Maria Helena Válio, fundadora do grupo de investidoras Women Invest: mulheres querem ser tratadas igual (Leandro Fonseca/Exame)
Marília Almeida
Publicado em 3 de setembro de 2022 às 08h00.
Última atualização em 16 de setembro de 2022 às 15h53.
O número de investidores homens na bolsa de valores é historicamente maior que o número de mulheres. Contudo, historicamente o valor mediano do primeiro investimento das mulheres é maior. Em julho, último dado disponível, era de R$ 463, enquanto o dos homens é de R$ 71. É o que mostram dados divulgados nesta semana pela B3.
Dentre os investidores que entraram na bolsa em junho as mulheres estão mais concentradas em faixas de valores maiores. Entre os homens, a maioria fez seu primeiro investimento com quantias até R$ 200.
Segundo Renata Sutto Generoso, superintendente comercial da corretora Necton, os números corroboram dados históricos de finanças comportamentais. "A mulher costuma ser mais cautelosa e aprofundar estudos antes dos investimentos. Com mais conhecimento, acaba fazendo um investimento maior. Quando opta por aplicar, não vai para conhecer ou fazer aposta: de fato monta uma posição".
Para Maria Helena Válio, fundadora do Women Invest, que reúne 2.300 investidoras. com patrimônio médio de R$ 1 milhão, as instituições financeiras precisam melhorar o diálogo com as mulheres se quiserem acelerar a evolução das investidoras no mercado e abocanhar um patrimônio crescente.
"Queremos igualdade de tratamento, ser reconhecidas como clientes. Por que mulher só tem de estar presente na questão da diversidade? Também tem de estar na renda fixa, na bolsa. Gostamos de filantropia, mas queremos saber o que está acontecendo de fato no mercado".
Para incentivar esse diálogo entre mulheres e instituições financeiras, Valio organiza o Women Invest Summit. Gratuito, ele será realizado em São Paulo no dia 15 e conta com o patrocínio de mais de 20 instituições financeiras, entre elas o BTG Pactual, além de apoio da Anbima e da B3.
O congresso incluirá palestras, painéis e workshops que irão debater pautas diversas, como investimentos no exterior e formação da reserva para a aposentadoria. Também irá abordar questões e preocupações do público feminino, como o perfil da investidora, temas ESG e como se preparar financeiramente para cuidar de pais idosos.
Ainda que lentamente, a participação das mulheres na bolsa evolui: as mulheres já correspondem a 25% do total de investidores em equities.
Os homens ainda são maioria tanto em fundos imobiliários quanto ETFs. Mas o número de mulheres que investem nesses ativos teve um crescimento proporcional maior do que o de homens a partir de 2019. A alta no número de mulheres foi de 195% em FII e 432% em ETF, contra 158% em FII e 377% em ETF dos investidores homens.
Nos BDRs, temos a menor participação de investidoras mulheres entre todos os produtos de equities: 16%. Nas outras classes de ativos, variam entre 25% e 28%.
Segundo Generoso, um fator que influenciou a evolução é mais lenta nos últimos anos é o cenário macroeconômico. "A renda fixa se tornou mais atrativa e atrasou um crescimento maior. A mulher já tem uma tendência de não ir para o risco. Em um cenário no qual a renda fixa permite maiores rendimentos, ela opta por essa classe de ativos".
As mulheres vêm diversificando mais suas carteiras de investimentos. Em 2016, 75% das investidoras possuíam apenas ações; hoje, esse número caiu para 39%. Em paralelo, mais de 40% das mulheres investem em dois ou mais produtos.