O SC Corinthians Paulista está oferecendo US$ 56 milhões pelo atacante argentino Carlos Tevez (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2011 às 10h39.
Nova York e São Paulo - O boom de importações que levou o Bank of America Corp. e o RBC Capital Markets a dizerem que o real está sobrevalorizado pode se estender para os campos de futebol.
O SC Corinthians Paulista está oferecendo US$ 56 milhões pelo atacante argentino Carlos Tevez, jogador do Manchester City na Premier League inglesa. A alta do real de 24 por cento nos últimos dois anos ajudou o time a fazer a maior oferta da história de um clube brasileiro e está abrindo uma “nova era para o negócio de esportes no Brasil”, disse Luís Paulo Rosemberg, vice-presidente de marketing do Corinthians.
O real é negociado 52 por cento acima de seu valor justo, o maior prêmio entre moedas de mercados emergentes, segundo dados compilados pela Bloomberg a partir do Índice Big Mac da revista The Economist. Essa valorização ajudou na alta de 11,4 por cento para os títulos brasileiros denominados em reais, quando convertidos para dólares, mais do que o dobro da rentabilidade média de títulos de mercados emergentes, emitidos em moedas locais, segundo o JPMorgan Chase & Co.
“A moeda brasileira provavelmente vai se mostrar nada competitiva nos níveis atuais”, disse Nick Chamie, chefe global de mercados emergentes da RBC em Toronto, em entrevista por telefone. “Numa perspectiva de mais longo prazo, não acreditamos que o real deva permanecer em patamares tão fortes como agora.”
Importações recordes
O governo elevou os custos para fazer apostas contra o dólar na semana passada depois que a moeda americana caiu para o menor valor em 12 anos, a R$ 1,5524. Foi a medida mais recente para tentar conter a valorização do real. No ano passado, o Imposto sobre Operações Financeiras foi triplicado, de 2 por cento para 6 por cento, nas aplicações de estrangeiros em renda fixa.
O real acumula um ganho de 68 por cento desde 2004, a maior alta entre as principais moedas do mundo. Ao mesmo tempo em que cresceu a demanda pelas commodities exportadas pelo País, o juro real brasileiro, segundo maior do mundo, atrai mais investimento estrangeiro.
Essa valorização impulsionou as importações para US$ 206 bilhões nos últimos 12 meses, o dobro dos US$ 102 bilhões quatro anos antes. O déficit nas transações correntes subiu para o recorde de US$ 51 bilhões nos 12 meses até maio. A última pesquisa do BC com economistas aponta expectativas de que esse rombo suba para US$ 70 bilhões em 2012.
‘Vantagem de longo prazo’
A oferta feita pelo Corinthians ao Manchester superou os US$ 20 milhões pagos por Tevez ao Boca Juniors em 2004. Tevez, 27 anos, deixou o Corinthians em 2006. A assessoria de imprensa do Manchester não quis comentar o assunto.
“Claro que o nosso real mais forte ajuda”, disse Rosemberg em entrevista por telefone. “Nossa moeda também nos torna mais fortes. É também uma vantagem de longo prazo. É uma nova era para o negócio de esportes no Brasil.”
O dólar vai subir 4,3 por cento de R$ 1,5791 para R$ 1,65 até o fim de 2012. Isso faria do real a moeda de pior desempenho nos mercados emergentes após o peso argentino e o rand sul- africano, segundo a estimativa mediana de uma pesquisa da Bloomberg com 15 analistas. O dólar deve se valorizar ainda mais para R$ 1,75 em 2013, de acordo com a pesquisa. O Bank of America Corp projeta alta para R$ 1,80 no ano que vem, enquanto o Goldman Sachs prevê apreciação para R$ 1,85 até 2012.
O “real está significativamente sobrevalorizado”, Jim O’Neill, presidente da Goldman Sachs Asset Management, escreveu em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem. “Recebo visitas de brasileiros que agora descrevem Londres como uma cidade barata. É impressionante.”