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Queda da Selic deve afastar (ainda mais) a entrada de dólares no país

Moeda americana fechou cotada acima dos R$ 5,70 e voltou a renovar máxima histórica, com mercado já precificando queda de juros

Dólar: investimento estrangeiro no mercado de títulos fica mais distante (RapidEye/Getty Images)

Dólar: investimento estrangeiro no mercado de títulos fica mais distante (RapidEye/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 6 de maio de 2020 às 19h17.

Última atualização em 6 de maio de 2020 às 19h48.

Em linha com as expectativas mais agressivas do mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou, nesta quarta-feira, 6, por um corte de 0,75 ponto percentual, que fez, novamente, a taxa básica de juros Selic renovar as mínimas históricas, agora em 3% ao ano. A medida, atrelada à piora da percepção externa sobre o Brasil, pode deixar a tão sonhada volta do investidor estrangeiro ainda mais longe, segundo analistas. Isso porque os títulos da dívida pública brasileira se tornaram menos rentáveis e mais arriscados.

A percepção da menor entrada de dólar é visível na cotação da moeda, que bateu 5,703 reais no último pregão, renovando as máximas históricas minutos antes da decisão do Copom. “A queda da Selic prejudica muito o câmbio por causa do carry trade”, disse Jerson Zanlorenzi, responsável da mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual digital.

A prática financeira, que consiste em tomar dinheiro em economias com menores taxas de juros e aplicar em países que pagam maiores retornos, era tida como uma das principais entradas de dólares no país. “Em 2016, o investidor estrangeiro tinha um retorno de 14% praticamente assegurado”, lembra Fabrizio Velloni. Desde então, a taxa de juros brasileira, caiu para menos de um quarto do que era. Somente em relação a maio do ano passado, a Selic caiu mais do que pela metade de, 6,5% para 3%.

Hoje, o Brasil é o país com a menor taxa de juros entre as principais economias emergentes. México, Rússia e África do Sul, além de juros mais atrativos, também são mais bem avaliados por agências de classificação de risco. A Turquia, embora fique duas notas abaixo do Brasil no ranking da Moody’s, paga quase o triplo da taxa brasileira. 

“Já existe o risco de ser país em desenvolvimento. Com os juros baixos, tira esse atrativo, reduzindo muito os investimentos”, disse Vanei Nagem, analista de câmbio da terra Investimentos. 

Descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, a taxa de juros de 3% ao ano cai para 0,26%, de acordo com levantamento feito pela Infinity Asset com o MoneyYou. A taxa fica apenas 0,28 ponto percentual acima da do Japão, que, pelo mesmo cálculo, fica negativa em 0,02%. No ranking da Moody’s, o Japão está 7 notas a frente do Brasil, e é classificado como “grau de investimento”, enquanto a nota brasileira amarga o "grau especulativo".

“Os juros, hoje, já estão quase em níveis de primeiro mundo. Então a gente deveria ter uma economia de primeiro mundo, mas não temos”, disse Nagem.

Com dados negativos dos impactos do coronavírus ainda por vir, o Brasil pode atravessar períodos de taxas de juros ainda mais baixas. A mediana apresentada no último boletim Focus mostra que o mercado ainda espera, pelo menos, mais um corte 0,25 ponto percentual até o final do ano. "A política monetária segue o rumo de como já vem sendo conduzida pelo Banco Central nos últimos meses e a gente vê a Selic recuando de fato", disse Roberto Indech, estrategista-chefe da corretora Clear.

“Se a política de afrouxamento dos juros continuar, pode piorar ainda mais o câmbio e fazer o dólar chegar a 6 reais”, afirmou Zanlorenzi. No ano, a moeda brasileira é a que mais se desvalorizou. Em relação ao real, o dólar já acumula alta de 40,8%, em 2020. Indech, porém, acredita que novos cortes não devem voltar a pressionar o dólar. 

"Pode ser que o movimento de alta continue mas não acho que será intensificado pela queda da taxa de juros, dado que o mercado já precifica uma Selic em 2,5%", afirmou.

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