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Queda nas apostas em mais inflação poupa Tombini de drama turco

Investidores reduzem estimativas para inflação no Brasil, enquanto a Turquia vai para a direção contrária, na economia, afetando os títulos e os papéis prefixados

A desaceleração do crescimento no Brasil corrobora a visão do Banco Central de que uma “deterioração substancial” da economia mundial vai frear a inflação (Álvaro Motta/EXAME)

A desaceleração do crescimento no Brasil corrobora a visão do Banco Central de que uma “deterioração substancial” da economia mundial vai frear a inflação (Álvaro Motta/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2011 às 05h19.

Nova York/Brasília - As perspectivas para inflação no Brasil e na Turquia, os dois primeiros países do Grupo dos 20 a cortar juros para sustentar o crescimento, caminham em direções contrárias. Enquanto no Brasil investidores reduzem suas estimativas para inflação, na Turquia a expectativa se deteriora.

A diferença entre os rendimentos de títulos atrelados à inflação e papéis prefixados caiu 95 pontos-base nos últimos 30 dias para 5,5 pontos percentuais, o menor nível desde 29 de agosto, véspera da reunião em que o Banco Central cortou inesperadamente o juro básico. A chamada taxa implícita de inflação reflete as expectativas de investidores para a alta anual dos preços ao consumidor. Na Turquia, a taxa implícita de inflação subiu 124 pontos-base no mesmo período para 7,1 pontos percentuais, o maior nível desde 6 de julho.

A desaceleração do crescimento no Brasil corrobora a visão do Banco Central de que uma “deterioração substancial” da economia mundial vai frear a inflação e abrir espaço para que os juros continuem caindo. Na Turquia, após três cortes na taxa básica de juros desde dezembro, a autoridade monetária tomou na semana passada medidas para encarecer o crédito com o intuito de conter a desvalorização de 21 por cento da lira nos últimos 12 meses.

“As pessoas subestimaram a rapidez do desaquecimento no Brasil”, disse Bhanu Baweja, chefe da área de câmbio de países emergentes e estrategista de crédito do UBS AG em Londres, em entrevista por telefone. “Eles têm um argumento válido para cortar os juros. O que vai acontecer na Turquia é que a inflação subirá. Veremos no próximo ano que a Turquia vai pagar um preço por causa da inflação, por causa da política monetária.”

Rendimentos em queda

Antes do corte da taxa Selic em agosto, o Comitê de Política Monetária, comandado pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, havia subido o juro cinco vezes desde o início do ano até chegar a 12,5 por cento em julho, e também elevado o depósito compulsório para conter o crédito bancário e a inflação. O BC também comprou US$ 52 bilhões ao longo do último ano para compensar a entrada de capital estrangeiro no mercado de câmbio local, o que colaborou para a desvalorização de 3,1 por cento do real.

O rendimento das Notas do Tesouro Nacional da série B, indexadas à inflação e com vencimento em 2016, caiu 11 pontos- base, ou 0,11 ponto percentual, nos últimos 30 dias para 5,44 por cento, enquanto o rendimento de títulos prefixados de prazo similar recuou 34 pontos-base para 11,54 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A taxa dos contratos de Depósito Interfinanceiro com vencimento em julho de 2016 diminuiu 34 pontos-base para 11,2 por cento.

Na Turquia, o rendimento dos títulos atrelados à inflação com prazo até maio de 2016 caiu 58 pontos-base no último mês para 2,5 por cento, enquanto para os papéis prefixados com vencimento em janeiro de 2016, a taxa deu um salto de 101 pontos-base para 9,7 por cento.


A assessoria de imprensa do Banco Central não quis fazer comentários.

‘Excessivamente relaxada’

Na Turquia, a autoridade monetária diminuiu o juro básico em dezembro e elevou o depósito compulsório para estreitar o déficit em transações correntes e enfraquecer a lira.

A desvalorização da moeda turca se agravou com a menor demanda por ativos de mercados emergentes após o agravamento da crise de dívida da Europa. A lira é a moeda de pior desempenho entre as de mercados emergentes nos últimos 12 meses. Isso levou o banco central local a vender mais de US$ 8 bilhões no mercado de câmbio local desde 5 de agosto.

Tugrul Gurgur, chefe de comunicação do gabinete do presidente do BC turco, Erdem Basci, não respondeu ligações da reportagem para seu escritório e telefone celular.

“O que está acontecendo na Turquia é mais uma reação a uma postura monetária excessivamente relaxada que não é compatível com a estabilidade da lira”, disse Paul McNamaura, que ajuda a administrar US$ 7 bilhões em dívida de mercados emergentes na GAM Investment Management em Londres, em entrevista por telefone. “A economia da Turquia é um pouco mais aberta que a do Brasil e o nível da lira é mais importante para a inflação. A inflação no Brasil não é uma grande preocupação para a gente.”

Perspectiva de crescimento

A inflação na Turquia pode se acelerar de 6,2 por cento no mês passado para 8,5 por cento até o fim do ano, disse o Fundo Monetário Internacional em 22 de setembro. O banco central pretende baixar a taxa para 5 por cento em 2012. A economia turca vai se expandir 7,5 por cento este ano, comparado a 8,9 por cento em 2010, de acordo com o governo local.

A economia brasileira dá sinais de desaquecimento após um avanço de 7,5 por cento em 2010, que foi o mais forte em mais de duas décadas. As vendas no varejo diminuíram 0,4 por cento em agosto, a maior queda desde março de 2010, enquanto o índice de atividade econômica do BC teve em agosto o maior recuo em três anos. Economistas sondados pelo BC reduziram a projeção de crescimento para este ano para 3,3 por cento em 21 de outubro, comparado a 3,42 por cento na semana anterior.

A alta anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 se reduziu pela primeira vez em 14 meses em meados de outubro, de acordo com relatório divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no último dia 20. O IPCA-15 subiu 7,12 por cento nos 12 meses até meados de outubro, após atingir o maior nível em seis anos de 7,33 por cento no mês anterior. O BC prometeu baixar a inflação para a meta de 4,5 por cento até o fim de 2012.

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