O presidente russo, Vladimir Putin: desvalorização da moeda russa provocou um movimento de pânico na população (Maxim Shemetov/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2014 às 23h01.
Moscou - O rublo russo continuou caindo nesta terça-feira apesar do grande aumento das taxas de juros pelo banco central da Rússia, pressionando o presidente Vladimir Putin, impotente diante de uma crise monetária que adquire tons dramáticos.
Após uma queda na última segunda-feira de 9,5%, sem precedentes desde a crise financeira de 1998, a moeda russa chegou a se desvalorizar mais de 20% nesta terça-feira, alcançando um nível inédito de 100 rublos por euro e 80 por dólar. Mais tarde, o rublo se recuperou um pouco, cotado a 90 unidades por um euro e 72 por um dólar.
O índice russo RTS, denominado principalmente em dólares, recuou 12%, nível mais baixo desde 2009.
A desvalorização da moeda russa -que caiu desde o início do ano cerca de 60% em relação ao dólar- provocou um movimento de pânico na população, que troca rublos desvalorizados por dólares ou euros, a dois dias da aguardada coletiva de imprensa anual do presidente russo.
Tudo isso acontece em um contexto de grande tensão política com o Ocidente, devido ao papel de Moscou na crise ucraniana, e de risco para a economia russa, que pode entrar em recessão.
As pesadas sanções econômicas ocidentais contra a Rússia adotadas por causa da anexação da Crimeia e a queda dos preços do petróleo -de onde vem metade das receitas do país- são duas das principais causas da grave crise financeira e econômica russa.
"A situação no país é totalmente instável. Sentimos medo", lamenta Yulia, entrevistada em frente a um banco de Moscou. "Tenho medo de que a gente volte à situação dos anos 1990", acrescenta, em referência à grave crise econômica enfrentada pelo país com o fim da União Soviética.
Como recuperar a confiança?
Em uma tentativa de conter a queda do rublo, o banco central russo anunciou na noite desta segunda-feira um aumento expressivo de sua taxa básica de juros, que passou de 10,5% a 17%, mais do que o triplo em relação ao início do ano.
Enquanto o presidente Putin permanece calado, o chefe de governo Dimitri Medvedev organizou uma reunião de ministros do setor econômico.
Os ministros não falaram, entretanto, na possibilidade de restringir os movimentos de capitais, limitando, por exemplo, as compras de divisas. O mercado teme esta opção extrema ante a queda contínua do rublo, apesar da elevação das taxas do banco central.
Na televisão, a presidente do instituto emissor, Elvira Nabiulina, alertou que o recuo do rublo "levará tempo".
"Temos que aprender a viver em um novo momento, a orientar nossas próprias fontes de financiamento e nossos próprios projetos", afirmou.
Na segunda-feira, o banco central advertiu que a queda dos preços do petróleo pode resultar em uma contração de quase 5% da economia russa no ano que vem.
Agora, "o principal problema é recuperar a confiança da população, que está convertendo cada vez mais suas economias em dólares", dizem os economistas do banco russo Alfa.
Para a população, as consequências da queda do rublo são muito concretas: o aumento dos preços se aproxima dos 10% ao ano e pode subir ainda mais.
Os economistas do gabinete londrino Capital Economics alertaram que a estratégia do banco central russo de subir as taxas de juros tem um preço: "um novo encarecimento dos créditos para as famílias e as empresas, e um retrocesso ainda mais forte da economia real em 2015".
Com uma taxa de juros a 17%, o crédito imobiliário deve ficar agora em torno de 22%, segundo o cálculo do site Lenta.ru, percentual dificilmente sustentável para os russos, cujo poder aquisitivo já está seriamente corroído pela inflação.