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Rede Energia renegocia dívida após recuperação da Celpa

Crescem os receios de que a empresa também siga o calote da Celpa, por não ter um comprador nem para parte nem para toda a participação na controladora

Em 9 de março, a Fitch Ratings cortou a nota de crédito da Rede Energia em dois níveis para C, ou um nível acima do que é considerado calote (Nani Gois)

Em 9 de março, a Fitch Ratings cortou a nota de crédito da Rede Energia em dois níveis para C, ou um nível acima do que é considerado calote (Nani Gois)

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Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2012 às 09h51.

Nova York/São Paulo - A Rede Energia SA, controladora de nove distribuidoras de eletricidade do país, tenta renegociar as condições de sua dívida em dólares cinco semanas após a Centrais Elétricas do Pará SA, uma de suas subsidiárias, entrar com o pedido de recuperação judicial.

O preço dos títulos perpétuos da emissão de US$ 497 milhões da Rede Energia, sediada em São Paulo, caíram US$ 0,30 desde 27 de fevereiro, data que antecedeu a busca da Celpa de proteção contra credores, para 53,5 por cento do valor de face, segundo o Trace, sistema de divulgação de preços de bônus da Financial Industry Regulatory Authority. A Celpa entrou com o processo que suspende o pagamento em todas as obrigações de sua dívida por seis meses.

Crescem os receios de que a Rede Energia também siga o calote da Celpa, após o presidente do conselho, Jorge Queiroz de Moraes Jr., não ter conseguido encontrar um comprador nem para parte nem para toda sua participação na controladora. Em 9 de março, a Fitch Ratings cortou a nota de crédito da Rede Energia em dois níveis para C, ou um nível acima do que é considerado calote, dizendo que o processo da Celpa vai provavelmente impedir que a controladora tenha acesso ao financiamento necessário para rolar a dívida de curto prazo.

“Não vejo como eles vão poder pagar seus títulos perpétuos sem algum tipo de corte, então a grande pergunta agora é que nível de corte devemos esperar”, disse Alexandre Muller, chefe de pesquisa de crédito corporativo no Banco BTG Pactual SA em São Paulo, em entrevista por telefone. “É um tipo de negociação muito sensível, que envolve credores com espécies diferentes de fluxo de caixa e de colaterais.”

Pagamento de juros

Os títulos da Rede Energia pagam 20,8 por cento, ou 1.615 pontos-base a mais do que a dívida do governo brasileiro com vencimento em 2041, segundo dados da Bloomberg e do sistema Trace. O rendimento médio dos papéis vendidos por empresas em todo o mundo com a classificação de risco CCC+ ou menor é de 12,42 por cento, de acordo com o Bank of America Corp.

A Rede Energia disse em nota ontem que vai iniciar discussões com detentores de seus títulos como parte da reestruturação financeira da dívida. A empresa também disse que fez um pagamento de juros de seus títulos perpétuos e que tem recursos suficientes para fazer mais dois pagamentos.

A Rede Energia não respondeu a telefonemas e e-mails em busca de comentários após o horário comercial.

A Celpa, maior distribuidora de eletricidade da Região Amazônica, pediu a recuperação judicial após as tarifas congeladas de energia terem pressionado o lucro e a dívida ter disparado. A Rede Energia tem controle direto ou indireto de aproximadamente 65 por cento da Celpa, enquanto a estatal Centrais Eletricas Brasileiras SA possui o restante, de acordo com dados da Bloomberg.


A Celpa até agora não recebeu propostas de negócios, disse Queiroz. em 28 de março.

“Eu encontrei com todo mundo, falei com todo mundo”, disse Queiroz a repórteres em Brasília.

‘Momento delicado’

O governo não pretende assumir o controle da Celpa para ajudar investidores, disse o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, a jornalistas em Brasília em 13 de março.

O Ministério das Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica não quiseram fazer comentários.

“É um momento delicado porque as notícias vindas do governo têm sido muito negativas”, disse Luiz Campos, que administra US$ 800 milhões em dívida de mercados emergentes na Dinosaus Securities, em entrevista por telefone de São Paulo, antes do anúncio da reestruturação pela Rede Energia. “Já faz um mês desde o calote da Celpa. A Rede Energia é a aposta preferida porque tem ativos valiosos que pode manter enquanto a Celpa não tem nada, motivo pelo qual o mercado aposta mais na Rede.”

Papéis da Celpa

O preço dos títulos da Rede Energia subiu 13,5 centavos de dólar desde que caiu para 40 por cento do valor de face em 13 de março, com as especulações de que seguiria a Celpa com o pedido de recuperação judicial, de acordo com o Trace. Os papéis são negociados a 7 por cento do valor de face acima dos títulos sob calote da Celpa. Há três semanas, os títulos da Rede Energia estavam 17 por cento do valor de face abaixo dos títulos da Celpa.

Marco Aurelio de Sá, diretor do Crédit Agricole Securities em Miami, disse que os bônus da Celpa são melhor investimento que os da Rede Energia porque o governo pode encontrar um comprador para a empresa mesmo sem ter que fazer uma intervenção.

“No caso da Celpa especificamente, é muito provável que seja encontrada uma solução primeiro, antes da Rede”, disse Sá em entrevista por telefone.

Os negócios com os títulos da Rede Energia dispararam nas últimas cinco semanas. O volume total é quase o triplo do que estava na época do calote da Celpa, de acordo com os dados do Trace.

“Espero uma solução para a empresa e, se a solução não vier, o valor da recuperação deverá ser maior do que os preços que temos visto em negociações”, disse Campos, da Dinosaur, que possui papéis da Rede Energia.

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