Embraer, Vale e Ambev são algumas das campeãs de valorização (Patricia Monteiro/Bloomberg via/Getty Images)
CCR e CSN, no primeiro e no segundo governos Lula. Prio e Positivo, no governo Bolsonaro. Essas são algumas das ações campeãs em rentabilidade em cada período de mandato dos presidentes brasileiros desde o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Os dados foram compilados pela plataforma TradeMap e consideram o índice Bovespa, o Ibovespa, que reúne as ações com maior volume negociado na Bolsa.
Entre as similaridades dos governos estão as muitas empresas produtoras de commodities, como Usiminas, no Lula 1, e a Vale, que figurou entre as cinco ações mais rentáveis tanto no governo de Michel Temer quanto no segundo mandato de FHC – aqui vale uma observação: a mineradora foi privatizada em 1997, penúltimo ano do primeiro mandato do tucano.
Alguns fatores influenciam a lista das “campeãs”. Ciclo de privatizações, valorização de commodities, medidas de estímulo ao consumo e programas sociais, como os de financiamento a moradia ou ensino superior. Não se pode, no entanto, atribuir as oscilações das ações apenas ao ambiente macro e os respectivos governos.
Para não haver tantas distorções pelo pacote de privatizações durante o governo Itamar Franco e o primeiro mandato de FHC, foi considerado apenas o segundo governo do tucano, que foi de 1999 a 2002. Mas os reflexos da redução de participação ou saída do Estado das empresas são visíveis também na rentabilidade das ações do período do segundo mandato.
De 1999 a 2002, tanto as ações ordinárias quanto as preferenciais da fabricante de aeronaves Embraer foram as líderes de rentabilidade, com saltos expressivos de 1.705% e 1.217%, respectivamente. A empresa havia sido privatizada em 1994 e começava a dar lucro após esse processo. A Vale também foi uma empresa privatizada anos antes (em 1997) e durante o segundo mandato registrou valorização de 1.159% de seus papéis.
Governo FHC (período analisado de 31 de dezembro de 1998 a 31 de dezembro de 2002)
Empresa | Ação | Valorização acumulada (%) |
Embraer | EMBR3 | 1.705,83 |
Embraer | EMBR4 | 1.217,63 |
Vale | VALE3 | 1.159,62 |
Fibria | VCPA4 | 921,19 |
Sid. Tubarão | CSTB4 | 874,50 |
No primeiro mandato de Lula, o Ibovespa registrou a maior valorização acumulada: 32,99%. Nesse período, a ação que mais se valorizou foi a do grupo de concessão de infraestrutura e mobilidade CCR, que realizou sua abertura de capital em 2002. Naquele mesmo período, o mundo acompanhou o crescimento da economia chinesa, que impulsionou a demanda por commodities. Diante desse cenário, as empresas ligadas a esse setor viram seus ativos ganharem tração. Entre as cinco maiores valorizações estão: Usiminas, Gerdau e CSN. O avanço desses ativos também ajuda a explicar o salto do índice, no qual as empresas de commodities têm grande representatividade.
Já no segundo governo do petista, o setor de consumo ganhou mais relevância entre as ações mais valorizadas, impulsionado por programas sociais de transferência de renda, como o Bolsa Família. A fabricante de cigarros Souza Cruz (que fechou capital em 2015) e a cervejaria Ambev passaram a figurar entre as cinco maiores altas. Vale destacar ainda varejista de moda Renner, que foi a oitava maior valorização do período. O período também foi marcado por bons desempenhos de ações de commodities e infraestrutura, como as empresas de energia elétrica, como a Companhia de Transmissão Paulista, atual Isa Cteep.
Primeiro Governo Lula (período analisado 31 de dezembro de 2002 a 31 de dezembro de 2006)
Empresa | Ação | Valorização acumulada (%) |
CCR | CCRO3 | 1.806,07 |
Usiminas | USIM5 | 1.519,58 |
Gerdau | GOAU4 | 886,75 |
Sid. Nacional | CSNA3 | 756,45 |
Banco Brasil | BBAS3 | 740,21 |
Segundo Governo Lula (31 de dezembro 2006 a 31 de dezembro 2010)
Empresa | Ação | Valorização acumulada (%) |
Souza Cruz | CRUZ3 | 223,76 |
Sid. Nacional | CSNA3 | 198,35 |
Tran. Paulista | TRPL4 | 186,05 |
MMX Miner | MMXM3 | 181,38 |
Ambev | AMBV4 | 181,02 |
Nos governos Dilma há mais diversidade de setores entre os papéis mais rentáveis. No caso do primeiro governo, por exemplo, a empresa de pagamentos Cielo lidera a lista das cinco mais rentáveis, com 329% de alta. Ela é seguida pela empresa de ensino superior Yduqs (ex-Estácio), refletindo a intensificação dos programas socias de educação Prouni e Fies. Também lideram as altas, a BRF, de proteína animal, a Embraer e a Ambev.
