta invalidar 279.336 das urnas por supostas "desconformidades de mau funcionamento" com base em relatório do Instituto Voto Legal (IVL). O instituto é o mesmo que serviu de fonte para o partido de Bolsonaro contestar o processo eleitoral antes do segundo turno. Na ocasião, o TSE classificou as alegações como "falsas e mentirosas". Para o mercado, este deve ser apenas mais um "ruído".
A maior preocupação de investidores, hoje, segue com os riscos fiscais associados às propostas para deixar o Bolsa Família de fora do teto de gastos. A expectativa é de que o texto final da PEC de Transição seja apresentado nesta quarta-feira, 23. Na minuta da PEC entregue pela equipe de transição na semana passada, previa-se cerca de R$ 200 bilhões extra-teto e sem um prazo de validade para que as despesas com programa voltassem para dentro do teto de gastos.
Propostas alternativas à PEC da Transição, com prazos e gastos menores, foram apresentadas nos últimos dias por senadores do PSDB, chegando a provocar algum otimismo no mercado. O esperado é de que as negociações cheguem a um meio termo.
Bolsas de valores operam em leve alta no mercado internacional, com investidores no aguardo da divulgação da ata da última reunião do FOMC, o comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed). O documento, que será divulgado às 16h (de Brasília), deve trazer detalhes sobre a quarta alta de juro de 0,75 ponto percentual e visão de seus membros para as próximas decisões.
As sinalizações da última decisão foram de que já poderia haver espaço para o Fed reduzir o ritmo de alta de juros, passado para um ajuste de 0,50 p.p. já nas próximas reuniões -- mas com a manutenção dos patamares elevados por mais tempo. As apostas, hoje, são de que a alta de juros mais branda passe a valer já em dezembro, na última decisão do Fed no ano. Uma quinta alta de 0,75 ponto percentual, no entanto, ainda é precificada com 25% de probabilidade, segundo monitor do CME Group.
"Hoje, todos os olhos estão voltados para a ata do FOMC, o grande evento antes de um resto de semana mais calmo, quando os Estados Unidos entram no feriado de Ação de Graças", pontuaram estrategistas do ING em relatório. Segundo eles, o mercado estará atento aos sinais de que o plano de manter os juros altos por mais tempo "está vinculado à dinâmica de curto prazo dos Índices de Preço ao Consumidor americano (CPI, na sigla em inglês)."
O CPI de outubro, vale lembrar, divulgado já após a reunião do FOMC, saiu abaixo do esperado, provocando fortes altas nas bolsas globais. Os estategistas do ING pontuam que pode haver um novo rali para as bolsas nesta quarta, se a ata apresentar os sinais de que o tom mais contracionista de Powell está mesmo associado aos CPIs.