Mercados

Pressão sobre dólar é doméstica, diz FGV

De acordo com pesquisador da instituição, embate entre Executivo e Legislativo é o que mais tem feito a moeda subir

Dólar: moeda chegou a máxima de R$ 4.65 nesta semana (David M. Elmore/Getty Images)

Dólar: moeda chegou a máxima de R$ 4.65 nesta semana (David M. Elmore/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de março de 2020 às 09h42.

Última atualização em 7 de março de 2020 às 09h45.

São Paulo — Grande parte da disparada cambial no Brasil nas últimas semanas, levando a cotação do dólar a R$ 4,65 na quinta-feira, é resultado de problemas internos do País, e não de fatores internacionais, como a epidemia do coronavírus.

Estudo inédito do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) mostra que, até janeiro, questões externas dominaram a desvalorização do real, situação que se inverteu a partir de fevereiro.

Segundo o pesquisador da instituição, Livio Ribeiro, responsável pelo estudo, 76% da desvalorização do real nas últimas quatro semanas foram puxadas por problemas domésticos.

Foi nesse período que se acirrou o embate entre Executivo e Legislativo, ameaçando o andamento de reformas, tema levado muito em conta pelo mercado financeiro mas, de certa forma, escamoteado pelos efeitos do coronavírus.

"Tem uma parcela da depreciação que não é explicada, mas o que observamos é que o mundo de fato piorou, mas grande parte deve ser cobrada de nós mesmos", disse Ribeiro ontem durante o seminário "Perspectivas 2020 - 1º trimestre", organizado pelo Ibre/FGV em parceria com o Estado.

Ele lembrou que situação similar ocorreu em maio do ano passado - no embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente do Congresso, Rodrigo Maia, durante a tramitação da reforma da Previdência. O real também teve forte desvalorização, num movimento isolado ante outras moedas.

Pânico

Na opinião do pesquisador do Ibre/FGV e economista sênior da LCA Consultores, Braulio Borges, o confronto entre Executivo e Congresso "pesa muito na avaliação do mercado financeiro" e, de fato, ajudou no movimento de alta do dólar.

Mas, para ele, o que está dominando hoje é o noticiário do novo coronavírus. "O pânico está sendo criado e os mercados estão deixando a racionalidade de lado; com isso, a chance de ocorrer disfuncionalidades é maior.

"Estamos indo para duas semanas de sangria desatada nos mercados. Se prosseguir por mais duas, três semanas nesse ritmo, a destruição de riqueza financeira será enorme", disse. Esse pânico também levou vários países a reverem as previsões de PIB para este ano, atitudes que ele considera precipitadas.

Juros

Um novo corte da taxa de juros (hoje em 4,25%) por parte do Banco Central, na intenção de amenizar o cenário econômico, não é consenso entre os participantes. Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre/FGV, apoia a redução com a justificativa de que a demanda está fraca, o que colaborou para o "resultando frustrante" de alta de 1,1% do PIB no ano passado.

Já Armando Castelar, também pesquisador da entidade, avaliou que novo corte neste momento pode ser contracíclico para a atividade econômica, pois pode pressionar o câmbio e indicar que a crise por causa do coronavírus está pior. "Pode ser contraproducente."

O Ibre espera queda dos juros para 3,75% este ano, informou a coordenadora do Boletim Macro da FGV, Silvia Matos. Ela disse ainda acreditar que a economia brasileira poderá crescer 2% este ano, se o impacto dos coronavírus não for tão forte no País.

Investimentos em infraestrutura seriam uma alternativa para o crescimento, mas ela não vê empenho do governo por exemplo em avançar com as programas de concessão. Além disso, o investidor continua esperando reformas e ações que garantam previsibilidade nos negócios.

Borges, porém, afirmou achar "cada vez mais difícil, com esse pânico aberto dos mercados, chegar aos 2% de crescimento." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:BrasilDólarGoverno Bolsonaro

Mais de Mercados

Banco do Brasil promove trocas nas lideranças de cinco empresas do conglomerado

Bolsas globais superam desempenho dos EUA nos primeiros seis meses do governo Trump

Ibovespa fecha em queda de 1,61% pressionado por tensões políticas

Dólar fecha em alta de 0,73% após Bolsonaro ser alvo de operação da PF