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Real volta a ter pior desempenho do mundo diante de riscos do país

Moeda brasileira desvaloriza mais de 2% frente ao dólar, que acaba a semana negociado a R$ 5,47, com o atraso na vacinação e as medidas de restrição em SP

 (Priscila Zambotto/Getty Images)

(Priscila Zambotto/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 22 de janeiro de 2021 às 18h35.

Última atualização em 22 de janeiro de 2021 às 18h46.

O dólar saltou 2% ante o real nesta sexta-feira, 22, na maior alta em quatro meses.

A forte valorização diária foi impulsionada por ordens automáticas de compras após a moeda romper duas resistências técnicas, com ampla incerteza sobre o cenário doméstico diante do atraso na vacinação, dos efeitos econômicos da pandemia e de potenciais aumentos de gastos por causa da crise sanitária.

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No fechamento, o dólar à vista subiu 2,12%, a 5,4778 reais na venda. É a maior valorização percentual diária desde 23 de setembro do ano passado (+2,18%). O patamar é o mais alto desde a taxa de 5,5033 reais marcada no último dia 11.

O ambiente externo mais arisco nesta sexta pesou contra o real, que caiu assim como boa parte de seus pares emergentes. O peso mexicano, por exemplo, cedia 1,1% no fim da tarde.

Mas o "gap" negativo da moeda brasileira persistiu. Enquanto o real desvalorizou 2,08%, o peso chileno — moeda com o segundo pior desempenho na sessão — se depreciava 1,4%.

"O ativo brasileiro mais surrealmente fora de preço é a moeda", disse Luiz Fernando Alves, sócio do Fundo Versa. "Com as commodities onde estão, os termos de troca nunca foram tão favoráveis. Temos superávit em conta-corrente, reservas, e somos a pior moeda emergente pós-crise. Essa é a melhor ilustração do risco-Bolsonaro", disse no Twitter.

O governo brasileiro tem sido criticado pela demora na disponibilização de vacinas à população. Enquanto isso, os casos de covid-19 disparam e novas medidas restritivas são adotadas em algumas regiões. O estado de São Paulo — que responde por um terço do PIB do Brasil — endureceu restrições ao funcionamento de estabelecimentos como bares, restaurantes, comércios não essenciais e shoppings.

"Isso deve trazer um impacto econômico e, com isso, provavelmente levar o BC a esperar mais antes de subir os juros. E isso não ajudaria a defender o câmbio", disse Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual digital.

Profissionais do mercado comentaram ao longo do dia sobre a possibilidade de o Banco Central intervir nas operações para amenizar a pressão cambial, já que o real, por mais uma vez, liderou as perdas entre as moedas globais na sessão. No ano, a moeda brasileira já é a de pior desempenho, depois de em 2020 despencar 22,70%, ficando entre as maiores quedas.

Uma intervenção agora via contratos de swaps cambiais, na avaliação de alguns players, poderia deixar o mercado ainda mais volátil e passar a impressão de problema de comunicação apenas dois dias depois da tentativa de emitir uma mensagem mais hawkish (inclinada a aperto monetário), que em tese favoreceria a apreciação do real.

"Acho que quando o dólar começar a se aproximar de 5,50 reais, 5,60 reais, o BC pode começar a se mostrar presente", disse Zanlorenzi.

Na semana, a cotação da moeda americana frente ao real ganhou 3,28%. Em 2021, o dólar avança 5,51%. A magnitude das variações chama a atenção. Na semana passada, o dólar caiu 2,09%, após saltar 4,34% na semana anterior.

Com a recente depreciação do real, o Bank of America encerrou posição comprada na moeda brasileira em relação ao peso chileno. O real tombou 5,66% ante o peso apenas nas últimas cinco sessões.

Na semana que vem, o mercado vai analisar o detalhamento dos argumentos do Banco Central para retirar o forward guidance da política monetária, com a divulgação da ata da última reunião do Copom, na terça-feira pela manhã.

Investidores vão observar ainda declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

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