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Queridinho dos investidores, Brasil fica vulnerável com eleição

A comemoração da prisão de Lula durou menos de um dia e, em pouco tempo, o real e as ações ficaram atrás dos pares internacionais

 (Ueslei Marcelino/Reuters)

(Ueslei Marcelino/Reuters)

Rita Azevedo

Rita Azevedo

Publicado em 11 de abril de 2018 às 15h40.

Última atualização em 11 de abril de 2018 às 16h03.

Os investidores brasileiros que esperavam que a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estimulasse uma alta ficaram extremamente decepcionados.

A prisão do candidato favorito nas pesquisas eleitorais praticamente eliminou a possibilidade de Lula voltar à presidência na eleição geral de outubro, o que aliviou a preocupação de que ele derrubaria os esforços para reformar a economia. Mas a comemoração nos mercados durou menos de um dia. Desde que o mandado de prisão de Lula foi emitido na tarde de quinta-feira, o real e as ações ficaram atrás dos pares internacionais.

Os mercados brasileiros já vinham apresentando um desempenho inferior, e o real se desvalorizou mais de 4 por cento nos últimos 30 dias, enquanto um índice de moedas de mercados emergentes perdeu cerca de 0,2 por cento. O Ibovespa, que no início deste ano batia novos recordes quase todos os dias, caiu mais de 7 por cento em dólares no período, um dos piores desempenhos do mundo.

Com Lula fora de cena, a eleição está em aberto. Há pelo menos uma dúzia de possíveis candidatos, cujas propostas políticas variam muito ou são completamente desconhecidas. O campo ainda poderia mudar devido às acusações de corrupção generalizada.

"Não adianta só tirar o Lula, com aquele câncer que é Brasília", disse Bernardo Rodarte, gestor de recursos da Sita Corretora, que administra R$ 1,5 bilhão (US$ 439 milhões). "Prenderam o Lula, mas nada se resolveu. Essas perspectivas que tem aí para as eleições ainda estão bem sombrias."

O conservador Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas com a exclusão de Lula, contratou um defensor radical da privatização como seu principal assessor econômico. À esquerda, Ciro Gomes - que disse que vai taxar os ricos e desfazer os tetos de gastos do governo - é o único candidato com mais de 5 por cento nas pesquisas. O grupo de centro a favor da reforma inclui Henrique Meirelles, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin e até o presidente Michel Temer. Todos estão lutando para ganhar terreno.

Embora o clima externo não tenha ajudado os ativos brasileiros, com quedas fortes provocadas pelos temores de uma guerra comercial global e por preocupações com a Rússia, grande parte da fraqueza também pode ser atribuída aos fatores domésticos, de acordo com Mauricio Oreng, estrategista sênior do Rabobank no Brasil. Os investidores podem estar começando a ficar mais preocupados com a eleição, disse ele.

"Estamos dirigindo com baixíssima visibilidade", disse Oreng, de São Paulo.

Ainda há quem ache que tudo vai dar certo no final - Moody’s Investors Service elevou para estável sua perspectiva sobre a dívida soberana do Brasil na segunda-feira, afirmando que quem vencer as eleições de outubro vai aprovar reformas fiscais -, mas alguns estão começando a alertar para a possibilidade de que o resultado da eleição não seja favorável para os investidores.

A empresa de consultoria de risco político Eurasia Group, que se tornou uma referência importante para os investidores brasileiros porque foi uma das poucas a prever que Dilma Rousseff seria reeleita em 2014, não está tão confiante de que um reformista vai ganhar. A eleição está tão em aberto por causa da ampla rejeição popular a qualquer candidato que pareça tradicional, escreveu o cofundador da Eurásia, Ian Bremmer, em uma nota aos clientes. Embora "a maioria das elites" aparentemente ache que os eleitores vão votar em um candidato mais tradicional, como Alckmin, há muita controvérsia em torno de sua equipe para que ele seja um concorrente forte, escreveu Bremmer.

"Depois da prisão do Lula, alguns participantes do mercado perceberam que não basta eliminá-lo da disputa, pois o processo eleitoral é muito mais longo e não é tão claro", disse Rodrigo Borges, diretor de renda fixa da unidade de investimentos da Franklin Templeton no Brasil, em São Paulo. "O centro que, em teoria, seria a favor da reforma, foi pulverizado, e a percepção é de que essa votação vai ser dividida."

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