Invest

Risco de calote da Americanas pode tirar R$ 7 bilhões de bancos

Parte dos bancos credores tem ido à Justiça para garantir a cobrança antecipada das dívidas da Americanas, o que ajudaria a reduzir perdas

Americanas: resiliente, operação física viu vendas brutas cairem 4,4% nos nove primeiros meses do ano (Americanas S.A./Divulgação)

Americanas: resiliente, operação física viu vendas brutas cairem 4,4% nos nove primeiros meses do ano (Americanas S.A./Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de janeiro de 2023 às 18h28.

Última atualização em 19 de janeiro de 2023 às 18h46.

O "fator Americanas" pode obrigar os bancos a reservar em balanço pelo menos R$ 7 bilhões para cobrir o eventual risco de calote da varejista. De acordo com executivos do mercado financeiro, Bradesco, Santander, Itaú Unibanco, Safra, BTG Pactual e Banco do Brasil são, pela ordem, as instituições com os maiores volumes de empréstimos concedidos à companhia.

O valor que cada banco emprestou varia, mas vai de cerca de R$ 5 bilhões, no caso do Bradesco, a R$ 1,3 bilhão, no do BB.

As instituições não informam os valores por respeito ao sigilo bancário. Pela legislação em vigor, elas são obrigadas a reservar uma parte do dinheiro para cobrir o risco de devedores duvidosos, o chamado provisionamento.

No caso da Americanas, o valor final vai depender de fatores como se os sócios de referência — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira — vão injetar recursos novos na companhia ou se a Americanas vai pedir recuperação judicial. A crise na varejista se arrasta desde a semana passada, depois que veio a público a existência de uma "inconsistência contábil" de R$ 20 bilhões.

Um calote não descapitalizaria os bancos, mas poderia reduzir seus lucros. Para o provisionamento, não é preciso reservar o total da dívida, mas uma parte de acordo com o risco. Considerando um cenário em que os bancos reservariam metade dos empréstimos, o Bradesco teria de separar R$ 2,3 bilhões para cobrir perdas com a Americanas; o Santander, R$ 1,8 bilhão; o Itaú, R$ 1,7 bilhão; o BTG, R$ 950 milhões; e o BB, R$ 650 milhões. Os cálculos são do analista Rafael Frade, do Citi. Procurados, os bancos não comentaram.

Assine a EXAME e fique por dentro das principais notícias que afetam o seu bolso. Tudo por menos de R$ 0,37/dia.

O montante, porém, dependerá do desenrolar das negociações entre os bancos e a varejista. Uma recuperação judicial não necessariamente levaria o crédito a ser considerado inadimplente e haveria uma negociação em torno de descontos. Até aqui, os bancos já deixaram claro que só farão acordo se a Americanas for capitalizada — o que gerou um impasse entre as instituições e os acionistas de referência.

"Se a empresa pedir recuperação judicial e não houver nenhum tipo de capitalização, será o pior cenário", diz o diretor responsável por entidades financeiras da S&P, Guilherme Machado. "Isso poderia fazer com que os bancos, em um prazo de seis meses, provisionassem 100% das operações." A Genial Investimentos estimou que, nesse cenário mais negativo, o lucro líquido dos bancos poderia cair de 1,8% (no caso do BB) a 6,9% (no do Bradesco).

Vencimentos

Parte dos bancos credores tem ido à Justiça para garantir a cobrança antecipada das dívidas da Americanas, o que ajudaria a reduzir perdas. O BTG e o BV (ex-Votorantim), por exemplo, alegam ter liquidado operações após a divulgação do fato relevante que informou o rombo de R$ 20 bilhões da varejista. Para se proteger desse movimento, a Americanas obteve na semana passada uma liminar para evitar o bloqueio de recursos.

"Todos os créditos que o Banco BV possuía na referida data [da publicação do fato relevante] com o grupo Americanas foram extintos", afirmou o BV. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, as operações somavam cerca de R$ 400 milhões. O BTG, por sua vez, conseguiu retomar nesta quarta-feira, 18, R$ 1,2 bilhão da Americanas — em decisão do desembargador Flávio Marcelo de Azevedo Horta Fernandes, da Justiça do Rio —, e teria saldo de R$ 1,9 bilhão ainda em aberto. O Bradesco recorreu nesta quarta à Justiça para ter o mesmo direito, e a expectativa de especialistas é de que outros bancos credores se movimentem na mesma direção.

Esse maior risco da companhia é percebido pelas agências de classificação de risco. A Fitch, por exemplo, cortou a nota da Americanas para C, enquanto a S&P rebaixou a empresa para D. Na Moody's, o corte foi para Caa3. Nos três casos, as notas significam um risco de calote alto ou muito alto. Há uma semana, a empresa tinha avaliações melhores do que as do próprio Brasil em algumas agências.

Acompanhe tudo sobre:AmericanasBancos

Mais de Invest

Insider trading? Senadores pedem investigação de Trump após pausa em tarifas

Apesar de trégua, tarifas de Trump terão 'impacto sério' na economia global, diz UBS

Amazon promete tentar manter preços baixos, mas tarifas podem aumentar custos para consumidores

Sabesp (SBSP3) estima receber R$ 1,48 bi em precatórios da Prefeitura de SP