Inflação pressiona custos da Rede D'Or, e juros altos também preocupam (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 12 de maio de 2022 às 06h05.
Última atualização em 12 de maio de 2022 às 08h47.
A Rede D’Or (RDOR3), maior grupo hospitalar do Brasil, deve apresentar resultados mais fracos no primeiro trimestre de 2022. Analistas projetam dificuldades nas principais linhas do balanço, que será divulgado após o fechamento de mercado nesta quinta-feira, 12.
Vale lembrar que o momento é difícil pras ações de saúde. O papel da Rede D’Or caiu 5,38% na véspera, arrastado por sua participação de 29% na Qualicorp (QUAL3). No último pregão, as ações da Qualicorp desabaram mais de 12% e fecharam perto da mínima histórica após o balanço decepcionar o mercado. E é possível que a Rede D’Or siga o mesmo caminho.
A empresa deve apresentar um lucro líquido de R$ 313 milhões, uma queda de 22% na comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado operacional medido pelo lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado deve ficar em R$ 1,3 bilhão, um valor praticamente em linha com o registrado nos três primeiros meses de 2021.
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A expectativa é ainda de que a margem Ebitda, que indica a eficiência operacional da empresa, seja menor, perto de 25%, o que representa uma queda de 1 ponto percentual na comparação anual. Os valores consideram estimativa média dos bancos BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), Credit Suisse e Goldman Sachs.
Uma das razões que deve afetar o resultado da Rede D’Or é a queda de hospitalizações relacionadas à Covid-19, diminuindo a taxa de ocupação dos hospitais enquanto os procedimentos eletivos, como cirurgias, ainda não recuperaram seu espaço.
A recente escalada da taxa de juros no Brasil – que saltou quase 10 pontos percentuais entre o primeiro trimestre de 2021 e o mesmo intervalo deste ano – também limita o fluxo de caixa da companhia e pressiona o ticket médio (valor de vendas por cliente). A integração das recentes fusões e aquisições também deve ser um desafio de custos para a Rede D'Or.
“Tanto a estagnação do ticket médio quanto da ocupação [de leitos] são efeitos naturais de uma rápida expansão, notadamente da incorporação de operações menos eficientes. É um fenômeno que pode impactar as receitas no curto prazo”, afirmaram, em relatório, os analistas do Credit Suisse.
A Rede D’Or deve sofrer ainda com a continuação das pressões inflacionárias de custo sobre materiais e medicamentos. “A empresa acredita que os ajustes de passagens podem compensar o aumento de custos ao longo de 2022. Apesar do poder de barganha da Rede D'Or, achamos que o cenário econômico pode restringir essa correção de margem”, completaram os analistas.
A casa mantém recomendação neutra para os papéis, com preço-alvo de R$ 54 – o papel fechou o último pregão cotado a R$ 31,85. O BTG, por outro lado, segue recomendando compra das ações. O motivo para o otimismo está na compra da SulAmérica Seguros pela Rede D'Or. A operação, anunciada em fevereiro, ainda está sujeita a aprovação dos órgãos reguladores.
“Detalhes relacionados ao potencial valorização a partir da fusão com a SulAmérica devem ser um catalisador positivo para as ações, razão pela qual mantemos a recomendação de compra”, informou relatório do banco.
O Goldman também recomenda compra das ações da Rede D’Or, com preço-alvo de R$ 59. Os analistas do banco argumentaram que a empresa tem algumas vertentes de negócio ainda não precificadas, “como a aceleração do negócio de oncologia e o desenvolvimento de parcerias com os atuais pagadores”.
“Além disso, acreditamos que a alta liquidez das ações pode ser outra vantagem competitiva à medida que nos aproximamos das eleições federais no País”, escreveram.