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Raízen (RAIZ4) cai 15% com disparada da dívida e possível aumento de capital

Apesar de capitalização ser bem-vinda para fazer frente às dívidas de mais de R$ 49 bilhões, potencial diluição pesa forte sobre os papéis

Totem com o logo da Raízen, uma joint venture da Cosan com a Shell (Raízen/Divulgação)

Totem com o logo da Raízen, uma joint venture da Cosan com a Shell (Raízen/Divulgação)

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 14 de agosto de 2025 às 15h01.

Última atualização em 14 de agosto de 2025 às 15h12.

A Raízen (RAIZ4) lidera as quedas do Ibovespa nesta quinta-feira, 14, após a divulgação de resultados do segundo trimestre. O aumento expressivo da dívida líquida, que chegou a R$ 49 bilhões, e o anúncio de um possível aumento de capital, a empresa cai mais de 13% hoje na Bolsa. É a maior queda diária desde a abertura de capital em 2021, acumulando uma queda de 50,70% no ano.

Pela primeira vez, a companhia admitiu publicamente que "continua a avaliar proativamente, junto com seus acionistas controladores, a possibilidade de um aumento de capital potencial" para acelerar o processo de redução de alavancagem, com discussões envolvendo a possibilidade de uma injeção de capital que pode contar com "acionistas atuais ou novos".

“Não temos nem detalhes, nem certeza de uma potencial operação. O que a gente tem é uma conversa ativa que envolve os controladores, Shell e Cosan, para avaliar mecanismos de acelerar essa jornada e reduzir o risco”, afirmou Rafael Bergman, CFO da Raízen, durante a teleconferência do segundo trimestre.

Para os analistas do UBS, um possível aumento de capital poderia resultar em uma redução significativa da alavancagem e abrir caminho para um novo interesse dos investidores nas ações. No entanto, no curto prazo, esse movimento representa um obstáculo importante e uma diluição relevante para os acionistas.

Aumento da dívida e estratégia de reestruturação

A Raízen reportou um aumento de R$ 15 bilhões na dívida líquida, o que representa um aumento de 44% no trimestre e 56% na comparação anual. O endividamento total alcançou R$ 49 bilhões, devido à substituição de cerca de R$ 9 bilhões em instrumentos de capital de giro de curto prazo (conhecidos como "risco sacado") por uma dívida de longo prazo mais eficiente.

Este aumento é atribuído tanto à sazonalidade regular do capital de giro quanto à decisão de reduzir drasticamente as linhas de financiamento de curto prazo, como financiamento de fornecedores e adiantamentos de clientes, em troca de linhas de dívida mais baratas. A drenagem do capital de giro foi de apenas R$ 2,5 bilhões, menor do que o usual para um primeiro trimestre da safra, refletindo também a redução da unidade de trading de etanol e açúcar.

Embora a decisão faça parte da estratégia de gestão de passivos da empresa, com o objetivo de alongar a maturidade média da dívida e preservar a liquidez, o aumento na razão dívida líquida/EBITDA (de 3,2x para 4,5x no trimestre) pode preocupar os investidores, especialmente com as apreensões recentes no mercado, segundo o Itaú BBA.

Para os analistas do BTG Pactual, a Raízen precisa acelerar o processo de redução de alavancagem. "Ajustar o capex, reduzir a unidade de trading e vender ativos não essenciais são passos positivos, mas não devem ser suficientes para reverter a situação atual", escreveu a equipe liderada por Thiago Duarte, para quem a notícia da possível capitalização é bem-vinda.

Ebitda acima das expectativas, mas prejuízo no trimestre

A Raízen registrou um prejuízo de R$ 1,8 bilhão no primeiro trimestre da safra 2025/26, em comparação com um lucro de R$ 1,1 bilhão no mesmo período da safra anterior. O desempenho operacional foi impactado por fatores climáticos, como secas intensas e queimadas no fim da safra anterior e chuvas abaixo da média entre dezembro e março. Neste trimestre, as chuvas mais intensas prejudicaram o ritmo de moagem e a qualidade da cana.

O EBITDA ajustado foi de R$ 1,9 bilhão, o que representa uma queda de 18% na comparação anual, mas superou as estimativas do Itaú BBA em 12% e as do BTG em 6%. A queda no EBITDA reflete também paradas para manutenção na refinaria da Argentina, que já indicavam uma rentabilidade mais baixa.

Para os analistas do BTG Pactual, este resultado foi de maior qualidade, algo que não se via na Raízen há algum tempo. Eles destacam que os controles de capex e despesas fizeram uma diferença maior do que o esperado; o balanço patrimonial, embora ainda esticado, está mais limpo, mais líquido e com menos riscos financeiros provenientes do comércio. A divisão de Brazil Fuels superou as expectativas, contribuindo positivamente para os resultados.

O segmento de Etanol, Açúcar e Bioenergia (ESB) reportou um EBITDA de R$ 862 milhões, uma queda de 24% na comparação anual devido à redução nos volumes de moagem, mas superou as previsões do Itaú BBA em 22%, impulsionado por preços mais altos de açúcar. O EBITDA de Mobilidade foi de R$ 1 bilhão, também 22% acima das expectativas, com destaque para o desempenho da mobilidade no Brasil, onde a margem de EBITDA ajustada foi de R$ 149/m³ (R$ 176/m³ excluindo perdas de inventário), significativamente acima da estimativa de R$ 130/m³.

Outro destaque positivo foi o esforço da empresa para aumentar a eficiência e otimizar processos, o que resultou em uma redução de cerca de 20% nas despesas gerais e administrativas (G&A) na comparação anual, uma melhoria estrutural proveniente do processo contínuo de reestruturação.

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