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Possível mudança de regime no Irã pode causar maior choque no petróleo desde 1979

Desde o início do conflito com Israel, o preço do petróleo já subiu 10%; analistas alertam para risco de colapso na oferta global

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 23 de junho de 2025 às 06h09.

Desde 1979, oito mudanças de regime em grandes países produtores de petróleo provocaram choques severos nos preços do barril, com picos médios de 76% e estabilização posterior 30% acima dos níveis anteriores. Naquele ano, a Revolução Iraniana quase triplicou o preço do petróleo. Agora, mais de quatro décadas depois, analistas alertam que um novo colapso no regime de Teerã pode desencadear a maior alta desde então.

O petróleo já subiu cerca de 10% desde que Israel iniciou sua ofensiva contra o Irã, em 9 de junho, e a possibilidade de interrupções na oferta global pode levar os preços a ultrapassarem US$ 100 por barril, segundo projeções de mercado.

Os contratos futuros do petróleo Brent e dos EUA voltaram a ser negociados no domingo, 22, com expectativa de abertura em alta de US$ 3 a US$ 5 por barril. A reação nos mercados acionários também será monitorada de perto com a abertura de Wall Street.

Ataques visam bases nucleares e poder interno iraniano

Em entrevista na última quinta-feira, 19, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que o objetivo central da campanha militar é atingir as instalações nucleares iranianas. No entanto, ele admitiu que a queda do regime liderado pelo aiatolá Ali Khamenei pode ser uma consequência do conflito.

No dia seguinte, o ministro da Defesa, Israel Katz, ordenou a intensificação dos ataques, com o objetivo declarado de “desestabilizar os fundamentos do poder” iraniano. Segundo fontes internacionais, os primeiros ataques planejavam atingir diretamente Khamenei — plano vetado pelos Estados Unidos.

Com a entrada dos EUA na ofensiva e o bombardeio de três instalações nucleares em Fordo, Natanz e Esfahan, o cenário se agravou. A consultoria Rapidan Energy já previa 70% de chance de os EUA aderirem à campanha contra alvos nucleares.

Mercado alerta para risco de bloqueio no Estreito de Ormuz

Para analistas ouvidos pela CNBC, se o Irã sentir que sua sobrevivência está em risco, pode reagir agressivamente contra infraestrutura energética regional ou navios no Golfo Pérsico. Uma das maiores ameaças é o bloqueio do Estreito de Ormuz, por onde passa 20% do petróleo mundial.

Helima Croft, da RBC Capital, afirmou que o Irã já estaria interferindo nos sistemas de rastreamento de embarcações. QatarEnergy e o governo da Grécia recomendaram a seus navios que evitem a travessia.

Para a Rapidan Energy, sinais claros de que o regime iraniano estaria ruindo poderiam retirar até 3 milhões de barris por dia do mercado global. Em um cenário mais extremo, o fornecimento via Ormuz poderia ser interrompido por semanas ou meses. “Não seria um passeio no parque”, alertou Bob McNally, ex-assessor de energia da Casa Branca.

O precedente histórico das revoluções no petróleo

Segundo relatório do JPMorgan, mudanças políticas em países produtores sempre geraram choques severos nos preços do petróleo. Em 2011, por exemplo, a queda de Muammar Gaddafi na Líbia elevou o barril de US$ 93 para US$ 130, agravando a crise da dívida europeia.

Com o Irã em guerra, sob sanções e agora sob ataque direto de Israel e dos EUA, o risco geopolítico atinge seu ponto mais alto em anos. Para os mercados, um colapso de Teerã pode ser o estopim de um novo superciclo de alta no petróleo.

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