Michael Hasenstab, da Franklin Templeton: investidores não podem colocar todos os países no mesmo cesto e “precisam entender a diferença entre crise real e crise percebida”, disse (Steve LaBadessa)
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2016 às 16h59.
Os investidores que recomendam aguardar a recuperação dos mercados emergentes estão errados e deixam passar uma oportunidade de lucro que não se repetirá na próxima década, disse o chefe de renda fixa da Franklin Templeton, Michael Hasenstab.
Em um vídeo publicado no canal da Templeton no YouTube, na noite de quarta-feira, o gestor de recursos, que administra US$ 124 bilhões em 35 fundos, disse que a alta mais forte dos títulos dos mercados emergentes em sete anos ainda não perdeu o fôlego e reiterou a recomendação que fez no ano passado.
Hasenstab também criticou seus pares que alertam que a desaceleração do crescimento chinês e os baixos preços das commodities são motivos suficientes para ficar longe dos emergentes.
“Nós achamos que esse é um grande erro de cálculo”, disse Hasenstab, fazendo coro com a BlackRock e a Schroders ao apostar que a alta dos ativos dos países em desenvolvimento neste ano está apenas começando. “Esta é uma oportunidade única em uma década nos mercados emergentes”.
Apesar de os ativos emergentes terem avançado neste ano, 2015 registrou uma forte queda impulsionada pelo enfraquecimento do crescimento em grandes economias, como a China, e pelo fato de o Federal Reserve ter encerrado uma era de política monetária flexível, respaldando o dólar e afastando o dinheiro dos mercados de maior risco.
O resultado foi que os investidores, em sua maioria, “reagiram exageradamente” ao incluir países como Indonésia, Malásia e México no contágio como um todo, segundo Hasenstab.
Ele citou Turquia, Rússia, África do Sul e Venezuela como países que vivem “uma crise legítima” por causa de uma “série de políticas ruins” ou devido à dependência excessiva em relação às exportações de petróleo.
“Não é algo uniforme”, disse Hasenstab, na entrevista gravada no dia 11 de abril. Os investidores não podem colocar todos os países no mesmo cesto e “precisam entender a diferença entre crise real e crise percebida”, disse ele.
Na contramão
Hasenstab é famoso por fazer apostas contrárias ao senso comum que deram certo em países como Irlanda, Hungria e Ucrânia. Apesar de seu principal fundo, o Global Bond Fund, ter registrado desempenho inferior a 80 por cento de seus pares com uma perda de 4,9 por cento no ano passado, ele está entre os melhores 20 por cento nos últimos 30 dias, com um ganho de 2 por cento.
Alguns investidores continuam cautelosos em relação à sustentabilidade da alta dos mercados emergentes. Paul Raphael, chefe global de mercados emergentes do UBS Wealth Management, disse que seus clientes ficaram “bastante chocados” com a volatilidade nos mercados nos últimos seis meses.
“No momento, há uma relativa mentalidade marginal”, disse ele, em entrevista à Bloomberg Television, na quinta-feira. “Os clientes estão muito preocupados com o risco e relativamente tímidos quanto a assumir grandes posições”.
‘Certa estabilidade’
A BlackRock, que administra US$ 4,6 trilhões em ativos em todo o mundo, disse nesta semana que está apostando em títulos em moeda local de mercados emergentes devido à perspectiva de reduções nas taxas de juros pelos bancos centrais em países como Brasil e Indonésia. A gestora de recursos Schroders, que tem sede em Londres, também recomendou a compra de títulos domésticos, prevendo que eles serão a classe de ativos de melhor desempenho neste ano.
Os títulos soberanos denominados em dólares dos países em desenvolvimento deram retorno de 6,4 por cento neste ano, o maior desde o mesmo período de 2009, segundo os índices JPMorgan. Os títulos em moeda local subiram 6,3 por cento no período, maior elevação desde 2003, pelo menos, quando foi iniciada a coleta de dados.
“Nós nos sentimos encorajados porque nos últimos meses começamos a ver certa estabilidade e algum reconhecimento de que os mercados podem ter reagido exageradamente”, disse Hasenstab.