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Reação do real contra dólar já é sinalizada no mercado de dívida

Investidores estão apostando que o dólar cairá frente ao real no segundo semestre, à medida que o Banco Central pare de cortar os juros

O real já se desvalorizou 13,4% frente ao dólar nos últimos três meses (David Siqueira/Stock.xchng)

O real já se desvalorizou 13,4% frente ao dólar nos últimos três meses (David Siqueira/Stock.xchng)

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Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2012 às 08h36.

Bogotá/São Paulo - As especulações que o real vai ter um repique de seu menor nível em quase três anos têm ajudado os títulos da dívida externa em reais a superarem o desempenho dos papéis em dólar.

O rendimento dos títulos globais atrelados ao real com vencimento em 2024 caiu 86 pontos-base desde que o governo vendeu os papéis em 17 de abril, para 7,74 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. O rendimento da dívida em dólar com prazo similar subiu cinco pontos-base, ou 0,05 ponto percentual, no mesmo período, para 3,49 por cento. As apostas na queda do real caíram do nível mais alto em três meses nesta semana, quando o dólar passou de R$ 2.

Investidores estão apostando que o dólar cairá frente ao real no segundo semestre, à medida que o Banco Central pare de cortar os juros, e a crise da dívida europeia arrefeça. O real já se desvalorizou 13,4 por cento frente ao dólar nos últimos três meses, a maior queda entre as divisas de países emergentes, depois que o governo tomou medidas para enfraquecer a moeda para proteger a indústria exportadora local e com o aumento da aversão ao risco.

“A única diferença entre esses ativos é que um é em real e o outro é em dólar”, disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, em São Paulo. “O real é uma das moedas que mais se desvalorizou em 2012 por conta das medidas do ministério da Fazenda. Imaginando que a situação vá se acalmar, é razoável supor que o real volte a se valorizar.”

Os contratos apostando na queda do real em relação ao dólar excediam as apostas de valorização da moeda brasileira em US$ 607 milhões em 14 de maio, comparado a uma diferença de US$ 1,28 bilhão em 11 de maio, a maior desde 3 de fevereiro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg e pela BM&FBovespa SA. As apostas de que a moeda brasileira se valorizaria superavam as de queda por uma margem recorde de US$ 24,6 bilhões em julho.

Cortes de juros

O real vai avançar mais de 11 por cento para 1,8 por dólar até o fim do ano, de acordo com a estimativa mediana de uma pesquisa da Bloomberg com 27 economistas.

As taxas dos contratos de juros futuros indicam que o presidente do BC, Alexandre Tombini, vai reduzir o juro básico dos atuais 9 por cento para a mínima histórica de 8,75 por cento. O Comitê de Política Monetária reduziu a taxa Selic em 350 pontos-base desde agosto para reaquecer o crescimento econômico, diminuindo a atratividade dos ativos de renda fixa do país.

A taxa de câmbio tem estado acima de 1,80 desde meados de março, quando o governo expandiu a incidência do Imposto sobre Operações Financeiras para desestimular a entrada de capitais e proteger os exportadores do que a presidente Dilma Rousseff chamou de “tsunami monetário”, criado pelos esforços das nações desenvolvidas para desvalorizar suas moedas.


Eleições na Grécia

A taxa de câmbio do país passou por um período “extremamente sobrevalorizada” e as taxas de juros são incompatíveis com os níveis internacionais, disse Dilma ontem em Brasília.

A baixa do real é boa para a economia porque encarece os importados e barateia as exportações brasileiras, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a repórteres em Brasília em 14 de maio.

“O governo nunca estabeleceu nenhum parâmetro para o dólar e nem vai estabelecer”, disse Mantega.

Os investidores também rejeitaram o real diante da falta de conclusão após as eleições na Grécia em 6 de maio, levantado a possibilidade de que outra votação seja realizada já no mês que vem, ameaçando a implantação do programa de austeridade e aumentando temores de saída do país do euro.

"Menos vendidos"

“Os fundos de hedge com quem conversamos estão menos vendidos em real no momento, mas achamos que pode haver uma virada enorme após essa atual fraqueza, quando o sentimento global de risco chegar ao fundo do poço e o Banco Central tiver cortado suficientemente os juros”, disse Bernd Berg, estrategista de câmbio para mercados emergentes do Credit Suisse Group AG, em entrevista por telefone de Zurique. O governo “ficaria confortável” com uma valorização no segundo semestre, à medida que o crescimento se acelera, e se as expectativas de inflação aumentarem, ele disse.

Para Pablo Cisilino, que ajuda a supervisionar cerca de US$ 30 bilhões em dívida de mercados emergentes na Stone Harbor Investment Partners, as medidas do governo para enfraquecer o real dificultam as previsões sobre a trajetória da moeda.

“Podemos sentar e pensar o dia todo, mas não sabemos”, disse Cisilino em entrevista por telefone. “Este é o custo dessa política. É introduzir mais incerteza no mercado, o que se traduzirá em menos investimento estrangeiro.”

O real pode avançar mais de 8 por cento para 1,85 por dólar até o final do ano, de acordo com Diego Donadio, estrategista de América Latina do Banco BNP Paribas Brasil e o que tem o maior nível de acerto nas projeções de câmbio do ranking Bloomberg. O BC pode vender moeda americana se o real continuar a se enfraquecer além de 2 por dólar e um cenário externo disfuncional persistir, disse ele. A autoridade monetária abandonou as compras de dólar em 30 de abril.

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