No segundo mandato, a campeã de valorização foi a varejista farmacêutica RaiaDrogasil, que havia feito a fusão de Raia e Drogasil poucos anos antes. O papel se valorizou, 140%. Também figura entre as maiores altas a B3, que à época ainda era a BM&FBovespa. Em abril de 2016, a empresa comprou a Cetip, depositária de títulos de renda fixa. A nova companhia só passou a se chamar B3 em março de 2017, mas o anúncio da aquisição de R$ 12 bilhões feito ainda em 2016, impulsionou as ações. Há ainda o banco Santander e empresas de utilidade pública, como Sabesp, de saneamento, e Equatorial, de energia elétrica.
Primeiro Governo Dilma (31 de dezembro de 2010 a 31 de dezembro de 2014)
Empresa | Ação | Valorização acumulada (%) |
Cielo | CIEL3 | 329,00 |
Yduqs (ex-Estácio) | YDUQ3 | 176,56 |
BRF | BRFS3 | 145,91 |
Embraer | EMBR3 | 121,26 |
Ambev | ABEV3 | 116,90 |
Segundo Governo Dilma (31 de dezembro de 2014 a 31 de agosto de 2016)
Empresa | Ação | Valorização acumulada (%) |
RaiaDrogasil | RADL3 | 140,47 |
B3 | B3SA3 | 97,02 |
Santander | SANB11 | 92,50 |
Equatorial | EQTL3 | 90,26 |
Sabesp | SBSP3 | 77,90 |
No governo Temer, de 31 de agosto de 2016 até o fim de 2018, a ação da companhia aérea Gol acumulou valorização de 296,52% e a da rede de agências de viagem CVC, 180,11%. No mandato de Temer, que começou após impeachment de Dilma Rousseff, a Selic - que é a taxa de juros básica - passou de 14,25% em agosto de 2016 para 6,50% em dezembro de 2018, favorecendo atividades como a de turismo, no qual o cliente é mais dependente de crédito. Também se valorizaram ações relacionadas às commodites, como a Vale e a Bradespar.
O grande destaque, porém, foi a varejista Magazine Luiza, cujo papel acumulou alta de 2.327%. A queda do juro básico e da liberação do saque do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) ajudaram a estimular o consumo de bens duráveis, como geladeiras, fogões e máquinas de lavar roupa – a rede de lojas tem alta exposição em linha branca. Além disso, a empresa também passou por mudanças no comando. O ano de 2016 foi o primeiro de Frederico Trajano, filho de Luiza Trajano, na presidência da empresa.
Empresa | Ação | Valorização acumulada (%) |
Magazine Luiza | MGLU3 | 2.327,26 |
Gol | GOLL4 | 296,52 |
Bradespar | BRAP4 | 241,15 |
Vale | VALE3 | 229,09 |
CVC | CVCB3 | 180,11 |
Do início do governo Bolsonaro, em 2019 até 26 de setembro, a ação que mais se valorizou foi a Prio (ex-PetroRio), empresa de exploração de petróleo. No primeiro ano do governo, a empresa adquiriu o Campo de Frade, na Bacia de Campos, e, desde então, viu a produção se aproximar do dobro até então registrado. Na Bolsa, a ação da comapanhia acumulou alta de 1272% desde o início de 2019.
Já a segunda ação que mais se valorizou nesse período foi a Positivo, que saltou 514%. A fabricante de computadores ampliou sua operação, especialmente no braço de serviços, com locação de equipamentos e nuvem. A companhia também viu suas ações oscilarem após ganhar o edital para fabricação de novas urnas, que foram usadas pelas primeira vez nas elições municipais de 2020.
A mais recente escalada dos juros básicos, que passaram de 2% em agosto de 2020 para 13,75%, também pode ter alterado o ranking das ações mais valorizadas. Entre as cinco primeiras estão dois bancos: o BTG (grupo de controle da EXAME) e o Banco Pan.
Empresa | Ação | Valorização acumulada (%) |
PRIO (ex-PetroRio) | PRIO3 | 1.271,98 |
Positivo | POSI3 | 513,85 |
BTG | BPAC11 | 343,41 |
Banco Pan | BPAN4 | 277,60 |
Eneva | ENEV3 | 268,18 |