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Rodopa tem plano de emitir dívida ameaçado por crise

A crise da dívida europeia e os sinais de enfraquecimento da recuperação da economia americana estão levando investidores a evitar papéis de dívida de alto rendimento

A Rodopa, com sede em Barueri, está tentando vender até US$ 150 milhões em dívida  (Divulgação/Independência)

A Rodopa, com sede em Barueri, está tentando vender até US$ 150 milhões em dívida (Divulgação/Independência)

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Da Redação

Publicado em 16 de abril de 2012 às 09h10.

Nova York e São Paulo - O aumento dos custos da dívida para empresas com as menores classificações de risco está alimentando especulações de que o frigorífico Rodopa Exportação de Alimentos e Logística Ltda. não terá sucesso novamente em seu plano de emitir títlulos no exterior.

A Rodopa, com sede em Barueri, está tentando vender até US$ 150 milhões em dívida denominada na moeda americana sete meses após adiar a oferta, segundo a Fitch Ratings Ltd. O rendimento médio de papéis de dívida vendidos por empresas da América Latina que compartilham da nota de crédito B- da Rodopa saltou 75 pontos-base, ou 0,75 ponto percentual, neste mês, para 10,94 por cento, segundo dados do Credit Suisse Group AG.

A crise da dívida europeia e os sinais de enfraquecimento da recuperação da economia americana estão levando investidores a evitar papéis de dívida de alto rendimento. As captações de companhias brasileiras no exterior diminuíram em abril, depois de atingirem o recorde de US$ 24,2 bilhões no primeiro trimestre. A Rodopa, quarta maior processadora de carne bovina do País, está se reunindo com investidores até 19 de abril para tentar despertar a demanda por sua primeira emissão externa, disse uma pessoa próxima às conversas.

“Eles estão vindo a mercado em um momento muito complicado”, disse Marco Aurélio de Sá, diretor do Crédit Agricole Securities, em entrevista por telefone de Miami. “Eles podem ter perdido a janela deles. O mercado passou por um ajuste, especialmente para um nome de alto risco desconhecido no mercado estrangeiro. Nós precisaríamos de um período mais estável.”

As empresas brasileiras venderam US$ 500 milhões em títulos de dívida no exterior neste mês, comparado a US$ 2,3 bilhões na primeira quinzena de março e US$ 11,1 bilhões no começo de fevereiro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

‘Tudo pronto´

A Rodopa contratou o HSBC Holdings Plc e o Standard Bank para coordenar as reuniões com investidores, disse a pessoa, que pediu para não ser identificada por não ter autorização para falar publicamente.

Sérgio Longo, diretor-geral executivo da Rodopa, não retornou telefonemas e e-mails solicitando comentários para esta reportagem.

Longo disse em entrevista em 14 de fevereiro que a companhia pretendia vender até US$ 150 milhões em títulos com prazo entre cinco e sete anos. Ele disse em setembro que a empresa adiou uma oferta planejada de dívida por causa da crise econômica na Europa.

“Tínhamos tudo pronto”, disse Longo em 23 de setembro. “Mas este não é o momento de vender bonds.”


O custo de captação para empresas da região com classificação de risco similar disparou 226 pontos-base para 14,41 por cento em setembro, de acordo com o Credit Suisse.

A elevação das taxas dos títulos de dívida da Espanha agora ameaça reiniciar a crise de dívida europeia. O custo de proteção contra um possível calote espanhol saltou para um recorde em 13 de abril, enquanto o primeiro-ministro Mariano Rajoy luta para evitar que o país se torne o quarto integrante da Região do Euro a precisar de resgate.

‘Situação muito favorável´

“Vimos uma situação muito favorável no início do ano e isso mudou um pouco”, disse Alberto Kiraly, chefe de banco de investimento do Banco Votorantim SA, em entrevista no escritório do banco em São Paulo. “Agora há um pouco mais de volatilidade no mercado por causa de alguns países da Europa. Isso está se traduzindo em mais preocupação no mercado.”

A Rodopa tenta se tornar a terceira empresa brasileira a estrear como emissora este ano, após colocações pela primeira vez da OSX Brasil SA, estaleiro controlado pelo bilionário Eike Batista, pela Schahin Petróleo & Gás e pelo Banco do Estado do Rio Grande do Sul SA.

General Shopping Brasil SA, Virgolino de Oliveira SA e Cimento Tupi SA foram as empresas com menor classificação de risco a vender dívida no exterior no primeiro trimestre de 2012, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A oferta da Rodopa seria a primeira deste ano por uma empresa brasileira com classificação de risco B-.

‘Muito positiva’

O Minerva SA, terceiro maior frigorífico brasileiro, vendeu mais US$ 100 milhões de sua dívida com vencimento em 2022 a um cupom de 10,62 por cento em 22 de março, um mês após emitir US$ 350 milhões dos papéis com taxa de 12,62 por cento.

Alex Santos Lopes da Silva, analista da Scot Consultoria, disse que as margens de lucro dos frigoríficos estão melhorando, à medida que o preço do boi cai e o da carne sobe.

O preço do boi-gordo caiu cerca de 2 por cento no Brasil este ano, enquanto a carne aumentou cerca de 4 por cento, disse Silva.

“Olhando somente para o mercado de gado, a perspectiva é muito positiva para os frigoríficos”, disse ele em entrevista por telefone de Bebedouro, interior de São Paulo. “Os preços do gado estão caindo e os da carne estão em alta na comparação com o ano passado, o que significa que as margens estão melhorando.”

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