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Powell reforça postura 'sem pressa' para decidir sobre juros em meio a tarifas

“Acreditamos que é apropriado ser paciente”, disse o presidente do Fed em discurso, alertando para riscos tanto de aumento de inflação quanto de redução da atividade por tarifas

Powell e seu mantra: Não sentimos que precisamos ter pressa (Mandel NGAN/AFP)

Powell e seu mantra: Não sentimos que precisamos ter pressa (Mandel NGAN/AFP)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 7 de maio de 2025 às 17h22.

As tarifas impostas por Donald Trump colocaram o Federal Reserve (Fed) num dilema importante: se, por um lado, elas são inflacionárias, por outro, tem o potencial para reduzir a atividade econômica.

Isso coloca o Banco Central americano em direções opostas em seu “duplo mandato”, de manter a inflação controlada e o mercado de trabalho aquecido.

O mercado não esperava nada diferente de uma manutenção de juros na reunião de hoje – mas também aguardava alguma clareza tanto no comunicado quanto no discurso de Powell sobre como a autoridade monetária está vendo o balanço de riscos.

A única coisa que ficou clara por enquanto é que o Fed vê riscos para ambos os lados – e prefere esperar.

“A incerteza sobre as perspectivas econômicas aumentou ainda mais. O Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e julga que os riscos de maior desemprego e maior inflação aumentaram”, escreveram os membros do Comitê de Política Monetária (Fomc, na sigla em inglês) no comunicado pós decisão.

No seu discurso, Jerome Powell reforçou a mensagem. “Se os grandes aumentos nas tarifas que foram anunciados se sustentarem, eles provavelmente vão gerar um aumento na inflação, uma desaceleração no crescimento econômico e um aumento do desemprego”, falou logo após a decisão.

Nesse sentido, ele manteve o discurso de “esperar para ver”.

“Não sentimos que precisamos ter pressa. Acreditamos que é apropriado ser paciente”, disse. “Quando as coisas se desenvolverem poderemos nos mover rapidamente no momento apropriado.”

No mercado, as apostas numa queda na taxa de juros na próxima reunião, em junho, que já tinham sido reduzidas substancialmente nas últimas semanas, caíram ainda mais, passando de 30% para 25%. A expectativa ainda é de cortes na segunda metade do ano.

Olhando para a atividade, Powell afirmou que a contração do PIB americano no primeiro trimestre foi “notável”, mas sinalizou que o banco central vê o indicador com ressalvas.

Segundo ele, o declínio na economia refletiu mudanças nas exportações que foram impulsionadas pelos empresas antecipando importações ainda das tarifas potenciais.

“Essa mudança complicou a medida do PIB no último trimestre”, afirmou.

Olhando além desses ruído, Powell reforçou o que o comunicado do Fomc já havia trazido, dizendo que a economia cresce num “ritmo sólido” e que o mercado de trabalho também parece forte.
Powell ressaltou, contudo, que a confiança do consumidor e dos negócios ainda está em declínio, ilustrando a incerteza sobre o cenário econômico e as preocupações com as políticas comerciais.

“A ver como esses fatores podem afetar o gasto futuro e o investimento”, afirmou.

Sem pouso suave

Questionado durante a coletiva de imprensa se ele ainda via espaço para um “pouso suave”, com crescimento sustentado e inflação de volta à meta de 2%, ele preferiu não responder.

Powell afirmou que a economia já fez bastante progresso em termos de alívio na inflação e do mercado de trabalho voltar ao normal depois da falta de trabalhadores que se seguiu à pandemia.

Mas olhando, à frente, se as tarifas realmente implementadas, ele reconheceu que pode haver um atraso no atingimento dos objetivos.

“Se as tarifas forem implementadas nos níveis anunciadas, o que não sabemos, vamos ter que ver”, disse. “Não veremos progresso adicional em relação a nossos objetivos. Podemos ver um atraso neles.”

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