Dólar furou um piso importante neste mês e trouxe de volta discussões sobre a atuação do Banco Central no câmbio (Hamera Technologies/VEJA)
Reuters
Publicado em 24 de outubro de 2018 às 09h54.
Última atualização em 24 de outubro de 2018 às 10h13.
São Paulo - A expectativa dos investidores de que o segundo turno da corrida presidencial, no próximo domingo, termine com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), com Paulo Guedes chefiando a equipe econômica, fez o dólar furar um piso importante neste mês e trouxe de volta discussões sobre a atuação do Banco Central no câmbio.
O BC atuou intensamente no câmbio no segundo trimestre por meio de oferta de swap cambial tradicional - equivalente à venda futura de dólares - para tentar conter o nervosismo dos investidores com as incertezas eleitorais que vinham pressionando fortemente a cotação da moeda norte-americana.
"Muito do que foi ofertado em swap cambial (neste ano) não estava atrelado a nenhum passivo. Agora, com a derrocada do dólar, o investidor precisa sair dessa posição", disse o economista e sócio da NGO Corretora, Sidnei Nehme.
O estoque atual de swap cambial tradicional é de 68,86 bilhões de dólares, segundo o Banco Central, dos quais pouco mais de 43 bilhões de dólares foram injetados em leilões extraordinários entre 14 de maio a 22 de junho, em meio ao nervosismo dos investidores por causa das eleições.
Na ocasião, a atuação do BC gerou críticas de alguns especialistas, avaliando que a oferta da autoridade monetária estava favorecendo a atuação de especuladores.
A campanha eleitoral acabou ficando um pouco diferente do que imaginavam os investidores, que viam em Geraldo Alckmin (PSDB) a melhor opção para ajustar as contas públicas.
Sem decolar, o tucano foi sendo substituído na preferência do mercado por Bolsonaro, que chegou na frente no primeiro turno tendo consigo o economista Paulo Guedes, que é cotado para ser o ministro da Fazenda, caso o candidato do PSL vença a eleição.
O dólar, que chegou a bater recorde do Plano Real em 13 de setembro, a 4,1957 reais, passou a perder força e caiu abaixo de 3,70 reais, acumulando no mês até esta terça-feira queda preliminar de quase 8,5 por cento - a maior desde junho de 2016 (-11,05 por cento).
Com isso, começou a crescer a percepção de que há espaço para o BC fazer rolagem apenas parcial, reduzindo o estoque total em swaps.
"Com o recuo do dólar, faz sentido o mercado começar a pensar nisso (redução da oferta de swap para rolagem), mas não quer dizer que seja algo concreto", avaliou o operador da corretora H.Commcor Cleber Alessie Machado.
Segundo ele, faria mais sentido o BC esperar o término das eleições e o comportamento do mercado para definir o que fazer.
"O BC pode manter a rolagem integral... ir observando, ser mais prudente", e depois definir o próximo passo, disse Machado.
Em dezembro vencem 12,217 bilhões de dólares em swaps cambiais. Nos últimos meses, para impedir qualquer tipo de especulação sobre a atuação do BC e limitar os ruídos no mercado, a autoridade tratou de sinalizar que logo pretendia fazer a rolagem integral dos vencimentos.
"Acho que o BC está bastante confortável para esperar antes de se decidir", disse o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado. "A tendência é de queda, o BC tem tempo para decidir", concluiu.