Invest

Quem tem medo do shutdown? Wall Street já calcula os danos

Com o fim do shutdown, Wall Street enfrenta volatilidade global, queda nas apostas de corte de juros e um mercado às cegas diante de dados econômicos comprometidos

Shutdown: mesmo com final de paralisação, Wall Street fica em alerta (Imagem gerada por IA /Freepik)

Shutdown: mesmo com final de paralisação, Wall Street fica em alerta (Imagem gerada por IA /Freepik)

Publicado em 14 de novembro de 2025 às 06h10.

Última atualização em 14 de novembro de 2025 às 07h01.

A paralisação mais longa dos Estados Unidos chegou ao fim na quinta-feira, 13, mas os investidores não estão tão felizes assim. Para eles, que durante o shutdown ficaram às cegas quanto aos dados do país, o temor agora é sobre uma possível enxurrada de informações que possam impactar as decisões futuras do Federal Reserve (Fed) em relação aos juros.

Na sexta-feira, 14, os índices futuros de Wall Street operam perto da estabilidade após a pior queda diária em mais de um mês na quarta-feira, 13. Os contratos do Dow Jones recuavam cerca de 0,12%, enquanto os futuros do S&P 500 e do Nasdaq 100 também registravam leves baixas. A véspera foi marcada por um forte movimento de fuga de tecnologia, que atingiu ações como Nvidia, Broadcom e Tesla, levando o Nasdaq a liderar as perdas.

O fim do shutdown, que durou 43 dias, trouxe novo ruído ao mercado: a incerteza sobre quais dados econômicos serão divulgados e em que condições. A Casa Branca afirmou que parte das informações — como o relatório de desemprego de outubro — pode estar “permanentemente comprometida”. Isso tornou mais difícil antecipar o próximo passo do Fed, que já vinha adotando um tom mais cauteloso.

As apostas para um corte de juros em dezembro recuaram para cerca de 52%, após terem superado 95% um mês antes, segundo o Yahoo Finance. As falas recentes de dirigentes do Fed reforçaram a dúvida: o cenário de inflação persistente e atividade resiliente reduz a probabilidade de cortes agressivos.

O pessimismo se espalhou para outros mercados. Na Ásia, as bolsas registraram fortes quedas, acompanhando o movimento global: o MSCI Asia ex-Japan caiu 1,6%, o Nikkei recuou 2%, a bolsa da Coreia do Sul chegou a tombar 3,6%, e os índices da China caíram após dados fracos de produção industrial e vendas do varejo.

Na Europa, os futuros também abriram no vermelho, seguindo o sentimento negativo dos Estados Unidos.

Com o governo reaberto, investidores aguardam a nova agenda do Departamento de Estatísticas do Trabalho para medir a temperatura real da economia. Até agora, estratégias de mercado têm sido baseadas apenas em indicadores secundários, o o que aumenta a volatilidade e os ajustes bruscos de posição.

No câmbio e commodities, o dólar seguiu pressionado, próximo das mínimas em duas semanas, enquanto o ouro voltou a subir, negociado acima de US$ 4.180. Já o petróleo avançou após ataques a instalações russas, com o Brent superando US$ 63,90.

O consenso no mercado é que a combinação de dados incertos, dúvidas sobre o Fed e correções no setor de tecnologia deve manter a volatilidade elevada nas próximas semanas. Mesmo com o fim do shutdown.

Qual foi o impacto do shutdown nos mercados e na economia?

Em 29 de outubro, o Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA anunciou que a paralisação causou uma perda permanente de pelo menos US$ 7 bilhões na produção econômica.

Esse impacto foi apenas uma das consequências do shutdown, que durou 43 dias e afetou profundamente a economia americana e os mercados financeiros globais.

Na segunda-feira, 10, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, alertou que a desaceleração econômica do quarto trimestre deve ser ainda mais pronunciada, podendo reduzir pela metade o crescimento econômico do período.

O assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, chegou a afirmar que, se o shutdown continuasse por mais tempo, o crescimento do PIB poderia até se tornar negativo devido ao impacto em gastos sazonais e viagens, vitais para a economia durante esse período.

O risco de aumento do desemprego se tornou também uma preocupação crescente.

“A economia é frágil e, portanto, algo como uma paralisação do governo poderia se tornar um problema muito maior do que as pessoas imaginam”, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics à CNN.

Durante o pico da paralisação, os mercados financeiros reagiram com incerteza. A busca por ativos considerados seguros, como ouro e Bitcoin, foi um reflexo do medo de riscos econômicos. No entanto, após a expectativa de que o shutdown estivesse perto de ser resolvido, os mercados começaram a reagir positivamente.

Do dia 1º de outubro até a manhã de quinta, o Ibovespa foi o grande destaque no período, com uma valorização de 8,33%, segundo dados do mercado. Durante esse tempo, o mercado brasileiro registrou 15 pregões consecutivos de alta e alcançou 12 recordes, consolidando a rotação de capital para os mercados emergentes. Em contraste, o ouro teve uma valorização de 6,78% no mesmo período.

No cenário americano, o Dow Jones subiu 4,06%, atingindo novo recorde na quarta ao bater 48 mil pontos. O Nasdaq, por outro lado, teve um desempenho mais modesto, com alta de 3,30%, sendo pressionado pela rotatividade do setor de tecnologia e preocupações com os custos crescentes da inteligência artificial (IA).

Já o S&P 500 teve um ganho de 2,43%, um desempenho mais discreto no curto prazo, mas ainda acumulando um crescimento de 6,30% no ano.

Acompanhe tudo sobre:wall-streetbolsas-de-valoresDonald Trump

Mais de Invest

As duas bolsas da Prada: grife pode lançar ações na Itália e ter listagem dupla

Paramount, Comcast e Netflix preparam propostas mais agressivas à Warner

Após ações despencarem 42%, Hapvida aprova programa de recompra de ações

Lucro da JBS cai 16,1% no 3º trimestre, para US$ 581 milhões